15/10/11

Sequência poética 6

Memória
Para quem escrevo eu,
Poeta sem arte nem certo rumo,
Com que fim ao papel dou
Aquelas coisas em número avantajadas,
Que dos outros a terra comeu?
Para que dou eu ao meu amigo
Que liso é e claro e sisudo –
De confidências mais digno
Que pedra tumular
Da cova que minha há-de ser –
Aquelas coisas que só eu
No coração ainda preservo
E que são as recordações
Do meu que é meu?
Faço-o para relembrar,
Para na história gravar -
Senão na do Mundo
Naquela que é a minha –
As vivências e sentimentos
Dessa alma que eu tinha.
Pretendo honrar as gentes
Que no meu caminho se cruzaram
E pelo meu caminharam,
E também aqueles que eu recordo
Como uma figura indefinida
Na vida já vivida.
E também quem eu lembro
Como pilares duma igreja
Que a minha existência sustentaram.

E nenhum será esquecido!


Filosofia
Um viandante perdido caminha
Pela floresta, muito asinha.
Estava escuro como breu
E das estrelas não se via a luzinha.
Só a clara e cristalina lua se via
E tão desmaiado e triste brilho dava
Que parecia que dela a vida se esvaía
E nada no nocturno céu cantava.
Chegou então o homem extenuado
A um recôndito bosque abrigado,
Onde viu o seu corpo aliviado
Do cansaço que consigo havia transportado.
Da noite altas horas eram já
E o homem derreado
O seu dia deu por acabado.
À luz da escuridão
E da lua branda, que morria,
Em pouco tempo o sono o levou
E ao abrigo das árvores adormecia.
Passada foi a noite,
Tempo em que dormira o homem,
Que, chegando a aurora e os raios
Soalheiros para a terra dourarem,
Tornando-a mais bela
Que a plumagem dos gaios,
Suavemente acordaram o viajante,
Por mil mornas carícias desperto.
Levantou-se então o ledo humano,
Sentindo no rosto a saudação do suave pano
Que é a brisa da azul madrugada,
Pelos belos fios de luz festejada.
O homem viu então que o bosque
Onde do cansaço se escondera,
No cimo de grande morro nascera.
Viu lá em baixo o rio azulado
E defronte, na outra margem,
O sopé das montanhas de cume prateado
Aos pés das quais ficava verde pastagem.
Tal era a beleza daquela paisagem
Que o homem se comoveu e chorou,
E enquanto chorava pensou
E à Natureza louvou.
Pensou na beleza que há no mundo;
Na pureza, imensa como saco sem fundo;
Na bondade que o coração torna fecundo.
Chorou ainda mais…
É este sublime acto
A mais pura filosofia,
Ser capaz de chorar
Por essa beleza de encantar
Que passa o tempo a divagar
Neste mundo benevolente e salutar.
T.F.

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