31/01/13

Poema para os alunos de Ciências Naturais (7ºano)


O Meu Canto de Pedra!

Eu era uma rocha,
Eu era uma pedra.
Vivia numa floresta de pedra,
Numa casa de pedra,
Numa rua de pedra
E minhas vizinhas eram pedras.

Mas não havia só pedras,
Havia os minerais
E o Basalto cá de cima
E o Granito lá de baixo!

Mas agora as pedras perderam a vida,
O Granito foi feito em migalhas
E o carvão em acendalhas.

Que mundo maluco!
Só me apetece gritar,
Ou talvez cantar,
Mas já ninguém pára
Para ouvir o meu canto de pedra.

Tomás Vicente (ex-aluno)

Nota: Este poema foi escrito no âmbito da disciplina de Ciências Naturais em Junho de 2008, recordando conceitos acerca das rochas magmáticas extrusivas e intrusivas.

28/01/13

Dia da Escola

Hoje, dia 28 de janeiro, comemora-se o "Dia da Escola" dedicado inteiramente
ao escritor Vergílio Ferreira que dá o nome ao próprio Agrupamento.
O programa definido para este dia na Biblioteca foi o seguinte:
sugestão da procura, na internet, da história "A Estrela" .



O corrente ano letivo trouxe à nossa escola grandes desafios, que surgiram com a junção do antigo Agrupamento de Escolas de Telheiras à Escola Secundária de Vergílio Ferreira, formando assim um agrupamento muito mais alargado, que, abrindo múltiplas possibilidades, trouxe também algumas dificuldades, apenas superadas com um contínuo e coordenado esforço de toda a comunidade escolar.

A fusão destas duas realidades distintas, com os seus diferentes modos de estar e de funcionamento, bem como ambientes característicos que serviam de elemento individualizador, não poderia deixar de implicar um grande esforço conjunto no sentido de uma aproximação real – pessoal, mais do que meramente oficial e de feição burocrática. Essa aproximação só pode ser feita através da partilha de experiências, de um intercâmbio de saberes.

É com essa preocupação e no sentido de estimular esse desejável fluxo de relações interpessoais que se irá comemorar, aqui na nossa escola, o dia 28 de janeiro, dia do nascimento do escritor Vergílio Ferreira, “padroeiro” do nosso agrupamento, ocasião que se pretende que seja um marco neste processo, sendo um dia emblemático não só como comemoração específica do nosso agrupamento mas também como tributo ao espírito que caracteriza o trabalho de toda e qualquer escola como espaço de união entre pessoas – professores, alunos e funcionários – aplicadas nas persecução de um mesmo objectivo: a construção de um futuro melhor alicerçada no saber e no crescimento humano e intelectual.



22/01/13

"O Desastre Ortográfico" - artigo de Miguel Sousa Tavares

EXPRESSO, 19 de Janeiro de 2013
Miguel Sousa Tavares
O DESASTRE ORTOGRÁFICO
Em 1990, quando oito países da CPLP assinaram o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, eu era director da revista “Grande Reportagem” e assinei, conjuntamente com Vicente Jorge Silva, então director do “Público“, e Miguel Esteves Cardoso, então director de “O Independente”, uma declaração, publicada nos respectivos meios, comprometendo-nos a não aplicar o dito acordo nas nossas páginas. Passados vinte e três anos, não mudei de opinião relativamente ao AO: fundamentalmente, continuo a não aceitar o facto consumado de um acordo saído do nada, a pedido de ninguém, não negociado nem explicado aos principais utilizadores da língua — autores, professores, editores, jornalistas — e imposto a dez milhões de portugueses por uma comissão de sábios da Academia das Letras do Brasil e da Academia das Ciências de Portugal.
Sempre temi a ociosidade dos sábios e a tendência leviana dos governantes para legislarem a pedido das modas intelectuais. Mas nunca pensei que uma nação que tinha levado a sua língua às cinco partidas do mundo, chegando a ser a língua franca nos mares do sudoeste asiático até ao dealbar do século XIX, fosse capaz de voluntariamente, e invocando vagos interesses geocomerciais, propor a sua submissão às regras em uso num país onde levámos a língua que o unificou. Por outro lado, não fui sensível ao argumento de que as grafias mudam (sem ser naturalmente) e ao exemplo, tantas vezes esgrimido, do ‘ph’ reduzido a ‘f’ pelo AO de 1945 (que o Brasil nunca aplicou, como também não aplicou o anterior, de 1931…). Não alcanço que extraordinário progresso se consumou ao deixar de se escrever “pharmácia”, a troco da “farmácia”, e acho seguramente intrigante que idêntico progresso não tenha contagiado, por exemplo, franceses e ingleses. que continuam a escrever a mesma palavra com ph. Também nunca me convenceu o argumento de que o AO facilitaria a penetração da literatura portuguesa nos PALOP e no Brasil, impossível de alcançar sem ele.
Quanto aos PALOP, basta o facto da recusa de Angola e Moçambique de, até hoje, ratificarem o AO, preferindo escrever no português que lhes levámos, para desmentir essa pretensa vantagem; e, quanto ao Brasil, perdoem-me a imodéstia de invocar o meu testemunho pessoal de quatro livros lá editados, todos com a referência de que “por vontade do autor, manteve-se a grafia usada em Portugal” — e sem que isso tenha prejudicado de alguma forma a sua edição, divulgação e venda.
Oito países falantes de português assinaram o AO de 1990, mas como, após anos de espera em vão, apenas quatro o tinham ratificado, esses quatro decidiram, em 2008, que eram suficientes para o fazer entrar em vigor. O AO, que entre nós começou a vigorar aos bochechos em 2009, é, assim, e antes de mais, inválido, resultante de uma golpada jurídica não prevista no tratado inicial, que apenas confirmou o voluntarismo idiota e o abuso político com que todo o processo foi conduzido. Porque nunca conseguiu convencer quem devia, o AO foi imposto manu militari, por governantes saloios, desprovidos de coragem para enfrentar os lóbis da “cultura” e convencidos de que a força da lei há-de sempre acabar por triunfar sobre a fraqueza da sem-razão. Surdos a todos os argumentos dos oponentes (entre os quais o país deve uma homenagem de gratidão a Vasco Graça Moura), desdenhosos perante o abaixo-assinado com 130.000 subscritores contra o AO, sem um estremecimento de vergonha perante o editorial do “Jornal de Angola” do Verão passado (que aqui citei na altura), onde se escrevia que, se Portugal não defendia a sua língua, defendê-la-iam eles, os governantes acharam que o mais importante de tudo era não desagradar ao Brasil, a cuja presumida vontade fora dedicado o AO.
Mas eis que na iminência de entrar em vigor plenamente no Brasil, em 1 de Janeiro passado, uma petição com 30.000 assinaturas levou o Congresso a pedir e Dilma Rousseff a aceitar a suspensão da sua entrada em vigor por três anos, para que melhor se medite no diktat dos sábios. E chegámos assim à situação actual, verdadeira parábola sobre o destino da sobranceria: neste momento, há três grafias oficiais da língua portuguesa — a que vigora em Angola, Moçambique, Timor, e que é a anterior ao AO; a grafia brasileira que é a mesma de sempre, resultante do não acatamento de nenhum dos três acordos ortográficos assinados connosco, ao longo de 60 anos; e a de Portugal, que, com excepções ainda autorizadas, é resultante do AO de 1990 — feito, segundo diziam, para “unificar a língua”, agradar aos brasileiros e não perder influência em África! É notável, é brilhante, é mais do que prometia a estupidez humana! Perante este facccccccccto, seria de esperar que os nossos sábios e os arautos dos amanhãs que cantariam no português por eles unificado pintassem a cara de preto e viessem pedir desculpas públicas. Eu dar-lhes-ia como castigo a conversão ao AO do “Grande Sertão, Veredas”, de Guimarães Rosa.
Porque agora, digam-me lá, o que faremos nós, depois de termos obrigado, e quase arruinado, os nossos editores a converterem em português do AO todos os livros editados? Depois de termos tornado obrigatórias no ensino as regras do AO, desde a época passada? Depois de termos convencido prestigiadas instituições, como este jornal, a submeterem-se ao Conselho de Ministros? Vamos, como legalmente previsto, tornar o AO universalmente obrigatório para todos a partir de 2015, vergando de vez os lusitanos que ainda resistem, sem saber se os brasileiros farão o mesmo no ano seguinte? Vamos correr o risco de ficar a escrever numa grafia em que mais nenhum país falante da nossa língua escreverá? Vamos oferecer um banco aos angolanos e a TAP aos brasileiros, em troca de eles se renderem e terem pena da nossa solidão? Vamos acolher a Guiné Equatorial na CPLP contra a jura de ratificarem o AO? Vamos exigir aos ilustres embaixadores aposentados da CPLP o mesmo destemor a defender o AO de que deram mostras a enfrentar o governo de narcotraficantes da Guiné-Bissau? Ou vamos conformar-nos a ter uma geração de pais que escreve de uma maneira e uma de filhos que escreve de outra maneira?
Porque uma coisa é garantida: a arrogância dos poderosos não conhece arrependimento. Eles jamais voltarão atrás, reconhecendo que se enganaram, que se precipitaram, que foram atrás de vozes de sereias, que se esqueceram de que há coisas que nenhum país independente cede sem estremecer: o território, o património, a paisagem, a língua. Trataram isto como coisa menor, como facto herdado e consumado, de ministro em ministro, de governo em governo, de parlamento em parlamento, de Presidente em Presidente. Partiram do princípio de que os portugueses comem tudo, desde que bem embrulhado em frases grandiloquentes, com a assinatura dos influentes e a cumplicidade dos prudentes. Mas, dêem agora as voltas que quiserem dar aos acordos que assinaram e à língua que lhes cabia defender e não trair, cobriram-se de ridículo. Está escrito nos livros de História: um pais que se humilha para agradar a terceiros, arrisca-se a nada recolher em troca, nem a gratidão dos outros nem o respeito dos seus. Apenas lhe resta o ridículo. Oxalá ele chegasse para matar de vez o triste Acordo Ortográfico!

03/01/13

J.R.R.Tolkien - O Construtor de Mundos e de Sonhos




O escritor, poeta, filólogo e professor universitário John Ronald Reuel Tolkien nasceu em Bloemfontein, na África do Sul, então colónia britânica, a 3 de Janeiro de 1892 e morreu em Bournemouth, na Inglaterra, a 2 de Setembro de 1973, aos oitenta e um anos de idade

J.R.R.Tolkien, mais conhecido pela sua obra literária e pelas subsequentes adaptações cinematográficas, foi um estudioso das línguas arcaicas, especialmente do Anglo-Saxão e do Islandês Antigo. A sua erudição, no entanto, abrangia diversas línguas e literaturas, desde o finlandês ao espanhol, e é, ainda hoje, tido como um dos maiores (senão o maior) filólogo do século XX, homem com uma vasta e simultaneamente profunda cultura, inteiramente dedicado à vida académica e ao papel de professor, tendo ensinado em duas das mais célebres faculdades de Oxford ao longo dos seus cerca de quarenta anos de carreira académica. De professor de excelência (daqueles que conseguem encher auditórios) a escritor de renome, distinguiu-se pelo perfeccionismo e pelo aprumo em tudo a que se dedicou, ficando para a História não só como aquele que foi classificado como o maior escritor do século XX nos inquéritos feitos pela rede de livrarias Waterstone mas também como um modelo do erudito dedicado ao seu campo de estudos.

Numa época em que a literatura de fantasia domina as montras, conquistando um importante lugar tanto nas estantes das livrarias como nas preferências dos leitores, e também num tempo em que a dita fantasia não é, quiçá, tão pura como o foi nos tempos do seu desabrochar, é conveniente lembrar e enfatizar a qualidade de obras como O Senhor dos Anéis e O Silmarillion e recordar um homem apelidado, frequente e justamente, como o pai da fantasia moderna, que abriu caminho por dimensões nunca antes trilhadas e que construiu uma mitologia sólida assente em bases linguísticas. Ainda que publicada há já quase sessenta anos, a inventividade e capacidade de inovação da sua obra prima ainda não foi superada e é justo afirmar que o pai da fantasia moderna continua também a ser o escritor de maior génio de entre todos os que cultivaram ou cultivam o género.

Lembre-se, pois, o homem que, nascido há mais de cento e vinte anos, trabalhou ao longo de toda a vida na sua criação e chega até nós com um estatuto confirmado de gigante literário. Aqui fica também a recomendação de leitura das suas obras, dez delas publicadas em Portugal, e o visionamento deste documentário passado em 1968 pela BBC, em que o próprio autor fala e nos dá a conhecer as circunstâncias do desabrochar de todo um manancial de criação literária.

Tomás Vicente  (ex-aluno)