13/12/11

Palavras sobre o Inverno



Ah! O Inverno está a chegar...que bom, é mesmo este o tempo que se quer para preguiçar, aos fins-de-semana, em frente a uma utópica lareira brilhante e quente, com um bom livro no colo! Ouvimos o vento uivar lá fora e pensamos que são os sussurros da história que estamos a ler; ouvimos as gotinhas de chuva cantarem nos beirais e parece-nos que ouvimos uma voz celestial que vem até nós para nos contar uma canção de embalar; olhamos pela janela e vemos as árvores curvadas ao sabor do vento e pensamos que são agitadas pela brisa da lenda; vemos as ruas molhadas e as pessoas que nelas caminham, ensopadas, apressadas, pensamos que também elas sonham - sonham a história da vida. O que é a vida? Será real? Ou é, simplesmente, uma história que Deus lê eternamente?

Não sei o que é a vida, mas é bela. Não é sempre feliz, mas ao menos sabemos que vivemos, ainda que não saibamos ao certo o que isso é. Tudo é emoções e sensações; Platão dizia que estas eram enganadoras, que só as Ideias eram verdadeiras; esperemos que ele não tenha sempre razão, pois que outro farol melhor temos nós na vida? Que somos nós se o coração deixa de sonhar, de se emocionar, de almejar? Sem ele nunca chegaríamos às Ideias...

Posso não me sentir sempre feliz, mas sinto-me contente por assim ser, pois é sinal de que consigo distinguir (ainda que de modo impreciso) a felicidade da infelicidade. A tristeza ensina-nos a prezar a felicidade, a saboreá-la em toda a sua extensão. Assim, e aproveitando-me do facto de muita gente considerar o Inverno uma estação triste (eu acho-o fascinante e irresistivelmente belo), queria deixar aqui o meu apelo, usando de um trocadilho, para que, em qualquer situação, tentemos ver a luz que brilha nas trevas - pode não brilhar muito, mas nota-se mais por estar só, tem um significado redobrado. Reitero o meu desafio em forma de poema:
Basta uma pérola na escuridão,
Um arremedo de brilho,
Pequena esperança
Prometendo alegre sarilho.
Basta uma pequena vela
Que arde ainda, levemente.
Basta uma luz ao fundo do túnel,
Um engano de sucesso…
Que a chama cristalina
Ilumine o sombrio caminho –
- E a mim também.

Cada um de nós tem o seu próprio Inverno dentro de si...alguns têm pequenos "invernos" passageiros, como nuvens de aguaceiro, outros vivem um só e carregam-no no coração durante muitos anos e outros ainda têm aquele que muito faz sofrer pois, quando parece que chega a Primavera, as nuvens regressam a correr e as chuvadas duplicam a sua intensidade...uma nova batalha, uma nova prova.

Mas já me estou a desviar do Inverno, com letra maiúscula (e o maldito Acordo Ortográfico não é para aqui chamado!), que, ao contrário dos nossos invernos pessoais, é digno de ser cantado em muitos e belos poemas. Um dia, hei-de escrever uma ode ao Inverno, que ele bem merece. Até lá, é aproveitar os bolinhos, os filmes na televisão, o sofá aconchegante, as mantas quentinhas, os livros (cheios de pó ou novinhos em folha!) a chávena de chá a fumegar, o sonho inquieto, prestes a sair, a chuva, o verde dos campos...Enfim, tudo o que a rara Natureza / com tanta variedade nos of'rece (citando o nosso grande/enorme Camões)!

Tomás Vicente (ex-aluno)

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