15/10/11

Sequência poética 7

A Língua Universal
Falo muitas línguas,
Sou poliglota.
Conheço tantos idiomas
Quantos os sacos de bolota
Que se podem encher
Antes dum carvalho perecer.
Falo agora duma em especial
(Que é a tal língua universal)
Que limitações não conhece
E de que nenhum ser humano se esquece,
Pois aquele em quem este saber fenece
Logo para o seu semelhante perece
Pois inumano ser se torna,
Pois que também o coração lhe desaparece
E o ser desditoso destino tem
Que já lentamente o ferve em água morna,
Pois que já antes de ser sentido
Era como martelo batendo na bigorna:
De piedade já despido.
Mas estava eu de outro tema falando,
Que a bom porto me vai levando…
Eu conheço essa língua persistente
Que ressoa como da porta o batente.
Dentro de humano peito dá a todos alegria
E lá dentro brilha eternamente.
É a língua que bane a escuridão,
Que não escolhe lugares nem raças
(E fronteiras não lhe faças!),
Mais rica e poderosa que velho sultão;
É a língua bela e impoluta,
Poderosa em imaginação,
Que a todos os sãos anima,
Que tudo rege como uma batuta

E se chama língua do coração!


Decantação
Perdido num mundo confuso estou agora,
Sem conseguir encontrar pela estrada fora
O caminho que devo percorrer,
Antes de a minha vida esquecer.
Envolto estou na irrealidade,
Sem da realidade conseguir separar
Esse estranho e belo cantar
Que é a miragem sonhadora,
Que de reais problemas é saradora,
Escape para um mundo melhor
Onde o nosso sublime isolamento
Nunca pode ser roto ou interrompido
Por qualquer sopro indefinido
Que de reais problemas vem carregado.
Dizem-me pois que devo romper
Esta teia tão bela, tão mágica,
De contrário prevêem-me uma vida trágica.
Mas não o fiz nem o farei,
Pois há no mundo pouca gente
Que se deixa viver contente
Sem construir tal barragem
E lembrar deste belo mundo a passagem.
E se este cálice está contaminado,
De bom grado o beberei
E a minha vida viverei
Nesse mundo que dizem envenenado.
Pois que é a dura realidade
Sem da magia e sonho a beldade?
Nada mais é que vácuo vazio,
Um ave que perdeu o pio.
É esta nossa existência
Como uma parelha de bois
Puxada por dois jumentos
Que em todos os momentos
Se acompanham e equilibram.
Mas quando o da divagação
Vai mais além que o da aceitação,
Nada de errado acontece.
Já se o contrário é visível
É então urgente o caso
Pois depressa a esperança fenece.
Se este belo sonho me traz tantos problemas
Como os que vai solucionando
Isso não me importa nem perturba
Pois que se a vida tenho de enfrentar
Que seja, pelo menos, sonhando!


O Prisioneiro
Um dia vi um pássaro engaiolado
A quem as asas tinham cortado
E tristemente aprisionado.
Eram um pobre pássaro triste
Que os outros melancolicamente
Olhava, enquanto estes cruelmente
À sua frente dançavam
E ali os seus trinados lançavam
Ao frio vento de cortante espada em riste.
Dele me, comovido, me acerquei
Mas com pesar verifiquei
Que embora ajuda pudesse dar
Só dele dependia voltar a voar,
Que cada um tem em si mesmo
O mais cruel inimigo.
Tinha o pobre pássaro
De os seus grilhões bater,
De os limites impostos vencer,
Pois pior não há nada
Que derrotado ser
Sem que a derrota combater.
Eis que um dia os grilhões
Foram alegremente quebrados
E para o pássaro deixou de haver prisões.
E então o derrotado
Mais vencedor não se poderia sentir
Pois horas ficou a repetir
Tais odes e louvores
Bem representadores dos seus valores.
E assim o pássaro voou
E não nenhum carcereiro o apanhou,
Pois voava no céu azul e infinito
Que sempre louvou como bonito!


Tomás Vicente (ex-aluno)

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