03/09/11

Sequência poética 1

O Pequeno Mocho Sábio
Passa o Pequeno Mocho Sábio,
Levando no bico conhecimentos
E também um ar atormentado,
Por ninguém ouvir os seus ensinamentos.
Ó Mocho Sapiente,
Tentas ensinar quem nada sabe
E empregas nisso grande dedicação,
Ensinas tudo sem que a tua ciência acabe,
Mas nada recebes senão ingratidão;
Não te preocupes nem te aflijas
Com essa turba exigente
Que nada tem de inteligente.
Não chores, Mocho simpático,
Que pelo teu nobre empenho
Receberás ainda a merecida recompensa –
- Disso certeza eu tenho!


Que Vejo Eu?
Que vejo eu?
Vejo uma estrada percorrida,
Uma ribeira navegada
Num tempo que já se escondeu.
Vejo um caminho de alegrias,
Tristezas e fantasias,
Loucas e belas como todos os instantes
Dessa rua conhecida
Que é o passado da vida.
E vejo rostos, muitos rostos
De gentes há muito idas,
Rostos queridos
Que por mim passaram
Nestes anos sofridos
Vejo um estrada andada,
Uma ribeira navegada,
Um carreiro de verdejante esperança
Que, desde a partida
Até aqui me trouxe
Pelos caminhos de uma vida percorrida.


Rolando pela Encosta
Rolando pela encosta vai uma pedra,
Deixando no alto o lugar onde medra
A própria raiz da sua existência;
Rolava suavemente com paciência.
Para ela não contavam os anos,
Rolava sem pressas, matreira,
Rolava calma pela ladeira
À procura de pés desprevenidos
Para lhes pregar uma rasteira.
Mas eram velozes, naquele tempo,
Os pés que andavam nos caminhos,
Pois a encosta conheciam como a si mesmos
E a pedra rolou, rolou

E nunca o seu alvo encontrou.


Regresso a Casa
Da viagem cansado,
Já pelo mundo derrotado,
Chego ao limite conhecido
Do lar que me é querido.
Mas, num rápido repente,
Deixo de me sentir contente:
Tudo parece mudado
Ainda que, por fora, inalterado.
Que é este terrível feitiço,
Que faz meu lar parecer mortiço?
Estou agora tão desgostoso
Como antes me sentia ditoso.
Deambulo pelo perene recanto
E, desesperado, acomete-me o pranto.
Terei sido eu a mudar?
Não sei, mas que alívio é regressar!


Curando Feridas
O homem ferido descansava,
Em verde relva estirado,
De muitas feridas sangrando,
O verde solo de vermelho manchando.
De roda estava muitos vultos olhando,
De branco, puro e luminoso, vestidos.
Viam que o sangue que a relva tocava
Eu fumo vermelho e vapor se transformava.
Sobre o ferido debruçado estava
Um curandeiro que em voz baixa murmurava.
Tratava-se pois do mais alto e sábio dos Druidas,
Que, no entanto, curar não conseguia tais feridas.
Eis que, então, se levanta o curandeiro,
O sábio rosto triste e o corpo rígido como madeiro.
» Não posso eu, nem vós, a este homem sarar,
Que sofre dum mal de alma e não do corpo.
E esse mal amor se chama,
Mal que não se vai por remédio ou cama.
De tal mal só ele a cura pode encontrar.
Deixemo-lo pois ao seu destino buscar! «
Dito isto virou costas,
E a clareira abandonou e atrás dele
Longa procissão se formou
E a clareira o grupo de druidas deixou.

Tomás Vicente (ex-aluno)

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