26/07/14

Poema Dia dos Avós

Trabalhadora Silenciosa
Amanhecia no campo da vida
E pelo trilho tortuoso, em penosa subida,
Ia uma mulher, carregada de fardos
Que a tudo enfrentava e suportava
Com corajosa paciência e determinação
De quem não se importa com os cardos
Com que a sorte o percurso ornava.
Muitos quilómetros fez ela assim,
Todos os obstáculos transpondo
Sem que vez alguma bradasse ao céu redondo
Que era dura a crueldade do destino.
Anoitecia agora sob o céu:
Ia já velha e curvada

Mas nunca vergada.
Tomás Vicente (ex-aluno)

01/07/14

"Curtas-metragens e outras coisas correlatas"

Curtas-metragens e outras coisas correlatas…
                A primeira coisa que tenho para dizer é uma confissão muito custosa de pronunciar. Mas cá vai. No passado dia 28 de Janeiro, Dia da Escola, fui convidado pela professora Helena Lopes para ir assistir à rodagem de um conjunto de curtas-metragens baseadas no conto “Uma Esplanada à Beira-Mar”, de Vergílio Ferreira, produto do trabalho de alunos de Artes realizado no ano lectivo passado. Para minha eterna vergonha – e debatendo-me com a iminência de ter de escrever uma notícia sobre as mesmas para o próximo número da Opsis -, fui convencido de que ia apanhar (para usar a palavra corrente) “uma seca” de noventa minutos na qualidade de espectador de um trabalho desengonçado de principiantes. A concorrer para a minha presente auto-recriminação, além do facto inegável de o trabalho rodado ser de muito boa qualidade atendendo o amadorismo que necessariamente o caracterizou por serem os seus autores estudantes, a constatação de que eu próprio já em muitas coisas fui principiante e sempre toda a gente teve para comigo uma enorme delicadeza e paciência, de modo que tal opinião pré-concebida fosse,  à partida, injusta da minha parte.
                Na verdade, as curtas-metragens afiguraram-se-me francamente boas. Não quero com isto dizer que alguns dos actores não tenham soado, de quando em vez, a falsete (erro, aliás, em que os actores portugueses em geral têm alguma tendência para incorrer), não quero dizer que este ou aquele pormenor técnico -  de que nem posso ter consciência total, porque conhecimentos especializados de crítico cinematográfico é coisa que não tenho – tenham estado ao nível de um Spielberg e outros da mesma craveira, mas isso pouco importa, isso são tudo detalhes que vêm com o tempo, com a prática, com o gradual processo evolutivo de tentativa-e-erro. O que me impressionou foi a profundidade da análise de situações comuns na nossa sociedade, a inovação no olhar sobre o enredo dos filmes, o particular prisma de observação e retratação do real.
                Dou, por isso, os meus sinceros parabéns a todos os intervenientes do projecto, em especial aos meus colegas/ex-colegas alunos que se esforçaram para levarem a bom termo um tal projecto, às professoras sem cuja dedicação tal não seria possível…enfim, o meu elogio às qualidades humanas pelas quais esta minha antiga escola sempre prima, com uma excelência que, já não sendo inédita, é sempre gratificante contemplar. Por fim, uma menção que não posso deixar de fazer à função da nossa escola como veículo para despertar talentos, potencialidades intrínsecas à diversidade humana que a constitui e lhe confere a riqueza que inegavelmente possui. Lembrando que uma escola – qualquer escola digna desse nome escrito em maiúsculas  e a nossa em especial – é um espaço onde crianças se tornam homens e mulheres, onde se modelam os futuros cidadãos do nosso país, duma Europa de futuro incógnito, de um mundo que se nos abre quando somos jovens e temos sonhos, não é demais realçar o papel que cabe à criatividade individual e grupal e a importância de que o despertar da mesma. Neste âmbito, exorto vivamente todos os membros da nossa comunidade escolar a alimentarem os bons valores que sempre aqui se têm passado porque, parecendo que não, estamos todos, no aqui e no agora, a construir um futuro que nos transcende, responsabilidade essa que não nos deixa margens para errarmos.
4 de Fevereiro de 2014
Tomás Vicente Ferreira

(Escrito de acordo com a antiga ortografia)


[artigo escrito para o número 12 da revista Opsis]