21/01/12

Sequência poética 10

Encantamento
Certo dia um homem andava vogando,
Pelos bosques e florestas cantando.
Apreciando a Natureza profunda,
Que estivera na origem do Mundo.
A pureza daquele mundo
Do globo o lugar mais profundo,
Era sentida no ar leve e fresco
E ao tocar com os pés o solo fecundo.
Num alto sentou-se a observar
A terra imensa e extraordinária
Que a seus pés agora se colocava,
Ouvindo suave rumorejar.
Se era para ele raro prazer observar
Tal lugar belo e eterno
Mais contentamento lhe dava sentir e tocar
O orvalho e a erva ao sol a crescer
E as árvores ancestrais de brilho terno
Decoradas e enfeitadas, como no Natal
Para receber o seu humano primo mundanal.
A ocidente o sol se ia reclinando,
Enquanto dentro da sua cabeça,
De olhos fechados se encontrando,
O martelo da imaginação continuava ressoando,
Como sino de velha catedral
Com o som do seu tempo medieval.
Era som lindo ancestral
Que o humano coração emocionava,
Era o som da imaginação mental
Era da nostalgia doce toque e badalar
Que sempre permanecia a tocar.
O homem os seus olhos abriu,
Procurando o que do som ouviu.
O seu olhar preso ficou
E o coração contra o peito martelou.
A mente enfeitiçada ordenou que se escrevesse
E logo a escrever principiou
O relato do de tal momento

Em que foi lançado tão belo encantamento.


O Penedo Andante
Era um homem velho e curvado,
Pela comprida estrada fatigado,
Que a montanha a custo subia,
Estando de um penedo carregado.
E que penedo era aquele já mencionado,
Que de tão grandemente talhado
Esgotava a hercúlea força dum agigantado
Que ousadamente o tivesse transportado.
Ia o velho o penedo amparando
E nessa tarefa quase morrendo
(Tão horrível era a deste grande estatura)
Quando de cima lhe chega uma voz, dizendo:
» Ó homem velho e cansado
Já devíeis teu penedo ter largado,
Que subir à montanha de tal carregado
Decerto é brincar com o Fado!
Crendo que de Deus era a voz que ouvia
E sendo ele de alma muito pia,
Logo fora o calhau deitou
E, ajoelhando, assim dizia:
» Razão há em tal sentença!
Foi de mim avareza julgar
Que possuía ainda força para um penedo carregar.
Pois que, se encontrais em Sísifo
Ou em gigante da Montanha
Comigo longínqua parecença,
Mais não é que errónea crença! «
» Vai pois de ombros erguidos alegremente
Ó velho explorador da Montanha contente,
Esquece o teu penedo,
Deixa-o no abismo de negridão
Onde seus passos seguidos não serão!
Segue então, alegre e velho viajante,
Sob os pés conservando a pedra cantante
E a rocha vibrante da Montanha deslumbrante.
Deixa que tolo troll ou poderoso gigante
Se encarregue do teu penedo saltitante! «


Os Elementos
Feita foi a Terra segura;
O Mar azul e profundo, paciente;
Erguidas foram as montanhas,
De grande e imponente estatura;
Criados foram os vales e rios,
Onde dançavam as ninfas
Bailando e cantando em desvarios;
Plantados os bosques soberanos,
Onde as pacíficas e ancestrais árvores cresciam,
Colhendo o fruto suave dos seus doces anos…
Mas eis que os elementos pelejam
E guerreiam, e a triste terra dilaceram.
A Montanha contra o Vento,
Lançando-lhe penedos,
Que, ao caírem de novo,
A todos enchem de sustos e medos.
O Vento matreiro esquiva-se
E logo torna, atacando, por sua vez
A grande Montanha brava;
Mas se fosse só o Vento,
Tendo por inimiga a Montanha,
Daria a todos certo alento,
Esperança de recuperação.
Mas assim não sucede, não,
Pois que também o Mar e a Terra,
O belo Rio e a sábia Floresta
Começaram eterna guerra.


As Frias Águas do Rio
Entre as pedras saltitando,
Em passo suave e doce murmurar,
Vão as frias águas do rio,
Saudando o leito de pedras
Lavadas do sonho e desvario.
Lá vão as águas do rio,
Bailando harmoniosamente
Com os peixes que, alegremente,
Rolam nesse belo ondular.
Lá vão as águas cristalinas,
Tudo lavando á passagem –
Até mesmo a ramagem
Que ao rio bondosamente oferece
O velho chorão, que fenece.
O que não lavam, então, as águas
Desse ribeiro transbordante?
Não lavam a justiça e a honra;
Não a branda paciência, a eterna mansidão;
Não lavam os sentimentos puros,
Que sempre perenes permanecerão.
Lá vai a água gélida do rio,
Lavando o leito à passagem,
Para levar de beber
À fértil e verdejante pastagem,
Para lá alguém encontrar
Calor no seu curso frio
Lá vai o ribeiro andando.
Não apaga a corajosa bondade,
Mas já presa leva a malvadez e a vaidade,
Que as rápidas águas afogarão.
No entanto, é certo,
Não é o leito despido eterno lar
Do que de bom mora em humano coração:
Amor, compreensão e humildade,
A alegre e firme amizade…
No infinito descansarão
E muitos e belos universos alcançarão!

T.F.

Sem comentários:

Enviar um comentário