01/07/13

A Noite - um poema de amor

A janela aberta para a lua
Recebe, indulgente, a fluida prata derretida,
Sobre os pinheiros docemente vertida,
Detentora de uma cintilante beleza só sua,
Tímida magia, verde e prateada, pura.
Infiltra-se no quarto cansado,
Anunciando o regresso desejado
Daquela que da lua segura
O braço firme e sedoso do encanto,
Tão tocante na sua doçura de mel
Que até Natura tomada é de alegre pranto.
Logo, para meu maravilhado espanto,
Entra a nocturna brisa suave,
Que dança no quarto como no céu ave;
No ar navegam folhas forasteiras
Que, revolteando na minha clareira,
Desenham no ar um sublime rosto belo
Ornado pelo longo e luzidio cabelo;
Afasta-se, depois, essa fulgurante cortina,
Ondulante como a erva alta ao vento,
E revelada é a esguia forma corporal,
No meu dormente mundo sem igual,
De uma bela dríade, de contentamento
Rindo formosamente ao luar,
Para dela loucamente se enamorar
O meu coração, em alegre esquecimento.

A miragem aproximou-se, meiga, assim,
Murmurando encantamentos sem fim;
Doce me estendeu a mão de seda,
Cuidando, talvez, que não mais queda
A deixasse permanecer, longe do coração.
Definitivamente rendido a ela fiquei então,
Como se houvéssemos travado fera luta
E na derrota total se alegrasse o vencido,
Pois ela entoou um cântico maravilhoso
Cujos acordes encantados no ouvido saudoso
Permanecerão até á hora, derradeira, da morte,
Que ao longe vislumbro nesta voz de vidente,
Como brilhantes águas resplandecente;
Mas me não apoquente esse fim ou sorte
A quem tal ouviu, pois mais forte
Que os destinos do mundo fremente
Se julga quem agraciado é com o dom
De ouvir da sua cristalina voz o som.
Ai de mim, que, cego às maravilhas de Flora
Inflamadas no canto da minha ave canora,
Magnífica e cegamente subjugado
De quem cuida do florestal gado.

Findo o excelso canto florestal
Daquela bela voz pura, virginal,
A dríade dançante inclinou os cabelos
Lisos, macios, perfumados e belos,
Onde cheirei o odor da minha vida
E da longeva felicidade prometida.
Então ela, que tinha o meu destino feito,
Estirou-se a meu lado no leito
E eu, fraco e sujeito a fadigas e medos,
Eu, o mais ínfimo dos homens mortais,
Deixei-nos ficar sublimemente quedos,
Os destinos para sempre entrelaçados,
E firmemente no âmago da noite abraçados,
Até o sol cruel tristemente me despertar
E o meu sonho apaixonado acabar.

Sem palavras proferidas conversei
Com a Donzela da Noite nesse curto momento,
Tão pequeno para tão pleno sentimento.
Dela chamamentos sem fim ouvi;
Dela a voz dos regatos, emocionado, escutei,
Da erva verde nos prados os estremecimentos senti;
Dela os mil nomes dos ventos conheci
E respirei das árvores os batimentos vitais,
Cálidos e carinhosos sussurros vegetais;
Sempre desde então o reencontro desejei.
Por uma efémera e doce noite paixão
Ardente senti, pela dríade, minha amante
E agora, para toda a minha vida,
Amo a transcendente Natura vibrante.

Tomás Vicente (ex-aluno)













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