15/03/13

Um História para a BE: A Fábula da Aranha


“Velha aranha gorda numa árvore a tecer! (…)
Não páras de tecer para me procurar?

Velha aranha manhosa, só corpanzil,
Velha aranha manhosa, espiar-me não podes!
Aranha, aranhona,
Cai daí a baixo, glutona,
Nunca me apanharás a subir a tua árvore!”
J. R. R. Tolkien, O Hobbit


Quero contar-vos uma história. E, como acontece com todas as histórias, esta pretende ensinar-vos algo. Ora vejamos o que são capazes de retirar dela…
Esta é a história de uma grande aranha, muito gorda, feia e cobiçosa que passava os dias a tecer a sua teia de engano e perfídia. Era uma azeda até á medula dos ossos e a única coisa que lhe ocupava o espírito era a procura de comida. Para isso, lá ia estendendo a sua teia, fiando e tornando a fiar…Todos os dias e aranhona gorda apanhava centenas de moscas incautas, que caiam na sua armadilha que nem patinhos, e comia-as todas, sem deixar uma migalha que fosse. Era um prodígio da gulodice.
Expulsava as outras aranhas das redondezas, porque não queria concorrência e tratava-as altivamente, olhando-as do alto do seu soberbo orgulho. Era a Rainha-Aranha das imediações.
Mas lá por ter barriga grande não ficava mais inteligente – diga-se de passagem que a sua barriga era tão grande quanto pequenos eram os seus miolos. E, por não ser lá muito esperta, não percebia que quem abusa da sorte corre o risco de cair do poleiro.
Certo dia, um gafanhoto atarracado e matreiro ia a voar baixinho, mesmo em direcção à teia da aranha mas, vendo o obstáculo, deu uma guinada súbita para cima e safou-se. A aranha, que tinha visto o sucedido, ficou furiosa. Mesmo não sendo um crânio, sabia tirar vantagem das derrotas e precaver-se contra o futuro. Por isso, falou ao safado do gafanhoto, que a fizera perder o jantar, tão melosamente quanto conseguiu:
- Olá, senhor Gafanhoto!
- Olá, Gorducha. – retribuiu o gafanhoto, desdenhando da  cortesia da aranha, que, sabia-o ele muito bem, era doutora em logros.
- Não me poderias dispensar uns minutos do teu tempo? Precisava da ajuda de alguém como tu…
O gafanhoto, rindo para consigo, replicou:
- Ora, diz lá o que queres que eu faça?
- Nada de muito difícil…olha, estás a ver aqui a minha teia? Está tão sedosa e cintilante…mas não sei se é realmente eficaz. – observando o gafanhoto, largo o pedido – Podes ajudar-me a testá-la? Só tens de ganhar balanço, lá bem ao fundo e investir contra ela.
O gafanhoto riu para consigo de novo, ainda com mais gosto. Decerto que a malvada da aranha contava, com aquilo, alcançar um suculento jantar: ele próprio. Mas ele ia fazê-la arrepender-se…
- Oh, claro, conta comigo. – e, tomando balanço, investiu numa determinada direcção. Mas, mesmo antes de chegar à teia, deu de novo uma guinada e passou por baixo dos fios da teia, ao mesmo tempo que a aranha investia contra o sítio onde contava que ele estivesse e alguns fios se enredavam nas suas patas traseiras.
- Agora deste lado – pediu a aranha.
Andaram assim muito tempo, sempre sem que a aranha alcançasse a sua ágil presa; e a cada investida, as suas pernas ficavam mais enleadas na teia. Depois de mais algumas furiosas tentativas por parte da avara comilona, o gafanhoto, mirando-a, disse:
- Então, Gorducha, ainda queres que teste a tua teia mais algumas vez? É que, pelo que vejo,  está excelente…para te apanhar a ti mesma! Aí tens um belo nó para desatar!
E foi-se embora a rir, deixando a aranha totalmente envolta pelos resistentes fios de seda. Eis como uma aranha se vê apanhada na própria teia!

Tomás Vicente 

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