01/01/12

Sequência poética 8

Eterno Combatente
Ai, que mundo beligerante
Este onde vou vivendo,
Pois dentro de mim batalham
Duas forças em guerra desesperante.
De um lado o fogo ardente,
De maldade recheado,
Do outro a água do rio,
Onde reina a bondade e o sonho e o desvario,
O meu reino pelas chamas ameaçado.
Tremo só de pensar
No que à minha razão sucederá
Se por partida do destino,
O fogo imperar
E a água do rio se esgotar.
Não haverá floresta verdejante
Nem regato murmurante
E secado terá para sempre a humana fonte
Que para mim é segura ponte.
Espero, então, que nesta luta de gigantes,
Que seja a água que comando
A suplantar o fogo que lavra, escaldante
Eu luto ao lado da água,
Para derrotar o outro bico
Do pau de que sou feito;
Luto contra aquilo sou
Para melhor me tornar.
E se à Mãe Natureza parecer
Que luto contra a sua própria criação,
Que desculpada me seja a falta
De almejar a glória tão alta
De vencer a minha negra parte,
Pois precisarei da sua ajuda e de toda a arte
Para banir toda a erva daninha
Que existe dentro da alma que é minha!


Luta Interior
Houve em tempos um homem
De quem agora se encobrem
Os passos, feitos e glória
Nas areias do tempo e da memória.
Esse homem era bom e justo
Mas estava o seu pensamento envenenado
E tentava a todo o custo
Suplantar o seu espírito de alegria e bem
Sob a errada influência de outrem.
Mas não vencia,
Era antes vencido e dominado,
Porque tal influência adversa
A alma com orgulhosa conversa
Lhe tolhia e manietava.
Ele, esse homem digno,
Estava pois numa prisão horrível,
Transparente e impenetrável,
Agrilhoado pelo discurso censurável
Do seu oprimente carcereiro.
Fortes eram os muros dessa prisão,
Tão fortes que a ataque não cediam
E só ele próprio as poderia derrubar.
Assim estava o prisioneiro na prisão

E só dele mesmo dependia a sua libertação.



Um Jogo de Força
Treme terrivelmente toda a Terra,
Por se ver envolvida em dura guerra
Entre os dois feros gigantes que suportam
Este verde e diminuto planeta,
Cujos doces vales comportam
Toda a vida que no extenso mundo
É encontrada pelo célere e brilhante cometa.
Havia, no início, um único
Que em seus braços a Terra tomava.
Era muito o peso o grande e garboso globo,
Mas o bom do gigante não se queixava.
Acontece que veio um dia a amargura odiosa
Em seu cérebro se alojar, poderosa.
Não havia assim um atlante,
Mas dois e opostos espíritos pelejando
Pelo corpo do bom gigante.
Nas mãos lhe pesava cada vez mais o fardo
Que largar não podia, dado o seu fado.
Tremia-lhe o corpo do esforço, de cansaço,
Da luta imensa, que era tal
Que ninguém no mundo viu outra igual.
Certo é que não há nada de mais penoso
Que combater o próprio gémeo odioso,
Que não há nenhuma luta mais dura
Que aquele que contra nós mesmos travamos.
Sacudia então o gigante atormentado
O seu carrego tão pesado,
Fazendo-o saltitar de uma para outra mão,
Tentando lutar contra os desígnios
Do seu tão perverso irmão.


Um Olhar Apenas
Não temo o que olhos maldosos
Vejam em mim de feio ou belo;
Não temo os agravos do mundo
Nem dos deuses, terra ou mar,
Fogo escaldante ou oco ar;
Temo apenas um olhar,
Porque demora a chegar
Não sei disso a razão,
Não sei se é por me afundar em escuridão,
Se é por se ver agora à luz do dia o anão
Que ainda há pouco saiu de fundas minas
Para a realidade doce
Que há muito o esperava
E, fosse ela qual fosse,
Lhe foge agora, escorregadia,
Por entre os dedos,
Levando-lhe a alma fugidia;
Porquê? Não sei.
Algum dia saberei?
Será que o tempo recua
Para nos deixar emendar erros?
É que cego também eu fui
E amargamente o lamentei.
Tarde demais….
O anão saiu da mina,
Mas fora dela nada havia:
Fossem prados verdes ou florestas,
Neves ou chuvas de primavera.
O mundo transformou-se
Agora só há a enorme salina
Onde se colhe o sal das suas lágrimas.
Se esse meu desejo fosse realizado
E visse em mim pousado
O doce e puro castanho,
Que promessas arrojadas
De eternidade eu faria!
T.F.

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