31/05/12

Os Lusíadas em Música


Na próxima quarta-feira, dia 6 de Junho de 2012, pelas 8h15, vai realizar-se, na sala de Educação Musical, a apresentação de um trabalho muito especial realizado pelos alunos da professora Clotilde Mota. A turma do 9ºD anda, há já muitos meses, a preparar a recitação d'Os Lusíadas acompanhada de música de piano e promete ser um espectáculo e tanto, pois a junção da magistral obra do Poeta, o coração da literatura portuguesa, com variada musicalidade do piano, o mais completo dos instrumentos, não pode ter senão um resultado delicioso. 
Será uma sessão restrita, mas os curiosos são bem vindos, sobretudo se forem apreciadores de boa música e, acima de tudo, da mais grandiosa história jamais contada em Portugal e uma das mais vibrantes epopeias de todos os tempos. Uma sessão a não perder, de todo!

Aguardamos ansiosamente esta rara oportunidade e o ensejo de, depois, darmos mais pormenores acerca da mesma!

30/05/12

Feiras do Livro Escolares


Grande novidade para os bibliófilos do nosso agrupamento! Nos próximos dias, de 31 de Maio a 6 de Junho, decorrem, nas escolas do 1º ciclo do nossa agrupamento (EB 1 nº57 de Telheiras e EB 1 do Alto da Faia), feiras do livro abertas aos membros da nossa comunidade escolar. Este evento foi organizado pela professora Eduarda Pereira, bibliotecária dessas duas escolas, em mais uma iniciativa para patrocinar a leitura e estimular o contacto dos mais novos com os livros. 

Na EB 1 do Alto da Faia, as bancas estarão à espera dos leitores durante todo o dia, nos dias 31 e 1. Nos outros três dias, a feira desloca-se para a EB 1 nº57 e estará aberta, também todo o dia, a 4 de Junho. Devido a condicionantes internas, nos dias 5 e 6 de Junho, apenas se venderão livros durante curtos períodos.

Convidamos todos os leitores ávidos (e os menos ávidos também) a darem uma espreitadela para, pelo menos, terem o prazer de folhear alguns exemplares. Quem sabe que tesouros de papel se encontram à nossa espera numa tal ocasião?

04/05/12

Oníris 4ever! - nova visita de Rita Vilela!

"Tudo o que pode ser sonhado é verdadeiro!"
Joan Harris


Mais uma mágica sessão com a escritora Rita Vilela, organizada pela professora Clotilde Mota e destinada aos alunos do 7ºB. A sessão realizou-se bem cedinho, às 8h15, na nossa BE, o que foi bom, pois os alunos começaram o dia com muito sonho salutar ao sabor das palavras e das obras da escritora convidada! Agradecemos muito à nossa convidada, esperando que fique no ar a promessa de novas sessões de sonho!
OBRIGADO!



02/05/12

Sequência poética 14

Brynhild sem Sigurd
O círculo fecha-se firmemente,
As labaredas erguem-se, ferozes;
Dentro dele fica o desespero
Cruel companheiro dos solitários
E de fora a alegria transbordante
De tudo o que o fogo de mim apartou.
E o mais estranho e aflitivo de tudo,
É que parece ninguém ter reparado
Que o círculo se fechou.
Eu fiquei dentro dos seus limites,
Isolado do mundo alegre e vigoroso
Que além das chamas se quedou,
Separado de quem o mundo me legou.
Não entra, ou agora assim parece,
No meu exíguo círculo de vida
A de ninguém que ainda floresce.
Sinto-me prisioneiro do destino,
E talvez não só dele,
De alguém que não tem tino
Ou piedade de mim, porque me olhou

E a seguir no vazio me abandonou,
Porque não tive a coragem de lançar
O braço enfraquecido pelo deleite
Para apanhar o que me deu.
O universo do círculo morre
A partir da sua própria limitação,
À medida que as labaredas
Deixam de ter alimento
Na lenha do meu coração.
Que posso ser eu neste fogo que morre?
Que pode ser alguém
Sem o conforto da vida de outrem?
Não sou nem serei ninguém,
Apenas o nada que se acaba
Nas malditas chamas de Ódin!



Cantiga de Amigo
Falo com as aves velozes
Para saber notícias de meu amigo;
Elas não me dão resposta
E os ventos, desafiadores ferozes,
Só me sussurram novas mágoas,
Causadas, em grande parte, pelas águas
Repletas de carrasco e perigo
E nunca a alegria que eu persigo
E que foge para lá delas, no barco das ondas.
Ó amigo, que estás além do oceano,
Tua ausência causa-me um insano
Sofrimento, mas resta-nos esperar
Por uma outra longínqua hora
Que nos atavie de escudo e espada
Para lutarmos contra a as serpentes do mar,
Uma hora que traga o desejado reencontro
E o contentamento para ambos os lados da batalha.
Talvez queira o Senhor das Águas ser aplacado,
Mas mais não tenho que versos
E alguma diminuta arte;
Que, possa ela o deus comover,
Chore Posídon e pranteiem as ninfas
Diante de quantos os seus abismos habitam
E se humilhe o Rei à frente dos seus súbditos
Tanto como minhas lágrimas me humilham
Perante as suas ondas cruéis crivadas
De marinhos demónios.
Assim determino o sofrimento do inimigo,
Que o raio o atinja com a força
Com que Orfeu trespassou o negro Hades!
Então atravessarei o amargo e choroso mar
Remando em refulgente veleiro de ondinas
Para ir ter contigo ao continente
Que mais feliz me fará que do Oriente
As incomensuráveis riquezas
Pois, ainda que parco em certezas,
Da felicidade será o doce Poente.



O Dia Perdido - Entardecer
Vejo as mesas e as cadeiras,
Vejo as janelas e as paredes,
Mas já não vejo as brincadeiras
Nem os dias que naquele local
Ousaram em tempos vaguear.
Sobre a sala lentamente descia,
Em doces golfadas de nostalgia,
A terna luz do crepúsculo;
A sombra tomava para si o espaço e o ar
E expulsava da luz os dourados reflexos
Que ainda por ali andavam,
A divagar, a sonhar.
Noutros dias, passados,
Tudo aquilo ali coubera e tivera lugar,
Mas, por esse tempo se afastar
Nas brumas da memória,
Já nada vejo tão nítido
Como nesse dia perdido,
Descolorado,
Que, de malvado,
Me quer levar o olvido.



Ó Aves do Céu…
Cada pássaro que no céu voa
Cruza os ares para as paragens do sonho.
Pergunto-lhes, por isso, novas
De alguém cuja ausência me magoa.
Assim, ansiosamente espero
O regresso dos alados mensageiros,
Que me fazem esperar tanto
Que desespero.
E, para mais me torturarem,
São más as notícias que me trazem,
Pois do outro lado do mar
Está ainda quem me faz esperar.
Os pássaros dão-me de presente
Esta triste notícia em voz
Dura e desapiedada de algoz
Que massacra o condenado.
Ó aves do céu, é matar-me que quereis?
Se é esse o vosso intento, nada façais,
Que para me matar já bastam
As tristes novas que me trazeis.



Lágrimas do Céu Nublado
A chuva cai, cinzenta.
É triste, melancólica.
Reflecte a vida que passou
E a incerteza aflitiva
Do que o esquecimento levou.
Fica a certeza de que passou,
De que não foi apenas um devaneio
De quem, enlevado, o sonhou;
Fica a presença na memória,
Um eco do coração;
Fica dos dias de sol a recordação;
Fica do Inverno o carinho suave
E o calor abrasador do Verão;
Fica a relva e o asfalto, os candeeiros;
Ficam as árvores e o que recordam,
A muda memória das pedras
Que, tivessem elas boca
Veriam que não minto,
Pois também elas vos diriam
Que choram.
Fica a marca perene
Deixada por uma presença
Alegre então, agora melancólica
Por ver longe o que o silêncio levou;
Fica da estação a sentença
Que dita não ser já de mim pertença
O que a vida generosa me outorgou
E que agora o curso dos dias
Tão cruelmente me roubou;
A chuva cai, cinzenta;
Martela nos caminhos, nos beirais…
E eu, como os pardais,
Fui levado na torrente;
Martela a terra e a vida,
E o seu doloroso martelar
Encontra eco no meu coração
Que não deixará de bater
Nos anos que virão.
Fica a marca pungente,
Não da chuva, que tudo levou,
Mas do que o tempo me não roubou,
Que fica assim para sempre,
Com o eco da chuva, a sua dor,
Que, a despeito da devida compaixão
Nunca me abandonou.


Tempo
Sentado, descuidado, no verde jardim,
Verde de vida e de significado, vibrante
Da doce e terna nostalgia sem fim,
Vejo, sinto uma cinzenta cortina sufocante.
Não é, no entanto, sufocante de pânico ou aflição;
Não com o frio e duro cunho do desespero;
Apenas sufoca o meu triste coração,
Um doce matar que nunca é fero.
De que seria feita, assim suave
Mas com a certeza dura de chagada
Confiante que, ao longe, determinada,
Sobe a verde colina com a subtileza duma ave?
Era um véu de prata que dos fios da imaginação
Se tecia, dos sonhos da alma, das revoltas da memória,
Grassada por um terrível artista, hábil tecelão,
Que a obrara com mão premonitória.
Parecia que, através dos tempos volvidos,
Me ecoava a sua voz que, com angústia da certeza,
Parecia bailar ainda nos meus ouvidos
E me tinha fortemente a vontade presa:
«Agarra agora o que a vida te traz,
Que, se com a mão do presente dá,
Com a mão do futuro tirará,
Se agarrá-lo não te apraz.»
Falará verdade? Será um sonho?
Talvez seja verdade, mas já não tenho força
Para resistir ao destino medonho
Que é ágil como uma corça,
E leva consigo a minha gentil quimera,
Que se deixa meigamente embalar
Nos braços do desespero, onde também a viajar
Vai o meu coração, que a penosa espera
Da derrota dilacera e ceifa placidamente,
Com se fora seara ao vento setentrião.
Assim, só me resta perseguir o desejo fremente,
Que, se não o fizer, tudo será negridão.



Cortina de Chuva
Chove dos céus prata e esperança,
Que prateada chuva molha o verde manto.
Também a mim me molha e enregela
Este eloquente rio reluzente,
Mas não me importo! Fosse todo o pranto
Por ribeira como esta arrastado
E já não andaria tristemente
A lavar a mágoa noutro rio
Que só me levaria ao desvario.
No entanto, lava ainda o doce passado,
Por não se contentar com a oprimente
Tristeza do coração atormentado.
E na corrente vem a nostalgia,
Que separada está já da alegria,
Que na memória fraca e sem norte
Substitui o sublime momento adorado.
A cortina de chuva e de tempo passado,
Para lá da qual nada é lembrado,
Continua a cair, impassível, a meu lado,
Tentando com a sua beleza
Compensar-me do que já não é lembrado,
Na esperança de nas suas excelsas águas
Me afogar a dolorosa tristeza…
Lamento, mas a tua leda e saudosa mansidão
Não vale a esquecida e dourada recordação!



Cai a Noite
Cai a noite e também chuva;
A escuridão vagarosa lenta vem
E ninguém pode saber se, ao acordar,
Poderá ainda as maravilhas ver
Do que viu agora ao adormecer.
Por isso a noite chora connosco
E chega-nos a sua luz difusa
- Mas não um brilho fosco –
Que ilumina a mente confusa.
O noctívago rosto pranteia
Por se saber portador
Da mudança, que traz dor,
Uma mudança que muito receia.
A luz que agora banha a terra
Vem das lágrimas da lua e da noite,
Do brilho cristalino, das gotas
Que, prateadas, caem do céu
E se despenham no mundo,
Onde o firmamento escureceu.
Parece já não se ver futuro
Para lá da cortina de água,
Aquele mágico manto, claro e escuro.
E, o que mais me desesperou,
Já não se vê também o passado
Que lá longe se atrasou,
Na estrada que para trás ficou.
Já a noite caiu e conquistou a terra,
Mais a chuva penosa ainda cai;
Cai o tempo, desesperado,
Mas a esperança com ele não vai.
No entanto, a sã alegria
Com o retardatário passado ficou,
No doce tempo que a treva levou.
Quem pode, assim, confiar
Na incógnita luz da manhã,
Que começa agora a despontar?


Presságio
A noite agita-se numa convulsão
Desesperada, ecoada pela chuva
Que cai sem cessar.
São as cólicas da inquietação
Dócil de árvores adejando ao vento,
De lagos negros espelhando a brancura
Que banha os campos, vinda da lua.
Na insónia do embalo do luar,
Vendo a coada luz de um azul prateado,
Sinto os frémitos frenéticos de algo que se agita
A coberto do manto de sono que cobre a terra.
A Natureza de veludo azul estremece
E no seu âmago desperta o encanto.
Sinto a frescura virginal
Desse mundo antigo, original
De madeira e gemidos de bosques
Soprados pelo vento,
Do aveludado universo florestal:
Folha, flor, erva, orvalho,
Prado batido pela brisa do Outono.
Sinto estas palpitações da vida tímida
Como os lentos avanços de um sonho indeciso,
Que teme antecipar a noite
Em que se me revelará
E, fugidio, dança ao luar,
Por entre as árvores.
Sigo-o para as profundezas dos bosques,
Mas dele só tenho vislumbres efémeros.
Mas sei sempre para onde o seguir,
Pois guia-me o coração e a magia
Da cálida floresta adormecida.
Tomás Vicente (ex-aluno)