30/09/13

Mensagem de Pesar

É com profundo pesar que comunicamos à comunidade escolar a notícia do falecimento de uma antiga professora da nossa escola, a professora Maria Ascensão Teixeira, que nos deixou em Agosto último. Lamentamos profundamente que tal comunicação seja feita com tanto atraso, mas a notícias só agora nos chegou.

A professora Ascensão Teixeira, professora de Português e membro da Equipa da Biblioteca Escolar, deu aulas na nossa escola durante quinze anos, até à sua reforma em Fevereiro de 2009. Dela guardamos grata memória, pelos seus longos anos de serviço e pela sua extraordinária competência profissional, mas sobretudo queremos aqui recordar a sua total e abnegada dedicação ao ensino e pelas suas inigualáveis qualidades humanas. 

Ao dar esta notícia, queremos pedir também à comunidade escolar que não esqueça o longo lavor de uma vida inteira e que, acima de tudo, preserve na memória recordação da pessoa humana que, durante tantos anos, fez parte desse nosso universo finitamente infinito e durante mais anos ainda lutou para dar sempre o melhor de si, não hesitando em fazer sacrifícios pessoais ou exigir mais de si mesma do que de outrem, conservando, durante todo este tempo, sempre uma palavra bondosa quem mais necessitasse de a ouvir.

Não poderemos nunca agradecer suficientemente por uma tal dedicação, nem preencher com homenagens o espaço vazio que a sua partida nos deixou. No entanto - e conquanto todos os nossos agradecimentos fiquem sempre aquém da nossa dívida -, não podemos deixar prestar uma homenagem pública a tão excelente elemento da nossa comunidade. Assim, em data a designar brevemente, será realizada na Biblioteca uma sessão de homenagem à professora Ascensão Teixeira, na qual convidamos, desde já,  à participação de todos os membros, antigos e presentes, da nossa comunidade. Serão, também, expostas fotografias, as quais serão ainda publicadas aqui neste blogue.

02/09/13

A MAGIA DOS LIVROS!

A MAGIA DOS LIVROS!




Quarentenário da morte de J.R.R.Tolkien

No dia do quadragésimo aniversário da morte dos escritor e filólogo britânico J. R. R. Tolkien, cujo último livro postumamente publicado chegou às livrarias há apenas poucos meses, parece-nos interessante pôr à disposição dos nosso leitores uma breve interpretação do autor e da sua obra...


Quarenta anos após a morte do autor, a obra de Tolkien continua a ser uma fonte inesgotável de surpresa e fascínio. Aparte a minha opinião pessoal (que é a de quem nunca leu nada mais maravilhoso na vida), reconheço, tanto na literatura contemporânea como nos gostos literários de sucessivas gerações que descobrem a obra deste contador de histórias de inigualável engenho, uma grande influência do trabalho de Tolkien, o que é, ao mesmo tempo, surpreendente e apropriado.

A surpresa tem vários motivos (mas é uma supresa boa). Recorde-se que J.R.R.Tolkien foi continuamente ignorado, atacado e gozado até ao menosprezo por sucessivas gerações de críticos desde os anos cinquenta, altura em que se tornou conhecido do grande público com a publicação da trilogia O Senhor dos Anéis. Tal reacção por parte da crítica não perturbou, no entanto, o velho escritor (note-se que, na altura em que a sua fama começou a crescer vertiginosamente, o autor já ia a caminho dos setenta anos), que afirmou, no seu prefácio à edição revista da sua trilogia, em 1966: 
"Alguns que leram o livro, ou que de qualquer modo o criticaram, acharam-no enfadonho, absurdo ou insignificante; e eu não tenho que me queixar, pois perfilho de opiniões similares das suas obras ou do género de literatura que, como é evidente, preferam."
Noutra ocasião, escreveu, em versos brincalhões:
"The Lord of the Rings / is one ot two things: / if you like, you do; / if you don't, then you boo"
Como li num certo guia para interpretação da obra de Tolkien, although many of the critics did boo, the public did not. É oportuno referir que também não conheço nenhum outro caso em que a crítica e o público perfilhem de opiniões tão radical e terminantemente opostas. Até aos dias de hoje, a crítica eriça-se à simples menção de Tolkien e, por extensão, de todo o género fantástico, o qual, na actualidade, deve mais a Tolkien do que a qualquer outro autor, ainda que essa influência seja, em muitos casos, mal digerida. Por outro lado, nestes cerca de sessenta anos desde que a primeira parte d' O Senhor dos Anéis apareceu nas livrarias Julho de 1954 e ao longo dos quais a lista de obras de Tolkien tem vindo sempre a aumentar graças à laboriosa dedicação do seu filho, o público não cessou de glorificar o autor, o que culminou com a sua designação, pelo público leitor inglês, como o Autor do Século nos inquéritos realizados pela rede de livrarias Waterstone, ao que críticos e escritores reagiram com ultraje e (arrisco eu) uma boa dose de inveja. (ahah). No entanto, até certa medida, o público tem contado com o apoio do meio académico, do qual o próprio Tolkien provinha: a obra de J.R.R.Tolkien é estudada em universidades, é alvo de teses, de estudos e tema de um infindável número de livros, guias de estudo, etc. Se é natural que esta batalha literária entre fãs e críticos favoreça a fama da obra e a tenha transportado a um patamar de divulgação onde poucos autores chegam, também é de espantar que o fluxo não tenha abrandado ao longo destas várias décadas...talvez isso se deva ao facto de as publicações póstumas de inéditos proliferarem.

Conquanto me agradasse explorar esta disparidade de posições e conjecturar sobre as suas causa, coíbo-me de o fazer pela necessidade de focar um outro ponto da questão: Tolkien não é um autor fácil de ler. Ou melhor, não é um autor fácil de ler e é, verdadeiramente, um autor difícil de compreender, dada a profundidade do seu pensamento e a forma de expressão que encontrou na ficção, aliado ao seu estilo de escrita elaborado, que enriquece muito (como não podia deixar de se verificar nos livros de um dos maiores filólogos do século XX) a obra em termos linguísticos e estilísticos. Costumo dizer que há duas maneiras de ler Tolkien, que são ler os livros do contador de histórias e ler os livros do professor de Literatura Inglesa...sem dúvida que a última tarefa exige muito mais maturidade, mas a primeira também se torna difícil, uma vez que tudo, na ficção de Tolkien, tem um significado que ultrapassa a simples sequência dos acontecimentos. Além disso, também não se pode esperar compreender inteiramente um livro de um escritor como Tolkien numa primeira leitura...talvez nem numa segunda ou numa terceira...talvez à quinta ou à sexta...

Ora, não sendo um autor fácil de ler, um apologista de valores tradicionais cristãos, da honra, da integridade, da bondade, um inabalável opositor da sociedade moderna de consumo, da maquinaria, da "tecnologia de destruição" (não esqueçamos que estamos a falar de um homem que conheceu na primeira pessoa os horrores da Grande Guerra e acompanhou de perto os efeitos da Segunda Grande Guerra na Europa), podemos questionar-nos sobre o que faz com que a sua obra continue tão ou mais popular que na época da sua publicação. Que elos de ligação se estabelecem entre este pensamento tão profundo e diametralmente oposto à sociedade intelectualmente superficial (na sua maioria) dos dias de hoje? Como podem jovens do século XXI (deixo de lado os adultos, em cujas costas ainda pesam paradigmas herdados do século passado) identificar-se com um autor tão profundamente anti-modernidade como Tolkien?

A resposta a esta pergunta estará, em parte, na história heróica. O heroísmo e o amor pelo sentido épico da vida tem sido sempre uma constante ao longo da história da Humanidade, expresso em textos tão variados como a Eneida, Orlando Furioso, O Senhor dos Anéis, Beowulf, As Crónicas de Fogo e Gelo, entre outros... (e os próprios conceitos galgaram há muito as margens do significado que originalmente detinham, beneficiando agora de uma aplicabilidade muito mais vasta). Creio que, de um modo ou de outro, o sentido do heróico é algo que todos temos, podendo ou não florescer em actos, decisões ou expressão artística. No entanto, a apreciação pela história épica em si não é suficiente para alimentar uma tão vasta admiração pela obra de Tolkien. 

Para mim, a resposta está nos valores que Tolkien defende. Interpretando o seu pensamento além da estreiteza de classificações pré-fabricadas, pode-se concluir que as obras do autor d' O Silmarillion estão alicerçadas em valores herdados de uma vasta tradição literária proveniente da alvorada da literatura, interpretados e tratados de uma forma pessoal por este escritor que foi, também e (pode-se dizer) sobretudo, um pensador, um erudito. Tolkien conseguiu fazer velhos valores sair do armário, deu-lhes cor, forma e expressão, e apresentou-os de um modo intemporal. 

Daqui parto para o último ponto desta breve análise. Este ano, em Maio, foi editada a mais recente de um longo rol de obras postumamente publicadas. Deixando de lado considerações mais profundas acerca da natureza da obra, é de salientar que a mesma introduz Tolkien como novidade literária na segunda década deste ainda novo século - aliás, um dos grandes feitos da espantosa criatividade de Tolkien, trazida à luz do dia pelo trabalho do seu filho, Christopher Tolkien, tem sido o de não se repetir. Cada obra, quer trate ou não a Terra Média, tem sido sempre mais uma folha da árvore, uma nova pincelada num quadro que ainda não pudemos ver na sua totalidade, como se partes permanecessem envoltas em nevoeiro (ocorre-me lembrar, aqui, a pequena mas clarividente narrativa Folha, de Niggle). Página após página, livro após livro, continuamente descobrimos e redescobrimos, sem nunca termos nunca a sensação de já termos lido aquilo. Pessoalmente, tenho toda a esperança de que a publicação de The Fall of Arthur  seja a garantia simbólica da fortuna literária de Tolkien nas décadas vindouras, surgindo como o sinal de perpetuação de uma obra que, claramente, vejo intemporal. Nada mais justo e apropriado, a meu ver - que esta data, em que se lembra um fim, seja também a marca de um início, de modo que se possam abrir novos horizontes de interpretação...opiniões sectárias leva-as o vento. Sabe Deus como precisamos de ser relembrados dos valores de uma obra como esta. 

Tomás Vicente (ex-aluno)