31/05/14

A letra P

[composição que tem circulado anónima nas redes sociais; todas as palavras começam com um P! ora vê como a língua portuguesa é cheia de mistérios e recursos]


Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir. 
Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas. 
Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris. 
Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas. 
Pisando Paris, pediu permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se. 
Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses. - Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo. Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir. Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, papai Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para papai Procópio para prosseguir praticando pinturas. 
Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu: Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias? Papai - proferiu Pedro Paulo - pinto porque permitiste, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal. 
Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. 
Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro. Pisando por pedras pontudas, papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito. 
Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo. Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo pereceu pintando... 
Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar... Para parar preciso pensar. 
Pensei. Portanto, pronto pararei.



84ª Feira do Livro de Lisboa

29/05/14

Nascimento de um golfinho


Poemas - 1

Noite
A janela aberta para a lua
Recebe, indulgente, a fluida prata derretida,
Sobre os pinheiros docemente vertida,
Detentora de uma cintilante beleza só sua,
Tímida magia, verde e prateada, pura.
Infiltra-se no quarto cansado,
Anunciando o regresso desejado
Daquela que da lua segura
O braço firme e sedoso do encanto,
Tão tocante na sua doçura de mel
Que até Natura tomada é de alegre pranto.
Logo, para meu maravilhado espanto,
Entra a nocturna brisa suave,
Que dança no quarto como no céu ave;
No ar navegam folhas forasteiras
Que, revolteando na minha clareira,
Desenham no ar um sublime rosto belo
Ornado pelo longo e luzidio cabelo;
Afasta-se, depois, essa fulgurante cortina,
Ondulante como a erva alta ao vento,
E revelada é a esguia forma corporal,
No meu dormente mundo sem igual,
De uma bela dríade, de contentamento
Rindo formosamente ao luar,
Para dela loucamente se enamorar
O meu coração, em alegre esquecimento.

A miragem aproximou-se, meiga, assim,
Murmurando encantamentos sem fim;
Doce me estendeu a mão de seda,
Cuidando, talvez, que não mais queda
A deixasse permanecer, longe do coração.
Definitivamente rendido a ela fiquei então,
Como se houvéssemos travado fera luta
E na derrota total se alegrasse o vencido,
Pois ela entoou um cântico maravilhoso
Cujos acordes encantados no ouvido saudoso
Permanecerão até á hora, derradeira, da morte,
Que ao longe vislumbro nesta voz de vidente,
Como brilhantes águas resplandecente;
Mas me não apoquente esse fim ou sorte
A quem tal ouviu, pois mais forte
Que os destinos do mundo fremente
Se julga quem agraciado é com o dom
De ouvir da sua cristalina voz o som.
Ai de mim, que, cego às maravilhas de Flora
Inflamadas no canto da minha ave canora,
Magnífica e cegamente subjugado
De quem cuida do florestal gado.

Findo o excelso canto florestal
Daquela bela voz pura, virginal,
A dríade dançante inclinou os cabelos
Lisos, macios, perfumados e belos,
Onde cheirei o odor da minha vida
E da longeva felicidade prometida.
Então ela, que tinha o meu destino feito,
Estirou-se a meu lado no leito
E eu, fraco e sujeito a fadigas e medos,
Eu, o mais ínfimo dos homens mortais,
Deixei-nos ficar sublimemente quedos,
Os destinos para sempre entrelaçados,
E firmemente no âmago da noite abraçados,
Até o sol cruel tristemente me despertar
E o meu sonho apaixonado acabar.

Sem palavras proferidas conversei
Com a Donzela da Noite nesse curto momento,
Tão pequeno para tão pleno sentimento.
Dela chamamentos sem fim ouvi;
Dela a voz dos regatos, emocionado, escutei,
Da erva verde nos prados os estremecimentos senti;
Dela os mil nomes dos ventos conheci
E respirei das árvores os batimentos vitais,
Cálidos e carinhosos sussurros vegetais;
Sempre desde então o reencontro desejei.
Por uma efémera e doce noite paixão
Ardente senti, pela dríade, minha amante
E agora, para toda a minha vida,
Amo a transcendente Natura vibrante.

 Tomás Vicente (ex-aluno)
















17/05/14

ATENÇÃO! - Cuidados a ter ao trabalhar ao computador!


Ulisses e Polifemo

[apresentamos abaixo uma adaptação teatral do episódio da Gruta de Polifemo, retirado do livro Ulisses, de Maria Alberta Menéres, feita pelo nosso ex-aluno Tomás Vicente]


Ulisses e Polifemo

Acto I
Ulisses e os seus marinheiros regressam a casa depois da guerra de Tróia, que demorou dez anos. Na viagem de regresso, são desviados da rota para Ítaca e chegam ao arquipélago da Ciclópia, onde vivem os ciclopes, filhos de Posídon. Passam ao largo de uma das ilhas e Ulisses dá ordens para que ancorem o navio. Os marinheiros estão aterrados pela ideia de monstros enormes com um só olho na testa mas Ulisses diz…

Cena I
Ulisses – Não tenhais medo! Eu conheço este arquipélago, pois já aqui passei ao largo antes! Esta é a única ilha em toda a Ciclópia que não é habitada!


Acto II
         Os marinheiros desembarcam e começam a explorar a ilha em busca de comida e de uma nascente de água doce. Ulisses ordena-lhes que tragam com eles um dos barris de vinho que têm a bordo, para o caso de pernoitarem em terra. Quando o sol atingiu o zénite, procuraram abrigo numa gruta e adormeceram. Só despertaram ao anoitecer e, quando se preparavam para correr de volta ao navio, foram apanhados de surpresa pela entrada de um grande rebanho e dum enorme ciclope. Este gigante chamava-se Polifemo e tinha sido mandado para ali pelos seus irmãos por causa do seu mau génio inigualável e da sua ferocidade, que assustava até os seus semelhantes.

Cena I

Marinheiros – (assustados) Um ciclope! Um ciclope!

Polifemo – (acordando) Homens! HOMENS! HOMENS! Arrggg…! (pega num pedregulho enorme de sela a entrada da gruta)

(Os marinheiros apavorados começam a correr em todas as direcções, enquanto o monstro os vai apanhando um a um e, num piscar de olhos, os faz desaparecer pela sua goela abaixo…tantos devorou que teve de sentar. Ulisses, sempre astuto, vendo-o mais calmo, acercou-se dele)

Ulisses – (fingindo admiração e reverência) Ó grande ciclope, não me comas! Tenho uma oferenda para te fazer.

Polifemo – Oferenda? Que é isso? Que me queres tu? Dize rápido, que não sou paciente!

Ulisses – Ó grande ciclope, depois de um banquete tão grande, com certeza estás com sede…

Polifemo – (interrompendo) Pois estou, mas se pensas que vos vou abrir a porta e vos deixo escapar, pensa melhor, que não me consegues enganar!

Ulisses – (obsequioso) Um homem não pode enganar os filhos de Posídon! O que eu quero fazer-te é uma oferenda! Tenho aqui um barril de vinho…é bebida cara e saborosa. Queres provar? Mas só to dou se me fizeres um favor.

Polifemo – (irritado) Ora, se quero provar! Está claro que quero provar! E que favor é esse?

Ulisses – Que nos deixes ir embora desta ilha.

Polifemo – (atirando um urro gutural que Ulisses percebeu ser riso) UAHAHAHAHAH! Ora essa, e ficar sem o meu pequeno-almoço? Isso é que não! Mas se me deres esse tal vinho e for bom, prometo que te faço um favor.

Ulisses – E que favor é esse?

Polifemo – Verás, mas primeiro o vinho. O VINHO, O VINHO, QUERO O VINHO JÁ!
(Ulisses ordena que lhe tragam o barril, que entrega a Polifemo. Este bebe todo o vinho de um só fôlego)

Polifemo – (limpando a boca com a mão e pestanejando) Ora esta, este tal vinho é bom, é! Ora, se é! Como recompensa, vais ser o último que eu vou comer.
(Polifemo foi-se mostrando muito mais amigável depois de ter bebido todo o vinho e acabou por contar a sua história a Ulisses. Em troca, exigiu saber o nome do navegador)

Polifemo – E tu, como te chamas? E como vieste cá parar?

Ulisses – (hesitando) Eu…

Polifemo – (erguendo um pouco a voz) Sim tu, como te chamas?

Ulisses – Eu…chamo-me…chamo-me…

Polifemo – (aos berros, irritado) SIM, TU! COMO TE CHAMAS? COMO TE CHAMAS? DIZ-ME JÁ!

Ulisses – Eu chamo-me Ninguém.

Polifemo – (soltando outra estrondosa gargalhada, ainda pior do que a anterior) UAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH! Ninguém! Ahahahah! Ninguém! Que estranho nome te deram! Já percebo porque é que não o querias dizer! Ahahahahahahahahahahah
(A boa disposição de Polifemo voltou e ele estava prestes a exigir que lhe fosse contada a história dos viajantes quando o vinho fez finalmente efeito e ele adormeceu. Depois de verificarem se o gigante estava mesmo a dormir, os marinheiros reuniram-se para tentarem encontrar um modo de escapar. Não tinham força para mover o pedregulho…Ulisses decidiu então que o melhor a fazer era cegar o gigante. Apontou-lhe a espada mesmo para o centro do olho e ZÁS)

Polifemo – AUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU! (Polifemo acordou aos berros de dor, dando pulos tão grandes que quase parecia que a gruta viria a baixo) Acudam, meus irmão, acudam! Acudam ao pobre Polifemo!
(Os ciclopes acorreram aos seus gritos; mas tinham um grande medo àquele seu irmão violento, pelo que não se atreveram a retirar o pedregulho da gruta)

Ciclopes – Que foi, Polifemo?

Polifemo – (com urros chorosos) Acudam, Ninguém está aqui! Ninguém quer matar-me!

Ciclopes – (surpreendidos) Claro que não, Polifemo. Ninguém te quer matar nem ninguém está aí! Vai dormir Polifemo!

Polifemo – (com berros de frustração) Seus idiotas! Ninguém está aqui e quer matar-me!
(Mas os outros ciclopes, achando que ele estava a ter um dos seus ataques, foram-se embora e não lhe ligaram mais, tratando de se manter bem afastados da ilha dele. No dia seguinte, quando Polifemo abriu a entrada da gruta aos apalpões, Ulisses atou cada um dos homens à barriga de uma ovelha, pois o monstro tacteava o dorso de cada animal antes de o deixar passar, para se certificar de que não era nenhum humano. Os marinheiros lá foram saindo e, chegada a vez de Ulisses, este agarrou-se com força ao carneiro e lá foi. Mas Polifemo, que gostava muito do carneiro, demorou-o mais tempo e deu-lhe uma amigável palmada tão forte que Ulisses se desequilibrou, desatando a correr em seguida. Mas o gigante não o perseguiu, pois preferia perder um homem do que os outros todos que estavam dentro da gruta. Só quando percebeu que todos tinham fugido é que saiu a correr pela ilha, mas nessa altura já os marinheiros estavam a salvo, longe da ilha)


Coro – Ó astucioso Ulisses! Quantos perigos sofreste depois pelo que fizeste a Polifemo! Pois Posídon, o grande senhor dos mares, não perdoa com facilidade e não esqueceu o ataque ao seu filho ciclope! Na sua fúria, perseguiu-te ao longo de toda a viagem, enterrando nas profundezas o seu tridente para erguer contra ti as fúrias do mar!

Património Histórico e Cultural de França!


08/05/14

Um poema de Pablo Neruda

Morre lentamente quem não viaja
 

"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão, 
Quem prefere O "preto no branco" 
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos, 
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da Chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
Simples acto de respirar. 

Estejamos vivos, então!»
 

02/05/14

"Portugal Enfim Livre"...como se tivesse sido ontem!

Como comemoração dos 40 anos do 25 de Abril de '74, a Revolução dos Cravos, digitalizámos as partes relevantes da revista Visão desta semana, cuja iniciativa saudamos e que escolheu fazer uma edição (nº1103) como se tivesse sido publicada nos dias que se seguiram à queda da ditadura em Portugal. Ampliou-se as imagens para que o conteúdo pudesse ser legível, mesmo com prejuízo da formatação do blogue.