01/07/13

Residuais do Blogue "Palavras à Solta" - 1

Passaremos agora a publicar alguns dos poemas que apareceram no blogue criado por um ex-aluno desta escola. O "Palavras à Solta na Net" esteve em funcionamento entre Setembro de 2011 e Fevereiro passado, tendo, no entanto, estado estagnado desde Outubro de 2012. 

A Canção de Morrigan

Cruel batalha se trava,
Num qualquer dia esquecido,
Entre os contrafortes duma distante montanha.

Eis, então, que um homem golpeado
Sem esperança de salvação
Ouve uma bela canção -
- Se canção chamar se pode
A lamento que de belo e medonho,
Traz terror e a desesperança distribui.

Era bela como a água
De um rio ondulante
Que na foz o mar encontra,
Depois de cantando descer das montanhas;
Era lenta como dum herói a marcha fúnebre.
Suave como canção de embalar
Tão chorosa e desesperante
Que ouvidos não há no mundo
Que tal som possam escutar.
Era belamente horrível,
Era a canção da Deusa-Corvo temível,
Era a canção de Morrigan,
Que isto reza:

» Vem, meu guerreiro, vem,
Vem até mim, que estou tão próxima;
Vem, que quebrada está a maldição da vida,
Vem, que no mundo dos vivos nada te retém,
Vem e traz outros também.

Desiste de lutar, que sou das guerras o único senhor
E contra mim não podes vencer,
Nunca me conseguirás combater.
Vem a mim, e pela tua vida não dês penhor.

Até mim, sem mando meu, não podes vir
E também de mim não podes fugir;
Vem guerreiro amaldiçoado,
Que a tua maldição quebrarei
Assim como a tua vida verguei;
Vem, deixa-me nos braços te levar.
  
Eu sou da Chacina o instrumento,
Da Morte sou o cérebro,
Vem, deixa-me lavar o teu corpo,
Pois sou eu do Vau a Lavadeira.
Como tu já lavei muitos outros,
Nas frias águas de gélido rio,

Sou o Corvo da Batalha,
Que tece os caminhos da sua presa
E decide a sua sorte.
Vem, meu guerreiro,
Que já decidi a tua morte. «

Pois que estas e outras coisas
Continuava ouvindo o homem moribundo,
Remeteu os olhos ao céu e lá,
Na alva brancura das alturas,
Viu de enorme porte um corvo altivo.

Soube, enfim, que era chegada a sua hora,
Rendeu-se e nos braços da Morte foi levado,
Pois a Mulher-Corvo das Batalhas
A sua vida tinha feito em migalhas.

E quando o solo tocou, sem vida,
Continuava a sua alma perdida
No outro mundo, ouvindo o horrível lamento
Com que Morrigan chama
Os guerreiros para a eterna cama...
Tomás Vicente (ex-aluno)



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