29/02/12

Sequência poética 12

Não Sei o que É o Mundo
Não sei o que é o mundo,
Não sei se é justo ou injusto,
Não sei se belo e radiante
Ou medonho e disforme;
Não sei se o sol brilha lá fora,
Não sei se são nuvens o que da janela vejo;
Não distingo os céleres pássaros do ar
Das calmas e mudas árvores da terra;
Apenas sei que, dentro de mim
Existe um vulcão que me queima
Como se separar quisesse o corpo da alma.
No entanto, todos pensam que sou de gelo.
Ai de mim! Não há pior castigo
Que ser ignorado, tido como neve
Que se esfuma ao sol primevo,
Por aqueles a quem ofereço
Todos os centímetros cúbicos
Da lava do meu coração.
No entanto, a esses distantes espíritos,
Quais electrões que fugiram ao núcleo
Do átomo, não consigo eu chegar
Pois eles só vêem o que querem ver,
Vêem o vulcão extinto e a perpétua

Neve de um falso Inverno que o cobriu.


Nem Sempre Sombras
As nuvens cobrem o céu claro,
A suave alvura onde me deparo
Com os sonhos do coração,
Toldando essa esperançosa imensidão.
Já nada brilha na Terra;
Já ninguém levanta alto as armas
Quando se prepara para a guerra;
Já ninguém canta a alegria de viver;
O mundo afunda-se em sombras
E passadas são a gentileza e glória
Que lhe couberam em tempos recuados…
Desaparece na vã e escura escória;
O sonho já não vive, ardente;
A inspiração é chama extinta,
Um rescaldo, outrora quente,
Uma decrépita lareira, antes distinta.
Mas para mim nem tudo são trevas,
Pois saí das sombras e da escuridão
A que me votara a crua obliteração.
Fui, porém, visto por entre a névoa.
Viste-me assim como sou,
Talvez estimável
Ou simplesmente suportável,
Mas basta o que viste, já me reconfortou.
É que eu sempre cuidei ser
Invisível: sombras, inglória esperança,
A desesperada e néscia confiança
Que sempre acaba por perecer.
Parece-me que, desta vez,
Será o fim da história diferente
Assim em entrega o surpreendente Destino
O insuspeito presente que para mim fez.
Ó escuridão, que o Sol ensombras,
Vai-te, deixa esta vã tarefa
Que é, agora, apoquentar-me
Pois, para mim, já nem tudo é sombras.


O Olhar Perdido na Distância
Olhar estava perdido na distância,
Preocupavas-te com coisas urgentes,
Grandes problemas galácticos
E lutas de gigantes que só tu vencerias,
À força da persistência e de nervos de ferro.
No entanto, desesperavas, caías no caminho.
Várias vezes te levantei e ajudei,
Mas, apesar disso, nenhum reconhecimento
Me veio do auxílio prestado
Ou algum agradecimento jamais
Ornou o que quer que me dissesses.
Agora que os dias se alongam
Sobre esses já idos momentos,
Vejo as coisas de outra forma,
Do prisma do tempo
Que, faça eu o que fizer,
Põe as soluções fora do meu alcance.
Agora, pensando bem,
Acho que nem sequer me viste lá
E, no entanto, estive sempre ao teu lado.
Viste outros, sonhaste longamente
Alcançar e conquistar
Aqueles que te zombavam.
Nunca repudiei o esquecimento
A que me votaste então
E mesmo hoje não me queixo
Dessa dolorosa decisão.
Mas agora que estou triste
E precisava de reclamar a herança
Dos meus feitos passados,
Não chega ninguém para me ajudar a mim.
E, no fundo sempre soube
Que será sempre assim.


O Feiticeiro Andante
Pelos montes de bela terra selvagem,
De nórdica e impiedosa beleza encantada,
Uma terra de miragem e sonho,
Caminhava um jovem solitário,
De negro manto coberto
E sob ele envergando negra túnica.
Levava consigo grande bagagem
Que, flutuando, à sua frente seguia
Como um guia imperturbável.
Eram um aprendiz de feiticeiro
Que, caminhando sereno, se encaminhava
Para a sua escola de feitiçaria,
Que era um mundo novo e por descobrir
Onde mágicos ensinamentos poderia ouvir.
Por momento como este tal
Esperara todo o Verão infernal.
Voltar a tal lugar bênção era e seria
Sempre, pois nunca se viu mais belo lugar
Que aquele onde para onde se dirigia,
Lugar esse de que era mágico,
Uma eterna fonte de sonho e maravilhamento
Onde ensinar era por certo prazer
E alegria havia em aprender.
Assim, pela calma dos bosques,
Que grande floresta formavam
Contentes os seus pés caminhavam.
E eis que estando já em terrenos do castelo
Cujos muros a escola abrigavam,
Acelerou o passo, ansioso para lá entrar
E o conforto alegre de tal sítio experimentar!



A Última Canção da Fénix
Altivas se erguiam as montanhas,
De um verde profundo as terras abaixo delas,
Prateados os ribeiros e rios,
Elegantes as árvores velhas e torcidas
Que ao vento sua juba agitam.
Cai a noite embaladora,
Tudo submergindo em doce calma,
Apagando o do dia dourado brilho,
Para às florestas e lagos adormecidos
Dar o seu prateado e suave,
De nostálgica e leve cintilação.
Lá longe, na noite iluminada
Um pássaro sobrevoa a densa floresta.
É luminoso como a esperança
Perene como a amizade,
Roxo, vermelho, dourado,
Pela luz cintilantemente prateado.
Começa a cantar uma linda canção
Que, desde antes da primeira nação,
Ao bom e justo homem
Dá coragem e fortalece,
E ao hediondo e malévolo
Dá temor e enfraquece.
Era uma canção pura,
Imaculada como da lua o prateado,
Era suave como brisa nos bosques,
Forte como a montanha severa.
Na sua beleza inigualável
Transparecia o desgosto e tristeza
De um bardo que mais não pode cantar
De alguém que o mundo vai deixar
Na nota mais bela da canção
A ave bela perdeu a voz,
Quedando-se em magoado silêncio.
Sobrevoou uma vez mais a floresta,
Soltando longo e triste lamento,
E quem, naquela noite estrelada
Viu tudo isto que contei
Soube, nas profundezas do coração
Que nunca mais ouviria aquela música,
Pois, ao voar em direcção às montanhas,
A bela fénix fora-se para sempre.
Tomás Vicente (ex-aluno)

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