08/05/13

Palavras da Professora Clotilde Mota

Transcrevemos abaixo partes do texto que a professora Clotilde preparou como orientação para o encontro com os seus antigos alunos do 8º2ª e do 7º3ª!!!!! 

  

"Inicio este momento agradecendo a todos os meus alunos por estarem hoje aqui, quero agradecer aos professores que prescindiram de dar as suas aulas para virem acompanhar os meninos e as meninas, quero agradecer ao professor Nelson que, em prejuízo do seu tempo de lazer e de descanso, decidiu também estar aqui.


Quero agradecer as palavras calorosas e simpáticas do professor Joaquim Marques, que muitos de vocês já conhecem, e que, mesmo não pertencendo ao corpo docente deste agrupamento, se disponibilizou também prontamente para estar hoje aqui, neste espaço que ele já conhece há alguns aninhos.


Quero agradecer sinceramente à professora Filipa, responsável por este espaço onde nos encontramos hoje, por ter concordado e condescendido com o que o aluno Tomás Vicente lhe propôs, e que está a ser concretizado aqui e agora.


Este lugar, esta Biblioteca Escolar, aliás como qualquer outra Biblioteca, é um espaço de cultura, de reflexão, de trabalho, mas a verdade é que deve ser entendido também como um espaço de prazer, de deleite, de alegria e cabe a cada um de nós saber tirar o maior e o melhor partido.


Imaginem, meus queridos alunos, a vossa satisfação quando, após investigação morosa e exaustiva (feita aqui neste lugar) para a concretização de um trabalho de grupo (ou não), o professor, que vos incumbiu dessa tarefa, vos informa que obtiveram nesse trabalho a avaliação de Bom, de Muito Bom ou, melhor ainda, de Excelente! Não sentirão, por ventura, alegria por terem dedicado, neste lugar, insisto, algum tempo que vos conduziu a tal sucesso? Claro que sim e por isso é que eu disse que uma Biblioteca é também um espaço de prazer, de alegria.

E continuando com os meus agradecimentos, quero ainda dar uma palavrinha de reconhecimento às senhoras funcionárias da reprografia que tiveram um trabalho enorme com todas as impressões que tiveram que fazer, mercê de todos os trabalhos de escrita que os meus alunos produziram. (...)


Quero partilhar este momento com todos os meus colegas professores desta escola que, de um modo ou de outro, me ajudaram a concretizar alguns dos trabalhos hoje aqui expostos.


Gostava de salientar o nome da professora Maria da Luz Moreira que no ano letivo de 2008/2009 lecionou nesta escola a disciplina de História (...)


Nesse ano organizei o jornal de escola O Telhas, mas apenas no 3º. Período. Vários fatores impediram que se tivesse trabalhado nos outros dois períodos escolares. À semelhança de todos os outros trabalhos, esse jornal também está aí em exposição(...) teve como base de registo técnico um programa cujo nome é Pagemaker  e de que, sinceramente, eu não percebia nada, patavina, aprendi  depois um pouco, no entanto, força das circunstâncias, penso que já me esqueci de como funciona. Foi a Profª. Maria da Luz Moreira que preparou todo o esquema para que o jornal fosse um sucesso, em termos de estética. (...)

Agora, para terminar os agradecimentos, vou recorrer a um provérbio popular, e vocês sabem, porque vos disse inúmeras vezes nas aulas, como eu gosto de usar os provérbios para mostrar a voz da sensibilidade, mas também a voz da razão. Como «os últimos são os primeiros», eu quero agradecer muito particularmente ao meu querido aluno Tomás Vicente por ter feito com que este encontro fosse uma realidade. Sei que organizou tudo isto de forma espontânea e muito carinhosa, com prejuízo para o seu trabalho, com algum dano para o estudo das matérias difíceis do 12º. Ano. No entanto, isso deixa-me muito, muito feliz. Mas acreditem que quando ele me comunicou da sua vontade, eu dei-lhe conta da minha preocupação, pois não queria de modo nenhum que ele saísse lesado com tanto trabalho. Muito obrigada Tomás! O Tomás achou que, na área da escrita, trabalhei muito com os alunos, que publicámos «umas coisas» em número muito razoável, coisas essas que deviam ser relembradas à comunidade escolar. Mais uma vez, muito obrigada Tomás. Ter-te como aluno foi um privilégio. Ter-te como amigo é fabulástico!
(...) Acho que vocês ficaram a pensar na palavra fabulástico, não foi?


FABULÁSTICO! Não, não é propriamente um neologismo, porque de vez em quando ouve-se este «palavrão». Como sabem, ele resulta da junção dos vocábulos: «fabuloso» e «fantástico».  Não fui verificar se este vocábulo já está inserido no último Dicionário da Academia das Ciências, o que sei é que o PC sublinha-o a vermelho…logo, ainda não é reconhecido como existindo oficialmente, mas descansem que, ao passo a que as coisas andam, ele sê-lo-á, mais dia, menos dia.

Para os meus meninos do 8º. Ano. Lembram-se de vos ter falado num escritor Moçambicano, Mia Couto, que é célebre por ter criado muitos neologismos, nomeadamente numa coletânea de contos com o título Histórias abensonhadas?


Hoje, aqui e agora, é mesmo o momento de comemorar vitórias, recordando  todas as emoções que já vivemos, não acham?


Mas quem é que vocês acham que é/foi a personagem principal para que possamos estar, hoje, aqui reunidos a comemorar o resultado de todas essas produções escritas? Exatamente, a personagem principal é/foi o coletivo designado por turma, e que corresponde ao conjunto de alunos que, às vezes contrariados, é verdade, produziu esses textos, e muitos são verdadeiras peças de arte. Até vos digo mais, num ano em que lecionei numa escola aqui perto de nós, a Porto Editora, a meu pedido, publicou na Net o «livrinho» que organizei nesse ano com os alunos: O Diário de José Maria Camolas Bru de Tamontes. Foi FABULÁSTICO!


(...) Então digam-me lá, para cumprirem e ultrapassarem alguns desafios, neste caso desafios da escrita, ou seja, produzir um texto a partir de uma informação, de uma frase, de um desenho, como é que vocês poderão ter menos dificuldades, o que é que vos pode ajudar a ultrapassar as dificuldades?  

EXATAMENTE! LENDO! Se vocês tiverem o hábito de ler, vão conseguir armazenar informação, ter ideias, arranjar truques de escrita, por exemplo, recuar e avançar na história sem prejuízo para o trabalho que estão a desenvolver. Antes pelo contrário, vão enriquecer e muito, o vosso trabalho. É algo que se cultiva (...) O nosso gosto pela leitura vai  crescendo  «au fur et à mesure»  da nossa vontade e interesse por essa mesma leitura. (...)

Há dias estava a ver um programa de televisão, era um programa musical. O grupo era Os Deolinda e o apresentador comunicou que eles iam cantar o tema cujo título era Concordância. (...) A letra desta canção trata de questões de gramática: análise sintática, classes de palavras… É uma letra que revela, naturalmente, conhecimento de algumas áreas da gramática da língua portuguesa mas revela também muita imaginação.

Pesquisei na NET e eis a letra que encontrei, está projetada 


(....)*

Reparem na graça e no consequente interesse desta canção. Não acham que a letra (...) proporciona uma boa maneira de se aprender, por exemplo, as classes de palavras e perceber a sintaxe (...)?


(...) Há uma área da cultura designada por Cultura Clássica que refere, entre muitas outras coisas, claro, uns filósofos que respondem pelo nome de Sofistas. Eles achavam que sabiam tudo, Mas havia numa outra corrente (...) um senhor de nome Sócrates (...) dizia


«Só sei que nada sei»


Nos nossos dias, passados mais de dois milénios, acho que não precisamos de ser tão modestos e (...) podemos admitir que "sabemos alguma coisa". Afinal, não é muito difícil saber um pouco e isso consegue-se através de quê, meninos? Claro, através da leitura. Naturalmente, é necessário, e normal, que tenhamos dúvidas. (...) E é a dúvida, não a certeza, que faz o conhecimento progredir. O que é que nós fazemos quando temos dúvidas? Isso mesmo, queremos esclarecê-las, não porque saibamos pouco, mas porque não temos a certeza se o que sabemos corresponde à realidade.

Há uma frase célebre de Fernando Pessoa que é retirada do poema INFANTE (primeiro verso, primeira estrofe) que diz o seguinte:

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.


O  que é que vocês acham que  FERNANDO PESSOA quer dizer com isto? Ele refere Deus, refere o homem, e refere a obra. Aqui verificamos que Fernando Pessoa não se refere a nenhum homem em particular, mas sim à HUMANIDADE! O poeta  acha que desde que nós queiramos, conseguimos tudo, tal como refere o provérbio: QUERER É PODER! Nada é impossível! (...)

Apesar de vocês perceberem que é necessário ler, ler, ler, alguns ainda dirão que ler é uma grande seca! Não é? Olhem, tenho aqui um livro (...) Como um romance. Lembram-se, eu ensinei-vos como devem  tentar perceber o conteúdo de um livro: através do título, das cores, dos desenhos da capa e contracapa (...) Reparem no que diz a cinta que envolve este livro: «Se quer que o seu filho leia, não deixe de ler este livro»

Na verdade, a capa deste livro e as cores que a envolvem não favorecem muitas hipóteses de descodificação para o conteúdo do mesmo, por isso eu vou ler-vos algumas passagens, página 11: « O verbo ler não suporta o imperativo. É uma aversão que compartilha com outros: o verbo «amar»… o verbo «sonhar»…

É evidente que se pode sempre tentar. Vejamos: “Ama-me!”, “Sonha!”, “Lê!”, “Lê, já te disse!”.

“–Vai para o teu quarto e lê!”

-Resultado?

-Nada.»

E na página 13: «Esta aversão à leitura é ainda mais inconcebível, se pertencemos a uma geração, a uma época, a um meio, a uma família em que a tendência era exatamente para nos impedir que lêssemos.

-Pára de ler, vais estragar os olhos! – Vai lá para fora  brincar, está um dia lindo. /-Apaga a luz ! Já é tarde!» 

(...) Como o tempo já vai longo, e antes de terminar, quero dizer-vos que tenho aqui uma surpresazinha. Cada um de vocês, cada aluno do 7º. e do 8º. Ano, vai tirar um papelinho destes sacos. Haverá apenas um papelinho premiado: será um livro, mas …para os vossos pais. É um livro muito interessante. Vão ver.


E termino com uma frase de outro filosofo de nome Descartes, que dizia «penso, logo existo». Este filosofo aconselhava duvidar ao menos uma vez na vida, para nos desfazermos dos preconceitos que atrapalham o saber. Cada vez se estuda mais e cada vez mais temos mais dúvidas e isso acontece porque somos humanos e porque somos muito exigentes connosco próprios.

Assim, parece óbvio que o caminho que devemos seguir é: o caminho da razão, da lógica. É a razão que levanta as dúvidas que depois vão ser esclarecidas através da leitura, através da experiência (tal como dizia Luís de Camões: relativamente à sua sapiência: «saber de experiência feito»), permitindo aumentar o nosso conhecimento."

Professora Clotilde Mota

*Nota: Não reproduzimos aqui o poema transcrito pela professora Clotilde porque o mesmo é muito grande e já se encontra publicado no blogue (data: 7 de Maio de 2013, com o título "Concordância"

Sem comentários:

Enviar um comentário