23/12/11

Carta ao Pai Natal


Lisboa, 23 de Dezembro de 2011

Querido Pai Natal

Sei que, ao leres isto, vais achar esta minha carta muito tardia. É-o, efectivamente. Ou melhor, seria, se eu viesse pedir as coisas que, normalmente, somos instigados pela nossa natureza - tão bela, mas tão corruptível - a pedir no Natal. Não te preocupes, não venho pedir nem mesmo livros! - que dizer, então, de outras bagatelas como brinquedos, adornos, jogos, e outros que tais?

Queria, acima de tudo, desabafar com alguém de confiança - esse é um dos maiores presentes que podemos receber, ter alguém de confiança com quem possamos falar...acredita, Pai Natal, vai sendo coisa rara nestes tempos tristes e desoladores - e, depois, fazer-te uns pedidos especiais. E falar é aquilo de que mas preciso neste momento. Não morro de frio nem de tédio, por enquanto, embora possa morrer de cansaço mental (não te rias, velhote). Mas pode-se morrer de isolamento. Assim, cá vão uns desabafos...

Ando neste mundo há quase duas décadas e, conquanto tenha vivido bons momentos, começo a achar que nos estamos lentamente a afundar na mesquinhez e em maus valores, enquanto espécie. Não sei quanto tempo vamos poder aguentar-nos assim. Como escrevi noutro lado, o ser humano está em vias de "deixar de ser admirável". Porque o ser humano é admirável...mas parece que isso tem os dias contados. Decerto, ter-te-ás apercebido, durante as tuas viagens à volta do planeta, de que algo está a mudar para pior. Mesmo agora, nesta adorável época do Natal, parece que a "árvore da vida" já não se apresenta tão fresca e sã, tão verde e cheia de...vivacidade. Amodorramo-nos no nosso próprio lixo. Isto não está certo. Os sinais, às vezes, estão nas pequenas coisas. Às vezes? Não! Sempre. Das pequenas coisas é que se subentendem grandes mudanças. E está uma grande mudança em andamento, ainda não é visível, mas está apara vir e não trará nada de bom. 

Assim queria deixar-te aqui um pedido, pois tu é o símbolo do espírito do Natal, que ajuda a renovar aquela atmosfera especial e a revelar a bondade inata nos homens. Peço-te que existas e prometo tentar avivar este espírito nas pessoas à minha volta. Se mais pessoas derem os seus lugares a idosos no autocarro, se menos ciganos viverem à custa da sociedade e ainda reivindicarem melhor, se houver mais respeito e mais desvelo para com que tem cabelos brancos e idade avançada, se houver mais cuidado com o próximo, mais amizade a quem vive neste mundo, se houver mais solidariedade, então é porque estamos a conseguir fazer a diferença, Pai Natal. Uma voz apenas a pregar no deserto não converte todo o deserto, mas ouve-se melhor do que numa algazarra de muitas vozes a dizer o mesmo. Por isso, porque não tentar? O mundo é nosso, a vida também - e só temos uma - porque não fazer a diferença, mesmo que seja pela simples negação ao que está mal. Podemos dizer muito sem abrir a boca ou esboçar um gesto.

Os olhos são o nosso canal para dar ao mundo e receber do mundo, pois é por eles, muitas vezes, que orientamos todos os outros sentidos...falo dos olhos da mente e do coração, dos quais estes vidrinhos coloridos que temos na cara são só a expressão, a "janela da alma". O desafio é tentar mudar os olhos com que as pessoas vêem o mundo. Acabamos por ver muito pouco e o que vemos é o que somos. Há pessoas que só vêem as coisas com maldade já nos olhos, outros com egoísmo, outros com cepticismo, outros com indiferença. Mas outros há que vêem de outras maneiras. Creio que ainda é possível existir, algures entre estes biliões de seres humanos que por aí há, amor, dedicação e amizade sinceros. É como uma flor na neve. Mas enquanto a flor existir há esperança de sementes e a esperança é a última a morrer. Mas haverá alguém para ter esperança? Esperemos que sim...

Bem, Pai Natal, já te tomei tempo demais, tens muitas coisas para pôr a bordo do trenó, estou certo. Por isso, peço-te apenas mais uma coisa: que me dês força para desempenhar o meu papel e para aguentar o barco em que vou. Não sei se o podes fazer, mas creio que sim, porque, como dizia um filme que eu vi há pouco tempo, there are more things between Heaven and Earth.

Um grande abraço, Pai Natal, e até para o ano que vem. Espero que tenhas um bom ano de 2012 e que, no próximo Natal, possamos voltar a trocar impressões e ver se alguma coisa mudou. Merry Christmas e os melhores desejos para o novo ano.

Tomás Vicente



15/12/11

Sobre Poesia

A Génese da Poesia
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Acho que a poesia é uma arte superior a qualquer outra…pelo menos, a boa poesia.
Não considero que os meus poemas sejam bons; longe de mim ser convencido a esse
ponto. Posso dizer, sem vergonha, que gosto muito, por motivos mais ou menos pessoais,
de alguns dos meus poemas – não todos -, mas nunca poderei, legitimamente, dizer “olhem
este meu poema, não é extraordinário?”. Talvez daqui a setenta anos o possa fazer (se me
for dado viver esse tempo), quando tiver uma estrada já percorrida. Até lá, seria apenas um
exibicionismo que tiraria a qualquer das minhas simples composições qualquer valor que
pudessem vir a ter no futuro.

Para mim, escrever poemas tem sentido tendo em vista a partilha de experiências,
de emoções, de estados da alma, de sensações e impressões. O único objectivo que desejei
atingir através das míseras composições que se seguem foi o de dar largas à imaginação e,
se me é permitido almejar tanto, tentar que outros se revejam neles. Assim, ao empregar
um número razoável de poemas nos projectos ligados às minhas escolas, quis apenas
expressar-me e, acima de tudo, contribuir. Para quê? Bem, para um projecto comum, o
projecto da vida através da escrita. Nem sempre o que escrevemos é alegre, nem sempre
agrada aos outros, mas o que escrevemos é o que somos, é o que vivemos, quer seja nesta
vida ou em sonhos. Daí que dar a conhecer algo que escrevemos é dispormo-nos a deixar
que os outros nos leiam a alma.

Engana-se quem pensa que a escrita não serve para mais que manuais de instruções,
cartazes de propaganda, etc. A escrita é a manifestação mais durável da linguagem, quando
posta em palavras; a escrita é, deve ser, a manifestação impoluta da língua que só o coração
fala. Assim, é importante darmos liberdade a esse bichinho álacre e sedento/que fossa através de
tudo/num perpétuo movimento, como diz António Gedeão [Cf. "Pedra Filosofal", in Movimento Perpétuo].

Os meus poemas, pobres como são, não são mais que eu próprio: uma figura
insignificante que precisa de agradecer condignamente a muitas pessoas que passaram (e
ficaram, em muitos casos – graças a Deus!) pela sua vida e a fizeram melhor, pessoas de uma grande
envergadura de espírito, com que me orgulho de ter convivido. Foram professores, colegas,
auxiliares…ou até pessoas com quem apenas troquei, ocasionalmente, dois dedos de
conversa…A todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, pude chamar amigos, aqui
fica o meu MUITO OBRIGADO. Este livro (não só os poemas), que poucos lerão, é-vos
totalmente devido, tal como tudo o que algum dia escreverei, pois sem vós eu seria uma
pessoa muito pior, mais cinzenta e, se o não sou já, mais apagada.

ii
Como é que se começa a escrever poesia? Não sei se haverá uma resposta para essa
pergunta – ou, pelo menos, uma boa resposta. Todos os começos são diferentes e devo
confessar que o meu começo foi o menos poético possível – o talvez não.
Sei que comecei a escrever poemas no 7º ano, e esse começo deveu-se totalmente
às aulas de Português. Certo dia, ao estudarmos a poesia, a professora levou para a aula um
livro de sonetos do nosso Poeta e falou-nos dessa forma fixa de poesia. Gostei, e tentei
fazer também. O resultado é o nº 1 do Capítulo Primeiro - devo dizer que este poema só
está de acordo com o velho lema primus inter pares no que diz respeito à ordem cronológica.

Bem, com o tempo vieram outros estímulos e continuei, pacatamente, a tentar
alinhavar uns versos e a compor poemas. O ano seguinte, 2009, foi aquele em que escrevi
menos – falha compensada pelo facto de ter um carinho especial pelas pequenas bagatelas
que fiz ao longo do mesmo. Só há cerca de ano e meio é que comecei a produzir mais
poemas – a uma velocidade que me começou a surpreender e sem que isso diga o que quer
que seja acerca da qualidade do produto.

Sinceramente, cada vez gosto mais de poesia – não da minha, obviamente. Acho
que é um universo de possibilidades, de recantos escondidos e recursos inexplorados, à
espera de serem descobertos. O que se segue é a minha tentativa entrar nesse mundo
particular e exclusivo, em que a senha muda a cada hora - a ponto de, às vezes, pensarmos
que nunca mais conseguiremos encontrar o caminho. Para os que estão familiarizados com
o universo de Harry Potter, eu diria que o mundo da Poesia é uma espécie de Sala das
Necessidades: quando menos esperamos é que a porta se abre – e abre-se sempre no
momento certo.

Dizer mais que isto…só em verso!

Tomás Vicente (ex-aluno)

14/12/11

Sobre a Guitarra Portuguesa


O texto abaixo é extraído da Agenda Cultural de Lisboa de Novembro de 2011, escrito por Rui Cintra:


É provável que a guitarra portuguesa tenha tido origem num instrumento semelhante introduzido por volta do século XVIII, pelos comerciantes ingleses radicados em Lisboa, conhecido como "guitarra inglesa". A guitarra portuguesa ter-se-ia popularizado nalguns salões da média burguesia, por ser um instrumento mais acessível que o piano e mais fácil de executar. Na imagem podemos ver uma guitarra do mestre Manuel Pereira dos Santos datada de 1890, um dos mais antigos exemplares nacionais conhecido e que integra a exposição permanente do Museu do Fado. Exemplar que integra já as características tímbricas e de afinação que tornaram a guitarra no instrumento de eleição de acompanhamento do fado. Na página seguinte encontramos um instrumento surpreendente que integra as duas versões da guitarra portuguesa, a versão para o fado de Lisboa e a versão para o fado de Coimbra. O braço mais longo corresponde ao da guitarra coimbrã, (com a lágrima na voluta que serve de distintivo) que lhe confere um som mais grave, apropriado ao acompanhamento das vozes masculinas do fado de Coimbra. Esta guitarra dupla foi criada, em 2011, pelo mestre guitarreiro Óscar Cardoso e integra uma surpreendente exposição patente no Museu do Fado até 30 de Dezembro. Nascido em 1960, aprendeu a arte da construção de guitarra na oficina do pai, Manuel Cardoso, também construtor de instrumentos. Desde cedo mostrou vontade de inovar, de experimentar novas técnicas. Hoje pela sua mão podemos descobrir as guitarras feitas em fibra de carbono, masi leves e resistentes, mantendo as mesmas características acústicas, as guitarras sem fundo que permitem uma maior extensão do som, ou este exemplo duplo, "provocador" que para além de unificar as duas grandes tradições de fado português acrescenta ganhos tímbricos e harmónicos que não se encontram nas guitarras tradicionais. Um passo em frente.

Onde te leva a imaginação?


Mais uma vez, o nosso agrupamento sai vencedor do primeiro lugar no concurso dos CTT "Onde te leva a imaginação?". Desta vez, foi uma aluna do 1º ciclo da escola básica do Alto da Faia a premiada. Ah, é bom confirmar que, afinal de contas a imaginação ainda nos leva bem longe, aqui no AET, e, ainda para mais, dá-nos asas!

Assim, aqui fica um incentivo para os nossos alunos, tanto para o tempo de escola como para o resto da vida: voai nas assas da imaginação, que voar faz bem e é uma das coisas mais saudáveis que podemos fazer...uma das mais maravilhosas experiências.

13/12/11

Palavras sobre o Inverno



Ah! O Inverno está a chegar...que bom, é mesmo este o tempo que se quer para preguiçar, aos fins-de-semana, em frente a uma utópica lareira brilhante e quente, com um bom livro no colo! Ouvimos o vento uivar lá fora e pensamos que são os sussurros da história que estamos a ler; ouvimos as gotinhas de chuva cantarem nos beirais e parece-nos que ouvimos uma voz celestial que vem até nós para nos contar uma canção de embalar; olhamos pela janela e vemos as árvores curvadas ao sabor do vento e pensamos que são agitadas pela brisa da lenda; vemos as ruas molhadas e as pessoas que nelas caminham, ensopadas, apressadas, pensamos que também elas sonham - sonham a história da vida. O que é a vida? Será real? Ou é, simplesmente, uma história que Deus lê eternamente?

Não sei o que é a vida, mas é bela. Não é sempre feliz, mas ao menos sabemos que vivemos, ainda que não saibamos ao certo o que isso é. Tudo é emoções e sensações; Platão dizia que estas eram enganadoras, que só as Ideias eram verdadeiras; esperemos que ele não tenha sempre razão, pois que outro farol melhor temos nós na vida? Que somos nós se o coração deixa de sonhar, de se emocionar, de almejar? Sem ele nunca chegaríamos às Ideias...

Posso não me sentir sempre feliz, mas sinto-me contente por assim ser, pois é sinal de que consigo distinguir (ainda que de modo impreciso) a felicidade da infelicidade. A tristeza ensina-nos a prezar a felicidade, a saboreá-la em toda a sua extensão. Assim, e aproveitando-me do facto de muita gente considerar o Inverno uma estação triste (eu acho-o fascinante e irresistivelmente belo), queria deixar aqui o meu apelo, usando de um trocadilho, para que, em qualquer situação, tentemos ver a luz que brilha nas trevas - pode não brilhar muito, mas nota-se mais por estar só, tem um significado redobrado. Reitero o meu desafio em forma de poema:
Basta uma pérola na escuridão,
Um arremedo de brilho,
Pequena esperança
Prometendo alegre sarilho.
Basta uma pequena vela
Que arde ainda, levemente.
Basta uma luz ao fundo do túnel,
Um engano de sucesso…
Que a chama cristalina
Ilumine o sombrio caminho –
- E a mim também.

Cada um de nós tem o seu próprio Inverno dentro de si...alguns têm pequenos "invernos" passageiros, como nuvens de aguaceiro, outros vivem um só e carregam-no no coração durante muitos anos e outros ainda têm aquele que muito faz sofrer pois, quando parece que chega a Primavera, as nuvens regressam a correr e as chuvadas duplicam a sua intensidade...uma nova batalha, uma nova prova.

Mas já me estou a desviar do Inverno, com letra maiúscula (e o maldito Acordo Ortográfico não é para aqui chamado!), que, ao contrário dos nossos invernos pessoais, é digno de ser cantado em muitos e belos poemas. Um dia, hei-de escrever uma ode ao Inverno, que ele bem merece. Até lá, é aproveitar os bolinhos, os filmes na televisão, o sofá aconchegante, as mantas quentinhas, os livros (cheios de pó ou novinhos em folha!) a chávena de chá a fumegar, o sonho inquieto, prestes a sair, a chuva, o verde dos campos...Enfim, tudo o que a rara Natureza / com tanta variedade nos of'rece (citando o nosso grande/enorme Camões)!

Tomás Vicente (ex-aluno)

Um poema!

O Palácio de Njord
O velho Njord um palácio tinha
De pedra, no fundo do verde mar,
Verdes e azuis eram as paredes,
Os pilares esculpidos com peixes nas redes;
De madrepérola o chão reluzente
Onde vivia o tempestuoso deus contente;
Pelos marinhos salas e salões
Vogavam mil peixes e bizarros tubarões
E as harpas tangidas eram dos dedos
Das doces ondinas, que quedos
Deixavam todos os que escutavam
A doce música do mar,
Pelos fundos sem rumo a vogar
Os peixes serviam à mesa do deus
De marinho e severo semblante,
Algas nos cabelos e tridente rutilante,
De temível temperamento iroso,
Mas justo carácter generoso,
No fundo do largo e escuro mar
Para onde de antanho fora morar.
Um rei de águas e abismos ele era,
Sentado em trono reluzente,
Apoiado do feroz tridente.
Em eras passadas governou Njord
Os abismos do medo humano,
Onde o Polvo se agita, insano;
Mas agora, o palácio está deserto e frio,
Um pesadelo de noite de desvario,
Pois em Ragnarók o deus friamente morreu
E toda a vida das suas profundezas pereceu,
Não tendo já rei nem tino
Por crueldade do destino.
Os mares agora estão tristes e vazios
E choram as ondinas nas aquáticas florestas.
Só não formam suas lágrimas cem rios
Porque já na água caiem, desoladas e lestas.
Já negro é o fundo do mar dolente
E amargo dos peixes o coro;
Já baço o trono e rombo o tridente
Já no mar só pranto e choro

Pois foi-se Njord resplandecente.

Tomás Vicente (ex-aluno)

02/12/11

A Solidariedade Natalícia

Ser-se solidário é entregar-se aos outros. É pensar mais em quem nos rodeia que em nós mesmos, é ajudar quem precisa. E o Natal é a época que simboliza este espírito...tudo porque, numa noite que já lá vai, os Reis Magos trouxeram ouro, incenso e mirra ao Menino Jesus, que acabara de nascer em Belém da Judeia. E, mais tarde, porque S. Nicolau, bispo de Mira, amigo das crianças e dos pobres, distribuiu toda a herança que recebeu dos pais e todas as coisas que lhe iam parar às mãos e que eram úteis a alguém: moedas, comida, etc. E ainda, porque o Jule Tomte, o "duende do Yule" (Yule era a festa pagã que correspondia ao Natal, no Norte da Europa), descia pelas chaminés a trazer presentes.

Mas agora, mais importante ainda que recordar histórias antigas (que nunca devemos esquecer - quem perde as histórias, perde o passado e quem perde o passado não é ninguém) é ajudar os outros. Há tanto para fazermos, à nossa volta. Tanta gente em dificuldades, sejam económicas ou de outra ordem. Às vezes, precisam de auxílio material, outras, só de uma palavra amiga. E cabe-nos a nós estar lá para satisfazer essas necessidades da melhor forma possível!

Por experiência própria, posso garantir que, se não for por motivos menos egoístas, ao menos devemos ajudar  os outros porque nos sentimos muito melhor connosco próprios depois de o termos feito. A solidariedade é um dom. Não alcança, desenterra-se, pois está cá, no fundo da alma do ser humano; só precisa de ser acordada.

Até ao Natal, ainda faltam mais de vinte dias. É tempo de sobra para tomar atitudes. Não deixeis para amanhã o que podeis fazer hoje, não adieis. Nunca. Até ao Natal, distribuí os bens que tendes acumulados e de que não precisais. Vereis que há sempre alguém que deles tem falta. É bom que tenhamos muito, pois assim, somos habituados a não nos apegarmos demasiado ao material. A esfera material é a parte pobre da vida! Fôssemos nós só ideias e espírito e seríamos bem melhores.

Assim, enquanto é tempo, fazei algo por alguém. Não temais os confrontos, as adversidades. Por mais negras que sejam as horas que tendes à vossa frente, há sempre lá uma luz, e há sempre alguém que nos estende a mão quando caímos...uma parte do nosso espírito que nos diz para não desistirmos. Deixá-la sair e desabrochar. Depois, quando estiverdes sentados à lareira, bebendo chá e desfrutando da atmosfera natalícia, tereis mais paz, pois será uma recompensa merecida e não meramente um hábito! Vivei o Natal!

Tomás Vicente (ex-aluno)

01/12/11

Poema de Fado - crónica do mês


Recentemente, escrevi para a fadista Débora Rodrigues um poema de fado cujo resultado considero particularmente interessante e que me deu muito trabalho.
Explico porquê.
O fado tradicional e historicamente marcado que narrava acontecimentos trágicos com enredos de morte e de crime, de orfandade , de suícidios em desespeo  e de amores dramáticos, teve uma expressão considerável num tempo em que o universo de referência de fadistas e poetas populares era apenas a vida do seu bairro.
Nesse tempo em que os jornais eram raros e pouco lidos, a telefonia pouco ouvida, o fado noticiava e espalhava os acontecimentos pungentes que emocionavam a gente que era deles testemunha e vizinha

Há um mítico acontecimento na nossa História - O amor de Pedro e Inês - que de forma recorrente romancistas e poetas recuperam, alterando e enriquecendo pela ficção o seu contexto histórico 

O que tentei eu fazer neste poema "Fala de Inês para Pedro " ?
Precisamente recuperar o dramatismo e a tragédia tão frequentemente cantados nessa época a que me referi, dando-lhe uma referência a que todos os portugueses impressiona e encanta, com uma linguagem poética contemporânea, recorrendo a imagens e termos mais trabalhados. Não foi fácil pois o desafio era arriscado.
Se consegui, digam-me os meus caros leitores

( no fado Vianinha)

 Fala de Inês para  Pedro



Dão-me a morte por te querer

e tiram-me o céu também
O mal que me faz morrer
é o mal de te querer bem

Se meus  beijos condenados
não sabem dos teus perdidos
antes meus olhos fechados
do que em alerta os sentidos

Antes o coração em ferida
que de ti as mãos vazias
antes  não ter minha a vida
que de ti não ter teus dias

 Se me levam teus abraços
eu pela morte imploro
se não te dão os meus passos
- Corra meu sangue e teu choro!

Joaquim Nogueira Marques


Nota do Prof. J. N. Marques: 
Para quem não esteja familiarizado com as estruturas melódicas dos vários fados clássicos,
em vídeo anexo a Senhora Dona Maria Teresa de Noronha interpreta o fado Vianinha. É esta a melodia e estrutura que vai vestir a Fala de Inês . ( este é um procedimento comum entre os poetas de fado; escrever os seus temas pensando desde logo em que fado clássico será cantado) 





"The Winter is coming!": Votos de Feliz Natal



"Ah! Que bom, Dezembro já nos bateu à porta! Este é o mês do frio a sério, do nevoeiro, do S. Nicolau/Pai Natal, dos duendes, das histórias da quadra, desde o comoventes e realistas contos de Dickens (que, nesta quadra, ficam sempre em lugar de destaque no mostrador na BE de Telheiras!) aos mais mágicos e fantasiosos contos de gnomos, fadas, arcanjos, entre outros. Este é o meu mês...desde fins de Outubro a fins de Abril (nos anos em que o frio vai até mais tarde), sinto-me renascer e que as baterias se recarregam. O Inverno e, particularmente, o Natal, é a época da inspiração.

Este ano, mais que nunca, enquanto estivermos a divertir-nos com bolos, presentes, e outras coisas características - desde as mais simples às mais extravagantes! -, devemos lembrar-nos da quantidade de pessoas que, cada vez mais, não vai poder ter um Natal tão alegre como o nosso. Esta é a época de dar e partilhar...e tudo o que pudermos pôr no sapatinho de alguém, sejam coisas úteis ou palavras bondosas, esta é a altura de o fazer! Dar largas ao coração na quadra que mais estimula as ligações humanas, é isso que se quer. Para quê fecharmo-nos num reduto? Há que sair ao encontro de quem nos faz falta, de conviver e viver o mundo que nos rodeia. A vida é tão curta que, se a desperdiçamos, damos por nós à beira do abismo do tempo sem que tenhamos feito nada do que queríamos. 

Deixo-me de conselhos, calculo que cada um encontre o que é preciso em si mesmo, mais que nestas palavras. Por agora, despeço-me e...

HO! HO! HO! MERRY CHRISTMAS TO YOU ALL!"
Tomás Vicente (ex-aluno)


Nota: O título é uma brincadeira com um citação de George R. R. Martin, da sua obra de fantasia épica A Game of Thrones (em português A Guerra dos Tronos)

Solidário +



Nem é preciso dizer que estamos em crise! Até já as montanhas se devem ter apercebido disso! Por isso, vamos deitar as mãos à obra! Não podemos desistir e render-nos sem luta! Um pequeno gesto faz toda a diferença...a Ajuda de Berço é uma das organizações que bem precisa do nosso empenho!

Esta Natal, mais do que nunca, as famílias vão ter dificuldades. É preciso colaborar e ser solidário. Todos nós temos em casa coisas de que não precisamos e que fazem falta a muita gente. Pensemos sempre que quanto menos tivermos, mais felizes somos. Não percas tempo e junta brinquedos e jogos que já não uses (e mesmo alguns que uses mas que não são especiais) e entrega-os para serem distribuídos por crianças desfavorecidas! Há recolhas nas escolas, nas igrejas...é só procurar! Tudo o que puderes dar, dá. Não te esqueças que aquilo que te enriquece não é aquilo que tens, mas aquilo que deste!

Obrigado e, desde já, um FELIZ NATAL, HÔ, HÔ, HÔ!

30/11/11

Peditório - Abraço!


Na tua Biblioteca Escolar está a ser feita um peditório em prol da Abraço, para ajudar as pessoas com sida, que, muitas vezes, não recebem o auxílio e a atenção devida e que, como todos os seres humanos, merecem ser ajudadas. 

Não te esqueças de passar por aqui e dar o teu contributo: nem que seja pequeno, o teu contributo faz a diferença!

Ajuda a Abraço a abraçar toda a Humanidade!

29/11/11

Fado - Património Imaterial da Humanidade


O fado, o nosso bom fado, foi agora promovido a Património Imaterial da Humanidade! Já não era sem tempo...já estava bem na altura de esta arte tão portuguesa (com certeza!) ser elevada ao grau que merece!

A decisão tem suscitado uma vaga de contentamento por parte dos fadistas e dos apreciadores do fado, como seria de esperar, e também foi tema de mensagens e discursos, tanto do presidente da Câmara de Lisboa como do Presidente da República, que diz ser este um novo motivo de orgulho para o povo português.

Foi no dia 12 de Maio de 2010 que a candidatura do Fado a Património Mundial da Humanidade foi aprovada por unanimidade na Câmara de Lisboa e, agora, depois da reunião do comité da UNESCO para esse fim, a 27 de Novembro!

E, agora, pretendendo completar, a um nível mais particular no contexto da nossa escola, aqui fica um poema de fado escrito pelo professor Joaquim Marques:

Fala de Inês para  Pedro

Dão-me a morte por te querer

E tiram-me o céu também

O mal que me faz morrer

É o mal de te querer bem



Se meus  beijos condenados

Não sabem dos teus perdidos

Antes meus olhos fechados

Do que em alerta os sentidos

Antes o coração em ferida
Que de ti as mãos vazias
Antes  não ter minha a vida
Que de ti não ter teus dias

 Se me levam teus abraços
Eu pela morte imploro
Se não te dão os meus passos
- Corra meu sangue e teu choro!

Nota: Os pastéis de Belém apoiaram a candidatura do fado a Património da Humanidade de uma maneira muito original...ora espreita aqui!
E, se quiseres saber mais sobre este assunto, vai ao Museu do Fado!


SABER MAIS!

25/11/11

Faleceu Lynn Margulis


Lynn Margulis

(1938 - 2011)


...a responsável pela teoria endossimbiótica...

No dia 22 de Novembro, morreu a cientista Lynn Margulis, bióloga e professora na Universidade de Chicago. Esta eminente cientista foi a responsável pela Teoria Endossimbiótica, que veio revolucionar a compreensão da comunidade científica de como se formaram as células eucarióticas. Muito se deve, no âmbito da Biologia, a esta investigadora persistente e dedicada, que defendeu sempre aquilo que considerava ser a verdade, mesmo nos momentos mais difíceis, em que não era apoiada por ninguém. Recorde-se que o seu primeiro artigo sobre a sua grande teoria foi recusado por 15 revistas científicas...

22/11/11

Lembrando C.S.Lewis




A 22 de Novembro de 1963, John Fitzgerald Kennedy, presidente dos Estados Unidos da América, foi assassinado em Dallas, no Texas. Este acontecimento, que influenciou o curso de importantes acontecimentos a uma escala relativamente vasta (poder-se-á dizer isto assim?), ofuscou a cobertura mediática de outros dois óbitos célebres. No mesmo dia em que o presidente americano era morto a tiro, Aldous Huxley morria em Los Angeles e Clive Staples Lewis, professor universitário, escritor, filósofo, filólogo e teólogo irlandês, falecia, aos 64 anos de idade, em Oxford.

Com todo o devido respeito pelas figuras de Kennedy e Huxley, hoje pretendemos lembrar sobretudo Lewis, o qual desempenhou, durante a guerra, um papel memorável que lhe valeu o epíteto de "apóstolo dos cépticos", no seguimento das várias palestras que proferiu através da rádio BBC, com o objectivo de motivar os ouvintes, de lhes dar ânimo para enfrentar as dificuldades através da devoção e confiança na fé cristã.

Lewis, nascido em Belfast a 29 de Novembro de 1898, fez carreira como professor e filólogo, ensinando em Oxford e em Cambridge, tendo também participado na Primeira Guerra Mundial, a qual muito o marcou, tal como a muitos autores desse tempo.

Chegado a Oxford como professor, conheceu J. R. R. Tolkien, de quem se tornou amigo chegado e o qual contribuiu para o reconduzir na fé cristã, uma vez que Lewis, abandonado o protestantismo da sua infância, tinha caído no ateísmo. Foi na noite de 19 de Setembro de 1931, durante uma longa conversa com Tolkien e Hugo Dyson, que Lewis foi forçado a rever a sua posição religiosa, face à brilhante exposição que Tolkien fizera da sua chamada "filosofia do mito".

Lewis foi, sobretudo desde então, um autor prolífico, que escrevia muito em pouco tempo. Dedicou-se a passar a mensagem cristã (satirizando até a sua própria igreja, a Igreja Anglicana, pela perda dos valores fundamentais do cristianismo, num livro chamado Mere Christianity), mas também contribuiu notavelmente em campos académicos da sua área e até na própria filosofia, ainda que sempre acerca de assuntos religiosos.

Não havendo tempo para dizer mais sobre este homem notável (mais, por vezes, inconstante) que foi Clive Staples Lewis, aqui fica um conselho para que leiam a sua obra, da qual faz parte a encantadora série As Crónicas de Nárnia.

Tomás Vicente

21/11/11

Um Executor Literário Dedicado



Christopher Tolkien, que hoje comemora o seu 87º aniversário, tem sido, desde a morte do seu pai, J.R.R.Tolkien, em 1973, o seu executor literário, responsável pela publicação de muitas das suas obras que, aquando da morte do autor, estavam virtualmente acabadas.

J.R.R.Tolkien era um perfeccionista e a sua escrita denota um cuidado excepcional, refinado pelos seus vastíssimos conhecimentos nas áreas da Língua e da Literatura (Tolkien foi um dos maiores filólogos de sempre, ainda que essa sua faceta fique, agora, à sombra da de autor consagrado). Assim, a elaboração de cada um dos seus livros (ou mesmo de cada uma das partes dos mesmo, em separado) era um processo demorado, mas que avançava com método.

Por isso, não conseguiu dar por concluídas muitas das suas obras (e também aconteceu perdê-las no meio do vasto acervo que foi produzindo, como foi o caso do último livro a sair, A Lenda de Sigurd e Gudrún, que Tolkien escreveu na década de 30 e que, cerca de quarenta anos mais tarde procurava afincadamente, para mostrar o trabalho a um amigo filólogo - morreu sem voltar a encontrar estes seus dois grandes poemas.). A título de exemplo, menciono O Silmarillion, que é disso o exemplo mais flagrante, pois Tolkien começou a escrevê-lo aos vinte e quatro anos, em 1916, nas horas vagas entre os exercícios militares (embarcou para o Somme pouco depois), e, muitas décadas mais tarde, já idoso, na casa dos oitenta, ainda revia e corrigia o texto, procurando sempre refundir e aumentar o pano de fundo da história e os seus aspectos fundamentais, essenciais na sua sub-criação e o pilar da sua obra, renovando e aprofundando a filosofia da sua obra-prima. Há ainda o clássico exemplo de O Senhor dos Anéis, que comparado com a obra anteriormente mencionada parece ter sido escrito à velocidade de uma rajada de vento, que foi escrito entre 1936, quando O Hobbit já estava em fase terminal, e 1955, data em que saiu do prelo o terceiro volume, com os seus vastos apêndices.

Assim, chegado a uma idade mais madura, Tolkien ter-se-á apercebido de que não conseguiria preparar para publicação todas as suas histórias que tinham passado a fase do rascunho. Nomeia então o seu terceiro filho, desde sempre o seu braço direito na escrita, como seu executor literário.

Foi desta maneira que, em 1973, Christopher Tolkien ficou com a "caixa de Pandora" do pai nas mãos. Reformou-se em 1975 e retirou-se para uma casa do campo em França, possivelmente (conjectura minha) para alcançar paz que lhe permitisse entregar-se exclusivamente a organizar, compilar, e editar (em edições comentadas enriquecidas com explicações muito úteis) a obra do seu pai que ficara por publicar.

Nunca poupei nem virei nunca a poupar elogios ao trabalho de J.R.R.Tolkien, que acho acima de tudo quanto li até hoje, mas agora quero aqui fazer menção, especialmente, ao merecimento do seu filho (com idade, nos dias que correm, para ser meu avô!). Pois não é uma demonstração extraordinária de abnegação e de dedicação o que ele tem feito? Não é espantoso como alguém teve a força de espírito para abandonar a carreira académica promissora (com a idade de 51 anos) para se dedicar a levar a um termo as pontas soltas da grande tapeçaria urdida por outra pessoa (mesmo sendo o próprio pai!)? E, o que é mais, fazê-lo infatigavelmente durante quase quatro décadas?

Aos 87 anos, Christopher Tolkien não dá indícios de querer abrandar a dedicação ao projecto que lhe tem ocupado os últimos trinta e oito anos. Pela minha parte, como leitor, muito agradecido estou por isso, pois muitas são as maravilhas que vão sendo dadas ao prelo. Como pessoa, aqui deixo o meu agradecimento a este homem de vontade férrea e incansável e o meu incentivo para que continue o excelente trabalho que tem feito!

MUITO OBRIGADO!

Tomás Vicente

12/11/11

São Martinho a... 11/11/11



O que comemoramos hoje...

Dia 11 de Novembro é o dia de S. Martinho, um santo dos primórdios do cristianismo (nasceu no ano 316 e morreu em Novembro de 397) que ficou conhecido, entre outros milagres e boas acções, por ter dividido a sua capa com um pobre mendigo numa noite de temporal. Este é o "santo do Inverno", cujo dia vem para nos anunciar o frio, e a chuva e para nos reavivar na memória o conforto que sentimos ao agarrar num cartuxo de castanhas "quentes e boas" e ao desfrutarmos de um bom livro no aconchego quentinho da nossa biblioteca!

Cá na escola houve um magusto, com os já habituais vendedores de castanhas, que nos deliciaram ao impregnar o nosso pátio com o delicioso cheiro das castanhas a assar nos assadores, e a já costumeira e visão de cascas de castanha espalhadas pelo pátio, sem a qual o nosso S. Martinho ficaria descaracterizado...como uma festa sem balões rebentados! Para saberes mais sobre esta época do ano, dá uma espreitadela este blogue sobre S. Martinho e as castanhas, é muito divertido: http://smartinho.blogspot.com/

Além disso, hoje é também um dia especial...11 de Novembro (mês 11) de 2011! Não é todos os dias que isto acontece! Agora só teremos 12 de Dezembro de 2012!

"No meio de um frio de rachar
(que ainda não veio o verão prometido),
Melhores do que tudo o que se tem comido,
Vêm as castanhas para nos consolar
E ao Sr. Inverno anunciar!

São quente e boas,
Em cartuchos de papel de jornal;
Em tempos idos eram os pães e as broas,
Mas uma mudança não acharam mal
E agora são gulodices que se comem
A olhar o céu no pátio da escola;
As horas e os minutos se somem
Esquecem-se os livros e a sacola;

Na companhia das histórias antigas,
Sentindo nas mãos o suave calorzinho
Lembramos agora S. Martinho
Que, para o aquecer em noite de temporal,
Dividiu a capa com um pobrezinho..."
poema de Tomás Vicente