07/08/13

Opiniões Cinéfilas - "Harry Potter"



Ideias pré-concebidas são um osso duro de roer! E podem tornar-se um obstáculo psicológico à aquisição de valiosos conhecimentos ou ao enriquecimento pessoal através de extraordinárias experiências! Ora, eu próprio tive a prova disso no que diz respeito tanto aos livros como aos filmes da série Harry Potter. Em 2001, quando foi lançado o filme A Pedra Filosofal, a mãe de um amigo meu comprou a cassete e vimo-la todos juntos, numa em que o temporal vindo do mar varria a pequena povoação (orgulhosamente auto-proclamada "ilha") marítima, outrora uma vila piscatória, onde passo férias no mês de Julho, desde que me lembro. Nessa altura eu tinha seis anos e já tinha ouvido os meus colegas da primária a falarem sobre o filme, a grande sensação do ano. Todos o achavam fantástico. 

Tenho de confessar que, então, não o quis ir ver ao cinema, porque as descrições me meteram medo. Não tenho vergonha de admitir que, então, eu era extremamente medricas (mais do que a pouca idade de então justificava) - digo que não tenho vergonha de o admitir porque agora já não o sou. 

Nessa noite de temporal, reunimo-nos todos ao serão para ver (ou, para alguns, rever) o filme e envergonho-me (isso sim) de admitir que, a maior parte do tempo, tive os olhos fechados e apenas fui espreitando por entre os dedos, depois de perguntar se era "seguro". Anos mais tarde, apercebemo-nos do quão ridículos somos. Enfim, coisas da vida. Por aqui se vê que, por medo de conhecer, por medo dos medos, durante os primeiros tempos, não tive qualquer tipo de admiração por Harry Potter. 

Mas o destino prega-nos sempre partidas (e ainda bem que posso dizer que, pelo menos culturalmente, nem sempre são más) e este estava determinado a mudar a minha opinião. Assim aconteceu que a minha tia, que mora no Luxemburgo, me ofereceu, um dia, os quatro primeiros volumes da obra-prima de J.K.Rowling. Durante muito tempo (e mais uma vez, se me tivessem visto nesses tempos, as pessoas que agora me conhecem relativamente bem teriam notado a ausência de uma das características que em mim é mais acentuada), eu nem sequer gostava de ler, quanto mais ler Harry Potter. Mesmo quando comecei a ler, a minha curiosidade não me puxou para eles e os volumes foram ficando na estante, a apanhar pó. 

Em 2007, já a minha mãe tinha começado a dizer-me, acerca deles, uma frase que sempre foi muito do seu agrado: se não os vais ler, o melhor é dá-los. Mas, quando, em Julho desse ano, fui de férias para a mesma casinha alugada na praia, já a leitura era uma constante. Assim, numa reviravolta de 360º, nesse mês esgotei as minhas reservas de livros e, quando a minha mãe veio a Lisboa, a meio da temporada, vim também, para ver o que podia levar para ler. Depois de escolher mais alguns, parei a olhar o presente da minha tia...e, pela primeira vez desde que os recebera, deitei a mão aos primeiros e levei-os comigo. 

Por volta de 15 de Julho, num dia cinzento (sim, cinzento e chuvoso!), comecei a ler Harry Potter e a Pedra Filosofal e logo as palavras iniciais despertaram em mim uma atracção singular: "(...) Quando o senhor e a senhora Dursley acordaram, na manhã cinzenta e pesada de terça-feira em que começa a nossa história..." E assim li o livro em quatro dias. Desde aí, não mais parei e, quando as férias de Verão terminaram, em Setembro, já eu estava bem lançado no quinto volume, Harry Potter e a Ordem da Fénix, e, uma vez chegado às férias de Natal, li o sétimo (saído em Outubro desse ano) numa semana de intensa leitura. Nunca mais me esqueci do efeito que essas histórias tiveram em mim e, de vez em quando, abro um dos volumes numa página ao calhas (outras vezes, à procura de um momento em particular) e começo a ler. Harry Potter foi a obra que me fez amar a leitura. Eu já lia muito, mas lia freneticamente e, muitas vezes, nem sequer deixava o espírito respirar o enredo. Com os livros de Mrs. Rowling, pela primeira vez experienciei aquela arrebatadora sensação que nos percorre quando encontramos um livro de que realmente gostamos: queremos ler tudo e não nos levantar do sofá até termos chegado à última página e, ao mesmo tempo, queremos que a história dure tanto quanto possível. 

Não fui - não exactamente - transportado para o mundo do livro. Antes passei a reconhecer o livro no meu mundo; em vez de saltar para dentro do caldeirão da magia, fiz o caldeirão transbordar e inundar a minha realidade. Esse é um dom raro, e a criadora do jovem feiticeiro de óculos redondos e cicatriz em forma de raio possui-o (à semelhança de Tolkien): permite-nos ver magia à nossa volta, em actos e coisas que sempre lá estiveram e que, até então, havíamos considerado sempre banais.


Assim, é com satisfação que aproveito para escrever também sobre os filmes produzidos com base nestes maravilhosos livros (desfaço-me de curiosidade só de pensar que teremos de esperar até, pelo menos, 2017 para saber o que Rowling dará ao prelo a seguir!). Sim, porque depois de ter ficado fã dos livros, tornei-me fã dos filmes, que captam, na perfeição, a atmosfera engendrada por J.K.R.

Tenho uma predilecção pelo primeiro e pelo terceiro filmes, bem como pelo oitavo (não esqueçamos que o último volume deu, justamente, dois filmes). Depois de tanto ter dito sobre os livros, acho-me com pouco fôlego para falar dos filmes, apenas porque as qualidades são as mesmas. Devo referir que os actores escolhidos encarnam perfeitamente as personagens que lhes couberam e souberam dar profundidade e credibilidade à representação de "pessoas literárias" tão complexas e completas. Só mesmo actores ingleses.

É impossível para aqueles que realmente gostaram dos livros não se sentirem voar nas asas de um sonho de infância ao verem cenas como a chuva de cartas que atinge a casa dos tios de Harry no primeiro filme, ou Ron vomitando lesmas no segundo, bem como a fantástica cena, mostrada no terceiro volume, de Harry voando em Buckbeak

Tal como acontece com os livros, os filmes vão crescendo em complexidade psicológica das personagens, das situações, etc, construindo assim uma segura gradação, que nos conduz a uma apoteose que culmina com a Batalha de Hogwarts.

Não posso explicar-me melhor ou transmitir mais eficientemente o encanto da história, por isso, encurtando um discurso que já vai longo, digo apenas: leiam os livros, vejam os filmes, e vão perceber tudo o que eu disse e tudo o que eu não consegui dizer.

Tomás Vicente

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