02/07/12

Música, Aliada da Escrita e da Leitura


"Ah! a música! - disse, limpando os olhos. - É uma magia para além da que fazemos aqui. (...)"
J. K. Rowling, Harry Potter e a Pedra Filosofal 

Foi no passado dia 6 de Junho, aquando do recital organizado pela professora Clotilde Mota, de Português e Francês [...], durante o qual alguns alunos de uma das suas turmas do nono ano declamaram, frente a uma plateia sedenta de boa literatura, o episódio camoniano "O Adamastor" (estâncias 37-60 do Canto V d' Os Lusíadas), que desabou repentinamente sobre mim um pensamento que já vinha tomando forma no meu espírito havia algum tempo: a música e a leitura são inseparáveis. Foi também então que percebi o significado do que um amigo meu me tinha dito uns quantos meses antes: "A música responde-te sempre da mesma maneira".

Já haveis reparado que, ao ouvir uma boa música, nos parece sempre que o mundo à volta desaparece da frente dos nossos olhos ou é, subitamente, povoado de farrapos de histórias não contadas? Quando ouço uma música destas, sou sempre capaz de ver os acordes a formarem imagens, os sons flutuantes sussurrando histórias à parte mais recôndita do nosso espírito, que parece acumular bem no fundo do nosso consciente um álbum estratificado de imagens sugeridas pela música, até que essas possam brotar livremente de nós e converter-se em criatividade. Essas imagens nascidas dos sons compõem um livro paralelo. Quem sabe se a música não é o autor do melhor livro do mundo, um livro donde partem todas as histórias...bem, mas isso também é difícil de saber, porque as histórias partem de tantas fontes improváveis!

Bem, mas a verdade é que o contrário também pode acontecer. Quanto a mim, quando leio um bom livro, um daqueles que tem realmente um significado profundo no seu âmago, sinto sempre uma espécie de musicalidade, de harmonia audível produzida pela associação conexa de letras; conquanto que possa não ir para além do nível da imaginação, essa harmonia torna-se sonora e creio poder dizer que dentro de um bom  livro há sempre uma "banda sonora" em harmonia com o conteúdo. 

E visto isto, podemos interrogar-nos qual o resultado de juntar estes dois tipos de musicalidade, a das palavras e a dos instrumentos? Foi isso que a professora Clotilde fez com a estes seus alunos ao misturar o encadeamento mágico dos versos do maior poeta português com esse outro tipo de magia chamado música. O resultado, claro, só podia ter sido espectacular...afinal, a uma boa história corresponde sempre uma boa música.
Tomás Vicente

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