08/07/13

Residuais do Blogue "Palavras à Solta" - 2


I
Gratidão

Aqui estou eu,
De caneta na em riste,
A tentar com o papel
E a chama da imaginação
Desatar da gratidão o nó no cordel
Que, por teimosia da mão
Não se decide nem desata
Para esta suave e branca imensidão
Tingir de hábil tinta mulata.

Mas eis que, de algum lado, chega
Aquele sopro no qual o poeta se apoia
E  posso, enfim, o meu nó usar
Para dizer o que me vai no coração.
Assim – inspiração de um momento! –
Deixo aqui poema e sentimento
Para expressar a minha gratidão!
 Rodrigo Gonçalves (ex-aluno)

II
Lamento!

Lamento tudo e nada.
Lamento o tudo por ser tudo
E o nada por nada ser.
Lamento o meio por não existir,
Lamento a falta que me faz
Um pouco de tudo e de nada,
Mistura ideal que me está vedada.

Lamento o tempo por passar
Por mim correndo aos saltinhos,
Por se não deixar agarrar
E por isso em bocadinhos
As minhas esperanças desfazer,
O tempo tudo é!

Lamento o tudo e o nada
E a passagem do tempo
E o dia que se foi
E o dia que se está a ir
E o dia que se irá!

Lamento o tempo,
Que tudo é,
E a sua passagem
Porque me traz o nada.


III
Tempo, o Carcereiro

Coisa estranha, não será,
Que o tempo, o dolente tempo,
Faça, à passagem, prisioneiras?
Mas – assombro! – leva consigo
Todas as coisas verdadeiras,
O mundo onde vivo;
E, diante de mim,
Apaga o caminho que ainda sigo.

Ó tempo, impiedoso és,
Por não te contentares
Em levar, para teu prazer,
As coisas derradeiras,
Rios, lagos, cabeços e pomares,
Quando delas fica o mundo vazio;
Levas-nos ainda o ano velho e sábio,
Deixando para trás o novo em desafio.

E, porque isto não te chega,
Voltas e levas o formoso Estio,
Atrás do qual fica o Inverno frio;

Mas cruel é a vida e tu guloso:
Despidos de todos os adornos,
Parcos na posse de outras belezas
Nos encontras, mas ainda mais riquezas
Nos tiras, pois cativas
Levas as nossas memórias vivas.
 Gabriel Silva (ex-aluno)




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