05/10/11

Sequência poética 5

Batalhas do Espírito
Duelos e mentes e espíritos,
De intelectos rutilantes
Como rubras espadas sibilantes,
Tinge agora os campos do mundo
E a palavra pode ferir duramente
Como bala que, celeremente,
Se enterra nas entranhas
De quem deambula por estas estranhas
Terras de saudade e crueldade
Onde tudo mudou, rapidamente,
E onde o Bem é apenas recordação
E vã saudade.
E em nós, pobres homens,
A batalha trava-se na alma
(Cérebro ou cerebelo, ou seja onde for),
É lá que se desferem os golpes,
Que se dão murros e recebem
Pontapés, é aí que rolamos
Na poeira da confusão,
Engalfinhados com o medo.
Sangrentas são as batalhas humanas,
E sem que vertam uma única gota
(Isto...é quando é) do vermelho
Líquido interno, que banha o coração.
As armas são argumentos,
Os murros choques e receios,

O inimigo o hábito ou o silencioso medo.


Uma Luta…
Sentas-te defronte,
Recortado contra a luminosidade da janela,
O sol escorre-nos a ambos luz pela fronte
E passeia os raios pelos objectos
Que pela divisão se quedam, quietos.
E começa...
Em perfeita imobilidade
Do físico, tão enganador dos sentidos
(Não te esqueci, velho Platão!),
Tem início a luta épica,
Uma contenda sem idade,
Serena nas palavras e nos golpes.
Pauta-se pelas normas de cavalaria,
De honra, dever e magnanimidade,
Pois o espírito não conhece tempo
E o fair play medieval
Continua muito actual.
Começa assim a lide eterna,
Que parece não ter solução
E nos leva a uma sempiterna
Disputa de mentes e ideais.
Palavra que não sei
Como surgir pode de tamanha amizade
Tão grande e acesa discórdia,
Mas o certo é que a noite segue o dia
E a esta, mais outro alvorecer.
E quer-me parecer
Que a luta travada sã é e natural
E, ou me engana o olho adivinho,
Ou percorreremos este caminho
De novo, sempre diferente, sempre igual;
E então, caindo o crepúsculo,
Serão desferidos mais murros e joelhadas,
O suor da refrega correrá ligeiro
Pelas nossas faces
E a luta acesa no chão de grés
Da alma humana acabará
Não mais, tornando a concórdia
A nascer da pausa para o intervalo
Até ao próximo round.
Mas eis que - maravilha! -,
Soa o apito e os golpes param,
O desacordo é esquecido
E qualquer palavra dura proferida
É rapidamente varrida
E o vencedor ergue do chão o vencido;
Assim que, pasmo meu, a amizade
É renovada na luta do dia-a-dia
Que se trava na arena do espírito.
Até à próxima, amigo, vejo-te no ringue!


Adolescente que Chora
Triste estou hoje
E vivo a chorar.
Vem alguém e diz-me:
Esquece e não chores,
Que chorar nada pode mudar.
Alegra-te pois
Que a tristeza de nada serve!
Ai! Rude voz era esta!
Não respondi, pois o queria era gritar!
Queria protestar,
Mas minha garganta estava muda
E dela nada saiu senão lágrimas e soluços
Queria dizer: «Vai-te embora!»
Ma o choro me dominou sem demora.
Vem então meiga voz,
De alguém amigo,
Diz-me palavras ternas
Essas me acalmam,
Mas só o bastante
Para dizer que estou bem
E pedir sossego.
Deixem-me chorar,
E curar a sim a minha mágoa
Tingida da negra cor
Do mundo exterior.
Nesse momento
Para mim sobeja é a alheia alegria,
Pois na tristeza espero consolo encontrar.
Deixem-me estar triste,
Não quero esquecer,
Quero antes sofrer
Deixem-me com a minha tristeza
Para nela alegria encontrar!


Alegremente Triste
Triste num canto
Estou, mergulhado num pranto,
Sem a nada ligar
Nem com o tempo me importar.
Vem alguém para me consolar,
Com palavras meigas tentar serenar
A minha alma inquieta e triste,
Mas eu sinto-me raposa acossada
E fugir é a minha vontade.
Ai! Os mimos que me fazem ajudam
Mas as palavras sussurradas afligem
Essa alma angustiada
A quem só apetece mais chorar!
Vem alguém,
Alguém para me acalmar
E só me apetece correr,
Alguém vem para me fazer esquecer
Mas eu só quero é lembrar!
T.F.

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