30/11/11

Peditório - Abraço!


Na tua Biblioteca Escolar está a ser feita um peditório em prol da Abraço, para ajudar as pessoas com sida, que, muitas vezes, não recebem o auxílio e a atenção devida e que, como todos os seres humanos, merecem ser ajudadas. 

Não te esqueças de passar por aqui e dar o teu contributo: nem que seja pequeno, o teu contributo faz a diferença!

Ajuda a Abraço a abraçar toda a Humanidade!

29/11/11

Fado - Património Imaterial da Humanidade


O fado, o nosso bom fado, foi agora promovido a Património Imaterial da Humanidade! Já não era sem tempo...já estava bem na altura de esta arte tão portuguesa (com certeza!) ser elevada ao grau que merece!

A decisão tem suscitado uma vaga de contentamento por parte dos fadistas e dos apreciadores do fado, como seria de esperar, e também foi tema de mensagens e discursos, tanto do presidente da Câmara de Lisboa como do Presidente da República, que diz ser este um novo motivo de orgulho para o povo português.

Foi no dia 12 de Maio de 2010 que a candidatura do Fado a Património Mundial da Humanidade foi aprovada por unanimidade na Câmara de Lisboa e, agora, depois da reunião do comité da UNESCO para esse fim, a 27 de Novembro!

E, agora, pretendendo completar, a um nível mais particular no contexto da nossa escola, aqui fica um poema de fado escrito pelo professor Joaquim Marques:

Fala de Inês para  Pedro

Dão-me a morte por te querer

E tiram-me o céu também

O mal que me faz morrer

É o mal de te querer bem



Se meus  beijos condenados

Não sabem dos teus perdidos

Antes meus olhos fechados

Do que em alerta os sentidos

Antes o coração em ferida
Que de ti as mãos vazias
Antes  não ter minha a vida
Que de ti não ter teus dias

 Se me levam teus abraços
Eu pela morte imploro
Se não te dão os meus passos
- Corra meu sangue e teu choro!

Nota: Os pastéis de Belém apoiaram a candidatura do fado a Património da Humanidade de uma maneira muito original...ora espreita aqui!
E, se quiseres saber mais sobre este assunto, vai ao Museu do Fado!


SABER MAIS!

25/11/11

Faleceu Lynn Margulis


Lynn Margulis

(1938 - 2011)


...a responsável pela teoria endossimbiótica...

No dia 22 de Novembro, morreu a cientista Lynn Margulis, bióloga e professora na Universidade de Chicago. Esta eminente cientista foi a responsável pela Teoria Endossimbiótica, que veio revolucionar a compreensão da comunidade científica de como se formaram as células eucarióticas. Muito se deve, no âmbito da Biologia, a esta investigadora persistente e dedicada, que defendeu sempre aquilo que considerava ser a verdade, mesmo nos momentos mais difíceis, em que não era apoiada por ninguém. Recorde-se que o seu primeiro artigo sobre a sua grande teoria foi recusado por 15 revistas científicas...

22/11/11

Lembrando C.S.Lewis




A 22 de Novembro de 1963, John Fitzgerald Kennedy, presidente dos Estados Unidos da América, foi assassinado em Dallas, no Texas. Este acontecimento, que influenciou o curso de importantes acontecimentos a uma escala relativamente vasta (poder-se-á dizer isto assim?), ofuscou a cobertura mediática de outros dois óbitos célebres. No mesmo dia em que o presidente americano era morto a tiro, Aldous Huxley morria em Los Angeles e Clive Staples Lewis, professor universitário, escritor, filósofo, filólogo e teólogo irlandês, falecia, aos 64 anos de idade, em Oxford.

Com todo o devido respeito pelas figuras de Kennedy e Huxley, hoje pretendemos lembrar sobretudo Lewis, o qual desempenhou, durante a guerra, um papel memorável que lhe valeu o epíteto de "apóstolo dos cépticos", no seguimento das várias palestras que proferiu através da rádio BBC, com o objectivo de motivar os ouvintes, de lhes dar ânimo para enfrentar as dificuldades através da devoção e confiança na fé cristã.

Lewis, nascido em Belfast a 29 de Novembro de 1898, fez carreira como professor e filólogo, ensinando em Oxford e em Cambridge, tendo também participado na Primeira Guerra Mundial, a qual muito o marcou, tal como a muitos autores desse tempo.

Chegado a Oxford como professor, conheceu J. R. R. Tolkien, de quem se tornou amigo chegado e o qual contribuiu para o reconduzir na fé cristã, uma vez que Lewis, abandonado o protestantismo da sua infância, tinha caído no ateísmo. Foi na noite de 19 de Setembro de 1931, durante uma longa conversa com Tolkien e Hugo Dyson, que Lewis foi forçado a rever a sua posição religiosa, face à brilhante exposição que Tolkien fizera da sua chamada "filosofia do mito".

Lewis foi, sobretudo desde então, um autor prolífico, que escrevia muito em pouco tempo. Dedicou-se a passar a mensagem cristã (satirizando até a sua própria igreja, a Igreja Anglicana, pela perda dos valores fundamentais do cristianismo, num livro chamado Mere Christianity), mas também contribuiu notavelmente em campos académicos da sua área e até na própria filosofia, ainda que sempre acerca de assuntos religiosos.

Não havendo tempo para dizer mais sobre este homem notável (mais, por vezes, inconstante) que foi Clive Staples Lewis, aqui fica um conselho para que leiam a sua obra, da qual faz parte a encantadora série As Crónicas de Nárnia.

Tomás Vicente

21/11/11

Um Executor Literário Dedicado



Christopher Tolkien, que hoje comemora o seu 87º aniversário, tem sido, desde a morte do seu pai, J.R.R.Tolkien, em 1973, o seu executor literário, responsável pela publicação de muitas das suas obras que, aquando da morte do autor, estavam virtualmente acabadas.

J.R.R.Tolkien era um perfeccionista e a sua escrita denota um cuidado excepcional, refinado pelos seus vastíssimos conhecimentos nas áreas da Língua e da Literatura (Tolkien foi um dos maiores filólogos de sempre, ainda que essa sua faceta fique, agora, à sombra da de autor consagrado). Assim, a elaboração de cada um dos seus livros (ou mesmo de cada uma das partes dos mesmo, em separado) era um processo demorado, mas que avançava com método.

Por isso, não conseguiu dar por concluídas muitas das suas obras (e também aconteceu perdê-las no meio do vasto acervo que foi produzindo, como foi o caso do último livro a sair, A Lenda de Sigurd e Gudrún, que Tolkien escreveu na década de 30 e que, cerca de quarenta anos mais tarde procurava afincadamente, para mostrar o trabalho a um amigo filólogo - morreu sem voltar a encontrar estes seus dois grandes poemas.). A título de exemplo, menciono O Silmarillion, que é disso o exemplo mais flagrante, pois Tolkien começou a escrevê-lo aos vinte e quatro anos, em 1916, nas horas vagas entre os exercícios militares (embarcou para o Somme pouco depois), e, muitas décadas mais tarde, já idoso, na casa dos oitenta, ainda revia e corrigia o texto, procurando sempre refundir e aumentar o pano de fundo da história e os seus aspectos fundamentais, essenciais na sua sub-criação e o pilar da sua obra, renovando e aprofundando a filosofia da sua obra-prima. Há ainda o clássico exemplo de O Senhor dos Anéis, que comparado com a obra anteriormente mencionada parece ter sido escrito à velocidade de uma rajada de vento, que foi escrito entre 1936, quando O Hobbit já estava em fase terminal, e 1955, data em que saiu do prelo o terceiro volume, com os seus vastos apêndices.

Assim, chegado a uma idade mais madura, Tolkien ter-se-á apercebido de que não conseguiria preparar para publicação todas as suas histórias que tinham passado a fase do rascunho. Nomeia então o seu terceiro filho, desde sempre o seu braço direito na escrita, como seu executor literário.

Foi desta maneira que, em 1973, Christopher Tolkien ficou com a "caixa de Pandora" do pai nas mãos. Reformou-se em 1975 e retirou-se para uma casa do campo em França, possivelmente (conjectura minha) para alcançar paz que lhe permitisse entregar-se exclusivamente a organizar, compilar, e editar (em edições comentadas enriquecidas com explicações muito úteis) a obra do seu pai que ficara por publicar.

Nunca poupei nem virei nunca a poupar elogios ao trabalho de J.R.R.Tolkien, que acho acima de tudo quanto li até hoje, mas agora quero aqui fazer menção, especialmente, ao merecimento do seu filho (com idade, nos dias que correm, para ser meu avô!). Pois não é uma demonstração extraordinária de abnegação e de dedicação o que ele tem feito? Não é espantoso como alguém teve a força de espírito para abandonar a carreira académica promissora (com a idade de 51 anos) para se dedicar a levar a um termo as pontas soltas da grande tapeçaria urdida por outra pessoa (mesmo sendo o próprio pai!)? E, o que é mais, fazê-lo infatigavelmente durante quase quatro décadas?

Aos 87 anos, Christopher Tolkien não dá indícios de querer abrandar a dedicação ao projecto que lhe tem ocupado os últimos trinta e oito anos. Pela minha parte, como leitor, muito agradecido estou por isso, pois muitas são as maravilhas que vão sendo dadas ao prelo. Como pessoa, aqui deixo o meu agradecimento a este homem de vontade férrea e incansável e o meu incentivo para que continue o excelente trabalho que tem feito!

MUITO OBRIGADO!

Tomás Vicente

12/11/11

São Martinho a... 11/11/11



O que comemoramos hoje...

Dia 11 de Novembro é o dia de S. Martinho, um santo dos primórdios do cristianismo (nasceu no ano 316 e morreu em Novembro de 397) que ficou conhecido, entre outros milagres e boas acções, por ter dividido a sua capa com um pobre mendigo numa noite de temporal. Este é o "santo do Inverno", cujo dia vem para nos anunciar o frio, e a chuva e para nos reavivar na memória o conforto que sentimos ao agarrar num cartuxo de castanhas "quentes e boas" e ao desfrutarmos de um bom livro no aconchego quentinho da nossa biblioteca!

Cá na escola houve um magusto, com os já habituais vendedores de castanhas, que nos deliciaram ao impregnar o nosso pátio com o delicioso cheiro das castanhas a assar nos assadores, e a já costumeira e visão de cascas de castanha espalhadas pelo pátio, sem a qual o nosso S. Martinho ficaria descaracterizado...como uma festa sem balões rebentados! Para saberes mais sobre esta época do ano, dá uma espreitadela este blogue sobre S. Martinho e as castanhas, é muito divertido: http://smartinho.blogspot.com/

Além disso, hoje é também um dia especial...11 de Novembro (mês 11) de 2011! Não é todos os dias que isto acontece! Agora só teremos 12 de Dezembro de 2012!

"No meio de um frio de rachar
(que ainda não veio o verão prometido),
Melhores do que tudo o que se tem comido,
Vêm as castanhas para nos consolar
E ao Sr. Inverno anunciar!

São quente e boas,
Em cartuchos de papel de jornal;
Em tempos idos eram os pães e as broas,
Mas uma mudança não acharam mal
E agora são gulodices que se comem
A olhar o céu no pátio da escola;
As horas e os minutos se somem
Esquecem-se os livros e a sacola;

Na companhia das histórias antigas,
Sentindo nas mãos o suave calorzinho
Lembramos agora S. Martinho
Que, para o aquecer em noite de temporal,
Dividiu a capa com um pobrezinho..."
poema de Tomás Vicente

09/11/11

Concursos 2012


6ª EDIÇÃO DO CONCURSO...

...subordinado ao tema "Um Portugal Melhor", que premeia a criatividade e a compreensão dos alunos do Pré-Escolar e dos 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico!



As inscrições  já abriram...AQUI pode-se ler o Regulamento.

INFORMA-TE NA TUA BE ou junto dos teus professores!!!



08/11/11

C...de Criatividade!



O Grande C é um concurso que promove a criatividade entre jovens dos 12 aos 20 anos, em áreas como as Escrita Criativa ou a Música...são várias as categorias em que te podes inscrever! Para conheceres o regulamento completo do concurso clica AQUI. Não percas tempo, dá asas à imaginação, deixa-te levar pela magnífica experiência que é criar! 

Não percas esta oportunidade...

...porque ler é voar e...
...criar é sonhar!...

07/11/11

Madame Curie

Marie Curie faz hoje 144 anos. Fez importantes descobertas na área da radioatividade e foi a primeira mulher a ganhar um Nobel de Física ao lado do marido Pierre Curie e de Henri Becquerel,  em 1903.   Oito anos mais tarde conquistou sozinha o Nobel de Química.


"Cada pessoa deve trabalhar para o seu aperfeiçoamento e, ao mesmo tempo, participar da responsabilidade coletiva por toda a humanidade. " Marie Curie

Ler +


Maria Sklodowska, conhecida como Marie Curie, foi uma pioneira: nunca antes uma mulher nomeada professora de Física Geral na Faculdade de Ciências da Sorbonne; foi a primeira mulher nomeada para a Academia das Ciências de Paris; foi a primeira mulher receber um Nobel...e ainda por cima a única pessoa a recebê-lo duas vezes em áreas científicas (Química e Física). 

Como se nota pelos meus textos aqui publicados, eu não sou o fã número um da Física ou da Química...longe disso. Mas não preciso disso para afirmar que Maria Sklodowska (sempre preferi o nome polaco ao francês, vá-se lá saber porquê!) foi uma das pessoas mais notáveis que já existiram. Pondo de parte os seus mais que badalados dois Prémios Nobel (e muito boa gente que mata e esfola só para ter um!), ficam num pedestal mais visível a sua férrea determinação, a sua persistência, a sua força de vontade indómita (sem a qual não conseguiria ter sobrevivido num meio como aquele em que fez carreira), a o seu espírito humano, etc.

Pondo a Ciência do lado de fora da porta, esta cientista merece ser sempre recordada por aquilo que simboliza: não um estandarte ou um cavalo de batalha para os mais acérrimos defensores destas áreas científicas mas um exemplo de ser humano, de alguém que ergueu a cabeça e não desistiu (curvar os ombros é sempre mais fácil do que endireitá-los...o mérito está aí) e que, o que é mais, deu um generoso contributo à Humanidade. E a Humanidade tem de fazer por merecê-lo...a este e a tantos outros. Honremos hoje e sempre a memória de alguém que, além de uma grande cientista, foi uma grande mulher. Que nunca o mundo se esqueça do nome de Maria Sklodowska!

Tomás Vicente

05/11/11

Dia da Ciência



Ciência significa, etimologicamente, «conhecimento», daí que o termo possa ser empregue para designar qualquer ramo do saber. Na actualidade, no entanto, parece ter-se cingido, na linguagem corrente, a matérias como a Física.

Este tipo particular de ciência tem, nos dias de hoje, uma influência imensa na sociedade. É quase impossível viver um dia que seja sem que sejamos confrontados com a propaganda a novas pesquisas ou novas descobertas. Estando omnipresente na vida das pessoas, tornou-se parte da cultura de massas e, penso eu, menos ciente. É preciso vigiar atentamente o polvo, que é o maior traidor do mar, ou poderemos acabar por nos ver presos nos seus tentáculos.

Isto conduz a um outro ponto, que é a relação entre Ciência e Ética Social. Para formar uma opinião acerca de temas como a clonagem, é preciso ponderar cuidadosamente a relação entre Homem e Ciência e decidir se qual deles é o artesão e qual a ferramenta. Devemos optar, creio, por considerar a Ciência uma ferramenta e, nesse caso, conclui-se facilmente que esta só é benéfica enquanto trabalhar em prol do bem do Homem. E mexer com a essência da vida é algo a quem nem mesmo este deveria atrever-se.

Claro que é preciso apostar no desenvolvimento científico, tanto mais que este é uma mais-valia para o desenvolvimento. Mas desenvolvimento é sempre progresso e devemos ter cautela e considerar se, entre perdas e ganhos, valerá a pena. Não esqueçamos que progresso por simples progresso não é desejável, é algo pernicioso. E, se a corrida a novas descobertas se tornar uma loucura e trouxer mais problemas que aqueles que resolve, então é chegada a altura de dizer basta!

Em suma, a Ciência tanto pode ser uma vantagem como um atroz malefício. É preciso tratá-la com cautela; precisamos, talvez, de mais ciência e menos Ciência.

Tomás Vicente 

02/11/11

Fragmento poético

Se os olhos são cegos,
deixai-os ser
que assim nada têm
com que se entristecer.
Se a alma não abrir os olhos
para o ódio, julgá-lo-á amor
e viverá melhor também,
na inocência de não saber
das trevas e só conhecendo a luz

do claro dia.
T.F.

01/11/11

Apresentação do Sr. Eliot - crónica do mês


Um acontecimento literário significativo é, por estes tempos, marcante na actividade editorial e crítica. Tornou-se impressionante a sucessão de louvores e de prémios (nacionais e internacionais) atribuídos a Gonçalo M. Tavares.

Este novo autor português, o “novo” aqui referindo-se à idade é tão impositivo que o obriga a ser também novidade editorial e literária, já fez incursões escritas sob todas as formas, poesia teatro, romance, ensaio e sempre com enorme aceitação.

Autores como Saramago e Lobo Antunes, por exemplo, referiram-se à sua escrita em termos elogiosos.
Fenómeno de aceitação tão ruidosa e imediata como o de Gonçalo M. Tavares, assim mais recentemente recordo-me do sucedido com José Luís Peixoto, que com a Publicação do excelente Morreste-me, deste mesmo modo suscitou, então, extraordinário aplauso.

Numa consideração que tem muito de subjectiva, creio que, pelo menos na forma como o leio, nunca este autor veio a conseguir depois a qualidade de escrita e intensidade emocional que com aquela obra apresentou.

Poderá o mesmo vir acontecer com Gonçalo M. Tavares? Talvez sim, talvez não, pois neste momento ainda não sei deste escritor o merecimento de tanto e entusiástico aplauso. Apenas li do autor um pequeno livro aconselhado por crítica (quase sempre é assim que faço as minhas escolhas literárias, cinéfilas e demais artísticas).

E é desse livro que aqui venho falar, tal a surpresa e a estranheza que me causou. Explico melhor, acho eu. Esta crónica não é tanto para considerar sobre a excelência de um escritor, o que me escapa, mas para lhes contar do desconcerto de um livro.
Passo então a relatar;

O senhor Eliot é um conferencista que, perante um público geralmente reduzido, de que os Srs. Breton, Borges e Balzac, por exemplo, fazem sempre parte, analisa um verso de um poeta, disseca-o e denuncia todas as suas alegadas incoerências. E porque acontece isto ? Porque o Sr. Eliot tem desenvolvido, a um ponto extremo, a antítese da percepção e do dizer poéticos.

A leitura das comunicações feitas nas suas conferências deixam-me aterrado – tanto mais quanto tenho alguma poesia editada – pois nunca supus que tal destruição e drenagem dos húmidos e férteis vales poéticos pudesse ser feita. Às passagens do Sr. Eliot os versos mirram e os poetas morrem,
(E este último período saiu-me muito bem.)

No livro de Gonçalo M. Tavares – O Senhor Eliot e as conferências - são analisados, melhor devastados, versos de poetas como Char, Meireles, ou Auden .
Pois, meus caros leitores, fiquei de tal forma impressionado com o figurão, que não resisti a imitar este Sr. Eliot. Repito, o que se segue é uma imitação, bem intencionada da minha parte, de Gonçalo M. Tavares. (E por falar em imitações, também faço uma muito boa do Dr. Hannibal Lecter – quid pro quo Clarice – mas isso agora não interessa nada.)



Como seria se o Sr. Eliot analisasse um verso de Luís de Camões ?

Perante uma Plateia muito reduzida o Sr.Manganelli apresentou o Sr. Eliot que começou a sua comunicação já com um atraso considerável.
Amor é fogo que arde sem se ver de Luís de Camões

A definição é enciclopédica. Consigo imaginar alguém que vá folheando as primeiras páginas do seu Dicionário enquanto se auto-motiva “ Ora deixa cá ver amor.. amor.. Ah cá está; fogo que arde sem se ver".
Ora, esta definição tem pouco, diz pouco e deixa muito por explicar.
O verso tem redundância. “Fogo que arde “. Que se saiba, e a não ser que o poeta escondesse alquimística informação privilegiada, todo o fogo arde. É mesmo essa a sua condição de ser fogo.
Ora, torna-se muito interessante ver aqui a antecipação de um problema lógico e epistemológico que Karl Popper viria a colocar no século XX. Se se pretender provar que todos os corvos são pretos, não devemos procurar o milionésimo sexto corvo que o seja, mas o primeiro que não o é. Depois o problema está em saber se um corvo que não fosse preto era ainda um corvo…
Por isso no verso de Camões O fogo arde num desperdício semântico e ontológico. Poderia o vate ter-se ficado pelo O amor é fogo, que logo se tinha explicado.
Mas falta ainda saber porque privilegiou o poeta este elemento natural e significativo, sobre outros. Porque não é o amor, chuva que cai ou aroma que cheira?
Os problemas estão longe de acabar aqui, porque depois vem o sem se ver. Ora se é sem se ver, o amor tanto pode ser fogo, como uns atacadores de sapatos.. Se não se vê, sabe-se lá o que é.
E não se vendo como se sabe que é fogo? Estamos aqui não só a negar, já não digo uma objectividade referencial da realidade, mas mais, a própria condição da intersubjectividade fenomenológica como a razão necessária, a que nos queríamos, desesperados, agarrar, para a viabilidade do conhecimento.
Dizer peremptoriamente que o fogo arde sem se ver, constitui a mais radical afirmação solipsista proferida na História da Filosofia Ocidental. Nem Platão, nem Leibniz foram tão longe.
Por tudo isto, o que proponho é que o verso camoniano passe a ter a seguinte redacção:
 O amor é o que seja. Desde que se veja.



Joaquim Marques