21/11/11

Um Executor Literário Dedicado



Christopher Tolkien, que hoje comemora o seu 87º aniversário, tem sido, desde a morte do seu pai, J.R.R.Tolkien, em 1973, o seu executor literário, responsável pela publicação de muitas das suas obras que, aquando da morte do autor, estavam virtualmente acabadas.

J.R.R.Tolkien era um perfeccionista e a sua escrita denota um cuidado excepcional, refinado pelos seus vastíssimos conhecimentos nas áreas da Língua e da Literatura (Tolkien foi um dos maiores filólogos de sempre, ainda que essa sua faceta fique, agora, à sombra da de autor consagrado). Assim, a elaboração de cada um dos seus livros (ou mesmo de cada uma das partes dos mesmo, em separado) era um processo demorado, mas que avançava com método.

Por isso, não conseguiu dar por concluídas muitas das suas obras (e também aconteceu perdê-las no meio do vasto acervo que foi produzindo, como foi o caso do último livro a sair, A Lenda de Sigurd e Gudrún, que Tolkien escreveu na década de 30 e que, cerca de quarenta anos mais tarde procurava afincadamente, para mostrar o trabalho a um amigo filólogo - morreu sem voltar a encontrar estes seus dois grandes poemas.). A título de exemplo, menciono O Silmarillion, que é disso o exemplo mais flagrante, pois Tolkien começou a escrevê-lo aos vinte e quatro anos, em 1916, nas horas vagas entre os exercícios militares (embarcou para o Somme pouco depois), e, muitas décadas mais tarde, já idoso, na casa dos oitenta, ainda revia e corrigia o texto, procurando sempre refundir e aumentar o pano de fundo da história e os seus aspectos fundamentais, essenciais na sua sub-criação e o pilar da sua obra, renovando e aprofundando a filosofia da sua obra-prima. Há ainda o clássico exemplo de O Senhor dos Anéis, que comparado com a obra anteriormente mencionada parece ter sido escrito à velocidade de uma rajada de vento, que foi escrito entre 1936, quando O Hobbit já estava em fase terminal, e 1955, data em que saiu do prelo o terceiro volume, com os seus vastos apêndices.

Assim, chegado a uma idade mais madura, Tolkien ter-se-á apercebido de que não conseguiria preparar para publicação todas as suas histórias que tinham passado a fase do rascunho. Nomeia então o seu terceiro filho, desde sempre o seu braço direito na escrita, como seu executor literário.

Foi desta maneira que, em 1973, Christopher Tolkien ficou com a "caixa de Pandora" do pai nas mãos. Reformou-se em 1975 e retirou-se para uma casa do campo em França, possivelmente (conjectura minha) para alcançar paz que lhe permitisse entregar-se exclusivamente a organizar, compilar, e editar (em edições comentadas enriquecidas com explicações muito úteis) a obra do seu pai que ficara por publicar.

Nunca poupei nem virei nunca a poupar elogios ao trabalho de J.R.R.Tolkien, que acho acima de tudo quanto li até hoje, mas agora quero aqui fazer menção, especialmente, ao merecimento do seu filho (com idade, nos dias que correm, para ser meu avô!). Pois não é uma demonstração extraordinária de abnegação e de dedicação o que ele tem feito? Não é espantoso como alguém teve a força de espírito para abandonar a carreira académica promissora (com a idade de 51 anos) para se dedicar a levar a um termo as pontas soltas da grande tapeçaria urdida por outra pessoa (mesmo sendo o próprio pai!)? E, o que é mais, fazê-lo infatigavelmente durante quase quatro décadas?

Aos 87 anos, Christopher Tolkien não dá indícios de querer abrandar a dedicação ao projecto que lhe tem ocupado os últimos trinta e oito anos. Pela minha parte, como leitor, muito agradecido estou por isso, pois muitas são as maravilhas que vão sendo dadas ao prelo. Como pessoa, aqui deixo o meu agradecimento a este homem de vontade férrea e incansável e o meu incentivo para que continue o excelente trabalho que tem feito!

MUITO OBRIGADO!

Tomás Vicente

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