13/08/12

Acreditar em Sonhos


Eu acredito em sonhos. Verdade. Eu acredito que os sonhos nos podem conduzir a lugares melhores. Sem sombra de dúvida. Não me refiro àqueles sonhos que chagam até nós quando estamos imersos no esquecimento do sono, aqueles que rodopiam no subconsciente, amalgamados, numa espiral sem tempo e que esquecemos ao despertar; falo daqueles que sonhamos (geralmente) acordados, enquanto caminhamos, trabalhamos, criamos; falo também daqueles que nos preenchem quando seguimos em frente embalados no suave balançar de boas leituras. Mas acontece que sonhar assim é um dom. Porque é que os dons hão-de ser raros? Não percebo.

Bem, eu tenho cá para mim (uma teoriazinha inofensiva, creio eu), que sonhar é um dom inato, vem connosco a este mundo e parte de cá com cada um de nós, no fim da estrada; acho também que cada um de nós tem, pelo menos, uma pequena percentagem desse dom dentro de si (por mais pequena que seja). Mas acho também que é um dom que pode ser educado e cuidado; é como uma pequena árvore, que quer crescer e tem de lutar contra a sombra das copas superiores para poder mostrar o rosto ao sol. Nós também temos de regar os nossos sonhos, fazê-los apoiarem-se em estacas para não desabarem nem se desencaminharem, acarinhá-los, trazê-los no pensamento e deixá-los inundar o nosso dia-a-dia.

Claro está que, visto assim, é muito bonito, mas e quando nos esquecemos de regar os sonhos e eles secam como uma planta sem água? Bom, isso dá mau resultado, quer se reflicta em nós, quer no mundo à nossa volta, e é sempre um mal. A sã capacidade de ter sonhar o Bem, entre outras coisas, faz com que brotem de nós mesmos características que tornam o género humano meritório: bondade, generosidade, solidariedade, honra, honestidade, entre outras. Mas acontece, tal como sucede com as sementes, que nem sempre esse dom se desenvolve da mesma maneira (mais uma vez, reitero que este é o meu ponto de vista, apenas). Muitas vezes consegue crescer saudável e vigorosamente, tornando a nossa vida numa que valha a pena ser vivida, mas há também muitas vezes em que não se desenvolve como seria de esperar. Pronto, coloquei o dedo mais ou menos na ferida. A semente pode apodrecer por quaisquer contingências desconhecidas e não dar fruto; ou pode germinar e a plantinha ser maltratada depois, vergada pelo vento e calcada pelos pés.

Quando esta capacidade germina e se começa a desenvolver é, tal como todas as plantas, tenra e frágil, facilmente molestada pelo vento mais forte. As condições em que se desenvolve podem ser contrárias, esmagadoras, pode fazer muito frio ou muito calor e a planta mirra ou seca ou pode ser arrancada na flor da idade, seja pelo ambiente, pelo que se experiencia, ou mesmo pela própria sociedade. E mesmo quando a pequena semente atinge o tamanho e robustez de uma planta jovem no auge do vigor, pode ainda perecer por ser demasiado podada.

Tanta influência da sorte e do acaso, podemos nós pensar. Bem, sim e não, porque também depende da força interior de cada um. Mesmo nas mais adversas condições pode uma planta dar flor, basta a vontade estar determinada em não deixar o dom mirrar. Sei por experiência própria que a vida nos bloqueia a estrada com muitos obstáculos (muitas vezes mais altos do que nós), e que, às vezes, parece que a nossa boa estrela desapareceu. Mas talvez sejam só nuvens que a encobrem, talvez se soprarmos com força suficiente elas se afastem e nos possamos de novo orientar.

Pessoalmente, não tenho grandes certezas de conseguir afastar as nuvens que cobrem a minha boa estrela e nem sequer sei se ainda me reconhecerei a mim mesmo quando, finalmente, conseguir restabelecer a ordem na minha própria vida entre o céu e a terra, mas sei que, se me aplicar com determinação, posso não deixar de sonhar com isso e desbravar o meu próprio caminho na tentativa de lá chegar. É melhor esta certeza que não ter certezas nenhumas, por isso, resta-me concluir que sonhar sempre tem a sua utilidade, seja qual for o grau de fantasia envolvido. Aqui fica um conselho: não se permitam desaprender de sonhar, pois a capacidade de não nos cingirmos às contingências, de olhar para mais longe (não para mais alto) faz de nós melhores pessoas e dá um pouco mais de cor a um mundo que, manifestamente, se torna ocasionalmente pardo."

Tomás Vicente (ex-aluno)
Este aluno dedicou este texto à avó, que foi, nas suas palavras, uma das pessoas que lhe ensinou que "os sonhos não têm preço, estão além de qualquer preço"