19/06/13

A Corrida e a Meta


Triunfar é importante. Talvez até o seja mais nas coisas simples que nas grandiosas, pois nas grandes, já toda a gente espera uma realização magnífica. Por outro lado, no âmbito das coisas simples (e, em muitos casos, as melhores) da vida, o que sobressai não é o triunfo, mas a maneira como é atingido. Isto impõe-nos primor no alcance das nossas vitórias diárias. 

Devemos passar de ano na escola da vida tendo sempre em atenção que as notas, por si só, não contam. O que conta é o que deixamos atrás de nós. Podemos atingir a meta pretendida, mas se algum dos nossos companheiros de viagem ficar pelo caminho (ou algum viandante com quem nos cruzemos), então os nossos feitos terão sido vãos. Não devemos ter medo de estender a mão a quem precisar, não devemos ter medo de partilhar o que alcançarmos pois, quanto mais doações dessa índole fizermos, maior a felicidade secreta em que podemos alimentar o nosso ânimo, pois, antes de a jornada findar, as pessoas a quem devemos o que temos já irão constituir uma lista bem longa. Procedendo deste modo, temos menos hipóteses de nos esquecermos de agradecer a alguma delas.

Podemos dizer que a vida é como uma corrida, todos queremos alcançar uma certa glória ao chegar às metas que formos passando, todos queremos fazer um bom tempo. Mas devemos partir, mal soe o apito, não tendo em vista os louros que, porventura, nos possam aguardar no final; ao longo da dura jornada até à meta, devemos ter como prioridade estender a mão a quem tropeçar e cair e, no caso de haver joelhos esfolados, apoiar essas pessoas até à meta, mesmo à custa do nosso próprio avanço e de duro esforço. Não esqueçamos que, um dia, podemos ser nós a cair e a precisar que nos ajudem a continuar.

Por conseguinte, custa-me muito olhar em volta e ver que cada vez menos pessoas o fazem. É certo que podemos ter a sorte de, deste modo egoísta, suar menos e chorar pouco, mas isso pouco importa porque, assim sendo, não saberemos dar valor a nada, porque nada vai ter valor. A partilha é a chave para a valoração. Ao privarmo-nos de dificuldades, das pedras no caminho, de que Fernando Pessoa fala, não vamos nunca alcançar a felicidade pois, mesmo que alcancemos esse estado de graça, nunca o saberemos. Nunca saberemos construir o castelo

Entristece-me profundamente ver que as pessoas estão a perder a capacidade de dividir (ou mesmo abdicar) dos louros da sua actividade. É certo que a luz de uma vela se nota mais se estiver sozinha na escuridão, mas o seu alcance também é menor. Sabemos lá nós as maravilhas que podíamos obrar se fôssemos menos sôfregos de triunfo e reconhecimento. 

Cabe a cada um de nós estabelecer qual a meta que pretende atingir. Podemos alcançar grandes coisas, ter grande projecção mas se, num círculo de menor raio, mais pessoal e mais restrito, não soubermos ser alguém melhor por não vermos senão o que se encontra muito à frente, então tudo o que atingirmos é vazio. Pensai bem antes de fazerdes a vossa escolha, pois só há uma corrida, a vida é apenas uma e a meta é tudo. A solução não é ter mais tempo, mas usar mais generosa e sabiamente aquele que nos é dado viver.

Tomás Vicente  (ex-aluno)

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