15/04/11

Recordações de uma Sessão de Poesia na BE!


Este poema foi escrito depois da sessão de poesia realizada na nossa BE a 16 de Março de 2011, organizada pelas professoras Filipa Neves e Clotilde Mota. É seguro dizer-se que essa hora deliciosa em que os versos bailaram por toda a biblioteca, ocupando o espaço por inteiro, foi um dos momentos altos das actividades realizadas durante este ano - e, certamente também, um dos mais poéticos. A Poesia é uma divindade exigente e precisa de ser aplacada com generosas demonstrações de devoção, caso contrário, arriscamo-nos a que nos abandone ao acaso, de um momento para o outro. Creio que podemos dizer que sacrificámos às Musas e às Graças (para citar João Aguiar, na sua obra A Hora de Sertório) eloquentemente e de modo sincero, pelo que a Senhora Poesia sentir-se-á, por certo, tranquilizada, e dar-nos-á a bênção dos seus favores oníricos.

E, de facto, ouso acreditar que esta divindade bela e caprichosa não nos abandonará nunca...acho que ela, tal como nós, se apegou à nossa escola e a imbuiu de um pouco das suas próprias qualidades. Podemos sempre, se nos dispusermos a isso, ouvir a poesia ressoar à nossa volta, como um sussurro de amigo, incitando-nos a não desistir. Recordo-me que, nesse dia de Março, os versos correram livres, das estantes aos computadores e ouvimos um eco da deusa Poesia a tocar a sua harpa num lugar tão longínquo e maravilhoso como o Olimpo. 

Lembrando a questão que o Prof. Joaquim Marques levantou, na última sessão em que esteve presente - onde está a poesia? -  e a resposta então encontrada - a poesia está em todo o lado -, pode-se afirmar que, definitivamente, a poesia está cá...está nos corredores coloridos, nos pátios, nas árvores, no verde da erva e do tapete policromático de que a terra se reveste na Primavera. E, o que é mais importante, a Poesia está em cada um de nós, habita em nós e toma-nos conta da alma, se a deixarmos...o que é pena é existirem, no mundo de hoje, muitos "remédios" (que se provam venenos) capazes de extrair de nós a poesia e de a exilar longe, bem longe; devemos manter-nos afastados da farmácia.

É em nome dessa divindade, que tem tanto de imprevisível quanto de apaixonante, que vos exorto: saboreai a poesia e não deixeis morrer a chama.

Agora, aqui fica um poema...

Sessão de Poesia

Anda magia no ar,
Palavras velozmente a saltitar
De espírito em espírito,
De um para outro coração.
Contam histórias de mundos distantes
Ou do nosso vizinho do lado;

São amigáveis ou azedas,
Bonitas ou sem interesse,
Feias e disformes
Ou belas como a lua,
Radiantes como o sol.

São, acima de tudo,
Pintoras maravilhosas:
Pintam belos quadros coloridos,
Dançam ao som de uma música íntima;
Vejo-as formar paisagens,
Prados verdejantes,
Florestas de terras distantes;

Também vejo flores delicadas
Ou pingentes de gelo
E neves perpétuas aveludadas;
Gostam de abóboras do Halloween
E das decorações do Natal;


Vagueiam por campos e bosques,
Detêm-se nas cálidas bibliotecas;
Correm sobre as ondas do mar,
Cantam em coros de crianças;
E ainda dão nomes às coisas,
Terras e países;
Sonhos.

Desfilam os objectos
E elas chamam-lhes lápis,
Página, título, história;
E aos países chamam:
Portugal, Atlântida,
Antárctida, Grécia,
Terra Média ou Dinamarca;
França, Nárnia, Bulgária;
Olimpo e Nifflheim,
 Hades e Åsgard.

Visitam o mar do Mar do Sonho,
Os Cumes da Divagação;
Conhecem e conseguem tudo isto
Sem saírem do nosso coração,
Sem se desprenderem das páginas dum livro.

Tomás Vicente 

05/04/11

Poesia à Solta

As Palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam
(...)
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem  as escuta? Quem 
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

E de súbito desaba o silêncio.
                                                     (...)             Eugénio de Andrade
Na nossa Biblioteca, realizou-se uma sessão de poesia organizada pela professora Clotilde Mota. A turma anfitriã, o 8ºD  dinamizou a dita sessão com a leitura de várias poesias à turma convidada, o 6ºG, que veio em busca de diversão e das maravilhosas experiências proporcionadas por um tal evento, que é sempre, no melhor dos sentidos, único.

Nunca há duas sessões de poesia iguais...cada uma traz sempre coisas novas: a poesia é a expressão máxima, falada ou escrita, do coração e da alma, o mais perto que alguma vez estaremos de transmitir a totalidade das manifestações sensíveis que levam a que reparemos nas coisas com os olhos de quem vê realmente, de quem não se limita a ver o tangível mas passa para além da barreira do que só se pode ver sentindo, um mundo por explorar e ao qual só podemos pertencer verdadeiramente depois de darmos esse salto magnífico a que se chama poesia, a poesia do espírito. E esta sessão foi uma das melhores.

Em cima de uma mesa repousavam vários livros de poesia, Luís de Camões, Cesário Verde, Fernando Pessoa e, claro, Joaquim Marques...a vivência do sentir de vários séculos em que as mesma coisas e a mesma essência de ser-se humano e falível, a certeza de que há algo mais para além de nós, uma maravilhosa aventura que leva à descoberta e, em muitos casos, maneiras diferentes de sentir a mesma coisa, uma vez que cada um de nós vê o mundo com os seus próprios olhos e não com os de outrem, que são, por isso, diferentes e nos fornecem, individualmente, uma perspectiva que vai ser a nossa, a nossa maneira de estar perante o mundo e perante os outros, detentores de uma realidade paralela e magnificamente desconhecida e inalcançável.

A poesia é um veículo de transmissão dessa outra maneira de ver tudo o que é próprio do ser humano, com todas as suas complexidades e perplexidades e, por sua vez, as sessões de poesia constituem um intercâmbio entre espíritos do passado e do presente e é isto que as torna tão especiais: um poema é um batimento do coração que o escreveu, por isso, a leitura de poemas e a sua análise e compreensão são um passo na direcção do entendimento do outro, um acto que nos torna completos por si só, ao abrir o nosso intelecto de modo a recebermos o melhor dos outros. Assim, uma sessão de poesia é sempre algo muito belo.

Logo no início da sessão, a professora Filipa leu o poema "A Biblioteca", de Joaquim Marques, um "hino" que reflecte bem a aquilo que a nossa Biblioteca preserva e representa, assim como todas as outras, aquilo que temos de tomar por divisa ao longo da vida e por que todos temos a obrigação de batalhar. Seguidamente, a professora Clotilde Mota leu o poema "As Palavras", de Eugénio de Andrade, que nos demonstra, de modo instantâneo e flamejante, o poder da palavra, que pode ser o passo decisivo na construção de algo melhor ou uma arma mais destrutiva que um tornado. Seguidamente leu um texto que eu próprio escrevi, chamado "A Morte Morreu de Medo", uma mistura de verso e prosa. No momento seguinte, depois de lidos mais alguns poemas e segmentos textuais, todos da autoria de escritores portugueses, vários alunos da turma do oitavo ano leram poesia aos seus colegas do quinto, dando-lhes a conhecer exemplos da beleza daquilo que o sonho de um ser humano consegue almejar e reter.

Foi, sem dúvida, uma experiência fantástica para todos os que nela participaram, um evento a saborear devidamente e a repetir sempre que possível, porque o termo de uma tal reunião se identifica com os versos finais do poema de Eugénio de Andrade uma vez que, estando todos nós envolvidos na poesia característica da própria sessão, de súbito desaba o silêncio. 
Tomás Vicente (ex-aluno)

02/04/11

O Livro e as Suas Múltiplas Potencialidades



"Um país é feito de Homens e de Livros"
Monteiro Lobato

Cada livro é único. Não raro, ouvimos dizer algo como "os livros são todos iguais" ou "os livros não interessam para nada porque não trazem nada de novo". Quem profere tais afirmações não podia estar mais redondamente enganado, uma vez que cada livro é um universo particular e individualizado, uma perspectiva, uma maneira diferente de ver o mundo, encerrada em páginas feitas de papel por alguém que, de facto, sentiu necessidade de escrever o que escreveu. Assim, cada livro nos dá coisas diferentes, uma vez que cada autor foi um ser humano diferente, com um percurso de vida e preocupações diferentes e que um mesmo autor pode, a cada livro que escreve, desenvolver novos temas e apresentar mais um pouco - ou até uma forma actualizada - da sua posição em relação ao mundo, aos outros e às situações que se lhe vão deparando. Todos os autores imprimem ao livro um pouco de si - mesmo que o façam involuntariamente.

Posto isto, as erróneas frases que citei não têm qualquer validade, uma vez que, contendo um livro tal riqueza, é impossível que não tenha nada para dar. O problema está em querer receber o que ele tem para dar e é na má vontade de quem lê  - ou, melhor, de quem não quer ler - que reside a verdadeira barreira à transmissão do espírito e qualidades do livro para quem nele pousa os olhos.

Todos os livros - pelo menos os bons! -  nos enriquecem; cada um à sua própria maneira, mas todos o fazem. Não há nenhum livro que não acrescente nenhuma peça ao nosso puzzle exactamente porque não podemos partilhar ou conhecer a experiência e perspectivas de outrem sem nos enriquecermos e evoluirmos, pelo menos do ponto de vista humano, uma vez que são os outros quem nos enriquece e nos complementa porque, como dizia Aristóteles, quem não vive em sociedade, ou é um grande deus ou uma grande besta

Como tal, é impossível não sairmos modificados da leitura de um livro. Há sempre alguma coisa que muda, mesmo que não o percebamos logo, uma vez que o livro - como um conceito universal sob o qual se incluem todos os livros -, ao fornecer-nos a experiência alheia, dá-nos, por assim dizer, armas para encarar as diversas situações da vida e as adversidades do destino de modo a estarmos previamente munidos de saber ancestral ou, pelo menos, de alguém com uma experiência diferente e, talvez por isso, reconfortante, produto das formas que outros encontraram para se lhes opor de maneira a conseguirem atravessar os mares agitados da existência. Deixemo-nos pois navegar na aventura que é ler com a confiança de um marinheiro experiente, encarando com bonomia os novos desafios que o futuro trouxer, na certeza de que teremos na leitura um aliado fiel para todas as batalhas. 

Tomás Vicente (ex-aluno)

Dia Internacional do Livro Infantil

Cartaz da autoria de Bernardo Carvalho,
vencedor do último Prémio Nacional de Ilustração

A APPLIJ (Associação Portuguesa para a Promoção do Livro Infantil e Juvenil), secção portuguesa do IBBY divulga uma  mensagem de incentivo à leitura a todas as crianças que podes ler aqui >>> . 
BOAS NOTÍCIAS PARA OS MAIS NOVOS

"CATA LIVROS vai ser um projecto desenvolvido pela equipa GULBENKIAN/CASA DA LEITURA que utiliza a internet para aproximar os jovens leitores de um conjunto de títulos essenciais da literatura para infância e juventude, com destaque para a produção nacional, assentando no carácter lúdico e interactivo das narrativas e desafios propostos.

Animado por uma equipa que inclui João Paulo Cotrim, Fernandina Fernando, Elsa Serra e Mariana Sim-Sim David, entre outros, o portal CATA LIVROS é dirigido aos leitores iniciais e medianos (sensivelmente, dos 8 aos 12 anos).

Os livros abordados são escolhidos segundo critérios de qualidade literária e estética, mas também de representatividade histórica e estilística, sem descurar a atenção ao texto e ao grafismo. Cada mês terá um tema diferente (para começar, por exemplo, «Histórias de bichos estranhos») e, dentro desse tema, um livro destacado e, pelo menos, dezanove outros abordados de modos diversos.

Esta equipa acredita que os livros e tudo aquilo que eles contêm, começando nas palavras e imagens, contribuem para tornar a vida melhor. Acredita ainda que ler é um direito e um prazer que pode ser descoberto com pequenas, mas decisivas, ajudas de outros leitores."

O SITE SÓ ESTARÁ DISPONÍVEL A PARTIR DO DIA 5 DE ABRIL!

01/04/11

Saramago, um amigo de livros



"Penso que estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem."

José de Sousa Saramago foi o único escritor português a ganhar o Prémio Nobel da Literatura e a frase transcrita ilustra bem o merecimento e a qualidade do pensamento deste grande português, que faleceu a 18 de Junho de 2010, em Lanzarote. Esta frase, independentemente do sentido que o seu autor tivesse em mente, tem inúmeras aplicações, uma das quais diz respeito ao livro, que temos o ensejo de celebrar no contexto da passada Semana da Leitura e do Dia Internacional do Livro Infantil

Pode parecer monocórdico o facto de este blog tantas vezes ter necessidade de se debruçar sobre temas relacionados com a biblioteca e o livro, mas, se virmos bem, tais temas têm, na actualidade, uma influência muito grande em todos os outros, uma vez que a palavra escrita é a base de tudo o que existe, é a certeza na presença de uma realidade, e tem sido menosprezada pelas sucessivas vagas de gerações mais novas, de há alguns anos para cá.

Diz-se que ler não está na moda, que ler é uma tarefa desinteressante, aborrecida e que há maneiras mais úteis de passar o tempo. No entanto, não se critica as Redes Sociais, nem os perigos a que a rede de informações a nível global expõe a população e assim por diante. E o pior de tudo é que aqueles que têm poder para contrariar a proliferação de tais ideias e mentalidades nada fazem para impedir o contágio desta "doença espiritual", escondendo-se, em vez disso, atrás de ocos sloganes que defendem a "evolução" por simples evolução, que consiste em corromper o que já está bem feito, o que não pode ser melhorado. 

Esquecemo-nos ainda, com frequência, que antes de criticarmos temos de conhecer e de nos darmos ao trabalho de entender o verdadeiro alcance daquilo que nos propomos criticar, ou seja, esquecemos que nada se faz sem conhecimento. E os livros podem-nos proporcionar momentos espantosos de descoberta e deliciosas horas de sã divagação. Esquecemos que há um património que não é nosso para que possamos decidir sobre a sua sobrevivência e extinção; os livros são um desses monumentos, que não são nossos, não pertencem ao nosso tempo, pertencem a todos os tempos e a nossa missão é fazê-los perdurar.

Assim, ao querermos simplificar o que não tem simplificação possível porque não pode nem deve ter, ao deixarmos abundar defensores da digitalização e ao tentarmos boicotar a leitura, estamos simplesmente a cometer um crime para com as gerações vindouras, um crime que não tem perdão.
Como podemos, então, guiar-nos no meio deste turbilhão ideológico e combater um inimigo que vem ganhando terreno, a estupidez? O fio condutor é este que mencionei, defender o património que nos é "emprestado" temporariamente para que o possamos legar ao rendeiro seguinte em completa integridade.

Este princípio aparece, penso eu, como uma luz ao fundo de um túnel escuro. São os livros que nos iluminam o caminho, como um ideal em si próprios e uma filosofia de vida, dando-nos a luz necessária para atravessar o túnel, um túnel onde continuamente nos perdemos porque estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem.  

Tomás Vicente (ex-aluno)

ABRIL, mês do Livro e das Bibliotecas!


Neste mês assinala-se o Dia Internacional do Livro Infantil
e o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor.


No dia 2 de Abril a leitura será comemorada no Chiado.