24/09/11

Sequência poética 3

Escravo da Lua
A lua surgiu por detrás das montanhas…
E com ela,
O Lobisomem que há em mim…
Ergui a cabeça para o luar,
Com um uivo arrepiante,
Pois à minha garganta sequiosa
Não molestava o vento cortante.
O vento mudou e com ele trouxe um odor…
Loucamente rumei, sem sentir qualquer dor.
Enveredei pela estrada, rodeada de abetos.
Negro, um vulto agitou-se na berma,
De um salto o derrubei
E a garganta lhe rasguei.
Não era minha intenção, mas a lua mudou
E a minha natureza imperou
Do sangue provei
E condenado fiquei.
Para sempre

Um escravo da Lua!


Escravo do Sol
A luz ofuscante também cansa,
Fere os olhos e a alma
E anseio por me recolher
À sombra dos densos bosques
Onde é sempre madrugada azul,
Onde a luz amarela não entra;
Preciso do carinho da noite e da lua.
No entanto, nem sempre
Se pode escapar ao amarelo círculo
E, onde estou, não me posso esconder
Dos seus raios furiosos e abrasadores,
Da seca universal que me rodeia.
Estou escravizado e não sei fugir.
Resta-me sonhar com o embalo
Suave e doce das estrelas lá no alto,
O afago suave da lua
E as carícias do doce vento fresco,
Pois estou num país que nada mais que sol
E furioso calor tem para me dar,
Numa terra onde só vejo deserto.


Não Preciso de Lamentos!
Não preciso de lamentos
Nem de pena ou piedade;
Não quero desespero alheio,
Pois me já basta o meu.
Não preciso de desistentes
Que me digam a cada hora
Que também devo desistir.
Não preciso de carpideiras.
Preciso de coragem e apoio,
De um fiel ombro amigo;
Preciso de quem chore comigo
E de quem se aventure na minha empresa.
Não preciso que me digam
Que são poucas as hipóteses
De ser bem sucedido;
Não preciso de quem se acobarde.
Preciso sim de carinho e amizade
E espero por quem ma dará,
Mas o ombro amigo
Não está cá nem sei se voltará.


Não Fui Esquecido
O Sol amanhecia ansiosamente,
Do Leste vindo a suspeita
De que o dia não vinha completo,
Pela omissão do que devia ser dito…
E, quando o dever não foi cumprido,
Que tranquilidade pode o dia
Trazer a quem já a tinha perdido?
Mas, quando a oportunidade
Foi já no curso do tempo levada
Juntamente com aquilo
De que sinto já a saudade
E a esperança tende a ser perdida,
Toca o telefone, barulhento,
E no peito é sentida
A emoção de quem sabe
Que não tem a guerra perdida,
Pois, contra os intentos do olvido,
Se sabe agora que não se foi esquecido.


Páginas em Branco no Livro Aberto
No início, a página era branca,
De uma lisura amistosa,
Regular perfeição espantosa.
No entanto, com o tempo,
Um doce chamamento vai cantando,
Da sua nebulosa brancura,
E à página o conhecimento aflorando
Dos segredos acumulados
Nos anos que vão passando.
Vem na ponta de mágica caneta,
Que desliza, saltita e brinca
Ou fere como aguçada baioneta:
São as águas da represa
Despenhando-se no rio da vida;
Os açucarados contentamentos,
A superação do dia-a-dia,
Com travo a maravilhosas aventuras,
E, insuspeitas, as tristezas duras,
Que atacam do âmago do negrume
Com célere, certeiro e rutilante gume.
Agora o livro já vai longo
Mas a história nem a meio.
T.F.

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