31/07/13

O Cilindro de Ciro

"(...) Um dos primeiros (...) livros do mundo.
O chamado "Cilindro de Ciro", que mostra gravado em argila, um conjunto de leis e indicações para o bom governo do povo. Ele foi feito pelo rei persa Ciro, o Grande, após conquistar a Babilônia em 539 aC. Cerca de 24,5 cm de comprimento, está gravado em acádio cuneiforme. (...)
Uma curiosidade: em 1971, a ONU publicou o texto completo em todas as línguas dos países membros como a primeira declaração de direitos humanos na história.
[British Museum, Londres]"


Opiniões Cinéfilas - "Traveler"



Há alguns anos, passou na televisão uma série chamada Traveler, da qual nunca chegou a ser filmado o fim, o que é uma pena, porque a trama era bastante interessante e seria muito engraçado descobrir como tudo iria terminar.

Penso que devo ter visto a série em 2007, e já não me lembro bem dos pormenores, mas lembro-me que se iniciava com um ataque à bomba a um museu e de que as suspeitas desse atentado recaem sobre dois estudantes universitários, ali atraídos pelo colega e amigo, William Traveler, que desaparece misteriosamente após o incidente. O FBI logo enceta uma caça-ao-homem, apertando a rede em volta dos dois fugitivos (pois nisso se tornam entretanto). 

Estes, por seu turno, fogem como podem, de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, tentando escapar à perseguição policial e, ao mesmo tempo, encontrar Will Traveler e esclarecer a sua situação. Num enredo realista, plausível, vemos a força da união, de um objectivo comum, da amizade, a complexidade da interferência de terceiras pessoas, da sensação de se viver num mundo opressor que ameaça, a todo o momento, desabar sobre a cabeça de quem nele vegeta...e vemos as personagens caminhar para um final...(in)esperado...

Recomendo vivamente, apesar de a série ser agora um projecto morto, não continuado...mas, ainda assim...

Tomás Vicente

27/07/13

Residuais do Blogue "Palavras à Solta" - 4


Amizade

Muitas palavras
A amizade poderiam descrever,
Mas nenhuma suficiente seria
Nem todas juntas o conseguiriam.

A Amizade é como o fumo,
Impossível de agarrar,
Que ninguém pode aprisionar,
Uma águia orgulhosa
Que jamais será abatida.

É uma contenda
Onde inimigos não há,
Uma batalha
Que não se pode perder,
Um duelo que ninguém pode vencer
Nem derrotado ficar.
É como dois barqueiros
Apanhados na tempestade da vida,
A quem a procela fortalece,
E que impedem sem cessar
O naufrágio um do outro,
Tantas vezes iminente.

É como um pavio que arde sempre,
Sempre lentamente,
Sem nunca se extinguir.

É um vento que ateia forte lume
E que as chamas refreia
Quando selvaticamente estão lavrando.

E é como dois pássaros,
Voando na mesma direcção,
Que juntos rumarão
Para o infinito do céu!
Gabriel Silva (ex-aluno)


II
Poema a Alguém…Especial

Eu sei de alguém especial,
Tanto que ninguém lhe é igual;
Possuiu beleza surreal
E os olhos são de cristal,
Reflectem o sonho e a terra,
O mar azul e a verde serra.

Ó bela inominável,
Para mim inolvidável é o teu olhar,
O teu sorriso tem mil pérolas!

Espero a hora longínqua, que demora,
Para o cativeiro abandonar
E te poder ver no campo a dançar.



26/07/13

A Resistência do Ser Humano


O ser humano é um bichinho resistente, não é? Conseguimos arcar com muito mais do que aquilo que, à partida, seria previsível - e aguentar provações que nós próprios diríamos que não conseguiríamos superar nem suportar; pelo menos não saindo com o juízo intacto. Parece que, afinal, não somos assim tão diferentes (bem, eu falo sempre na generalidade, mas devo salientar que me refiro sempre a um universo de pessoas mentalmente sãs e de bons princípios e nobres valores, o que reduz bastante o número) dos pequenos grandes hobbits do universo da sub-criação de Tolkien. Também Frodo conseguiu transportar um fardo gigantesco numa jornada que, à partida, estava condenada ao fracasso.

"(...) E o fio da angústia não se quebrou e a dor não se tornou insuportável. Então, porque continuava a suportá-la e a ser capaz de avançar, sentiu-se simultaneamente consternado e consolado e compreendeu que, de uma maneira um tanto vaga que, afinal, não há nada que não sejamos capazes de aguentar(...)" é o que nos diz Edith Pargeter no numa das últimas páginas do segundo volume da trilogia "A Árvore da Vida", O Ramo Verde. E, assim é de facto. Apenas quando nos encontramos numa situação realmente extrema, seja física ou psicologicamente, compreendemos estas admiráveis palavras. Não há nada que não sejamos capazes de aguentar, de uma maneira ou de outra. O factor decisivo para o nosso conflito interior se decidir entre desistência ou persistência está no nosso espírito. Fazemos de nós próprios aquilo que a nossa alma quer mas, à partida, temos hipóteses de optar com a absoluta liberdade por qualquer coisa porque temos em nós meio de optar e arcar com as consequências de qualquer um destes dois caminhos. Resta-nos fazer bom uso, um uso bom e recto, desta admirável máquina viva e emotiva que é o corpo humano....

Muitas vezes, as trevas parecem demasiado negras para que alguma luz possa existir nelas. Mas, depois, para nosso espanto - se não nos entregarmos ao desespero -, descobrimos que há sempre um farol na noite, há sempre uma candeia na escuridão. As trevas não podem ser absolutas. Que sentido teria o mundo se assim fosse. Chamem-me idealista ou sonhador, não importa. Seja. Eu acredito que assim seja e espero que a vida permita que eu me some ao número dos que não se derrotam a si próprios com o desespero, porque, palavra de honra, às vezes já não sei de onde me vem a razão nem as forças para o fazer. E, por vezes, tremem mesmo e querem fazer esboroar-se o castelo que vou construindo e as protecções que vou erguendo. O mundo tem um significado e nós temos um significado dentro dele. Logo, a nossa missão é não desmoralizar nem desistir da rectidão ou dos valores justos. Fará a diferença. 

E, quando faltar o ânimo para tal, é ler alguns livros que tanto alento dão a quem precisa. Este que citei, por exemplo, deu-me um alento e uma determinação novos. O livro do mundo está nas nossas mãos, escrevâmo-lo como deve ser. Coragem, amigos!

Tomás Vicente (ex-aluno)

23/07/13

"Eu não estou de Acordo" - 2


III

Eu de fato

De facto, 
a camisa vai mesmo bem
com este fato,
que é óptimo.

(Se fosse ótimo
faltava-lhe ali qualquer coisa
...era só bom)


IV

O Senhor Professor

Eu já não digo 
que ainda fosse 
do tempo do Mestre-escola,
da tabuada
e caderno de duas linhas 
enfiados na sacola.

Por mim estava bem 
O Senhor Professor,
que lá recebia a cesta
com uma galinha gorda
no fim do ano
(e ovos amarelinhos,
embrulhados em branco pano).

Agora, professor?
Só?
Assim?
Mas professor, tem algum jeito?

É mas é falta de respeito!

Prof. Joaquim Marques

21/07/13

Residuais do Blogue "Palavras à Solta" - 3

Ragnarók - O Dia do Fim 

Do alto Salão dos Caídos,
Olhava o Rei dos deuses,
Para as verdes terras
Aos seus pés plantadas.
Felizes os que as habitavam
Por não saberem o que os esperava!

Mas ao Pai dos deuses
Tudo era dado a conhecer –
- Menos os segredos do Universo,
Que só a primeira das rainhas conhecia.

No horizonte,
Negra nuvem se erguia,
Agourenta.

Então,
O Zarolho soube
Que o início do fim
Para Ǻsgard caminhava.

O Traidor vingar-se-ia,
O Lobo as suas cordas iria romper
E a Senhora dos Mortos abandonar,
Para sempre,
O seu reino de sombras e medo.

Das trevas,
Que com eles caminhavam,
O seu número fariam,
Da maldade
Sua vantagem.
E as hordas dos Renegados
Cavalgariam confiantes.

Mas o Pai dos deuses,
O Senhor de Valhalla,
Uma vantagem teria:
Os demónios iriam voltar,
Mas quanto tempo
Iria esse pesadelo durar?
Os deuses sabiam.
Quem mais saberia?

Então,
O Pai dos deuses
As rédeas de Sleiphnir tomou:
A Batalha ia começar
E Ódin, o Zarolho,
O do Cavalo-das-Oito-Patas
Com o seu exército iria cavalgar –
- Para a morte.

Mani, a prateada
Sucumbiu,
A velha Jörmungandr também,
Com ela levando
O Homem do Martelo.

Yggdrasil as folhas perdeu
E em fogo e gelo o mundo pereceu.
As trevas haviam voltado!

E foi assim
Que os deuses morreram,
Os demónios desapareceram,
E a luz
Do firmamento se apagou
E só o Inferno ficou

O Universo,
Tornado um Niflheim
De gelo incandescente,
Tinha de esperar,
Em agonia,
Por uma nova Primavera!
Rodrigo Gonçalves (ex-aluno)

19/07/13

Opiniões Cinéfilas - "O Reino de Fogo"


A sétima arte, a última a surgir, é agora, no entanto, aquela que mais cativa as camadas mais novas da população. Assim sendo, numa tentativa de aproximar as letras e o cinema (que são indissociáveis, ainda que muita gente se esqueça disso!), passar-se-á a publicar, neste blogue, uma série de críticas criativas (espera-se!) a alguns filmes que forem sendo visualizados pelos colaboradores deste blogue...estejam atentos às novidades!

A primeira desta - assim o desejamos - longa série de "crónicas cinéfilas", que apresentamos em baixo, debruça-se sobre o filme (pouco conhecido) O Reino de Fogo, lançado em 2002 e realizado por Rob Bowman.


Um Reino de Fogo...e Muito Mais!



O que me chamou à atenção n' O Reino de Fogo foi, mais que o seu elemento de fantasia tradicional conjugado com ficção futurista, a sua profunda e extremamente intrincada trama emocional. Tendo como pano de fundo uma Europa irreconhecível e destruída pelas chamas, onde a espécie humana se encontra em declínio e em número insuficiente para fazer face à tremenda invasão de dragões ferozes e sedentos de sangue, é possível reconhecer-se neste filme também o valor e a força das ligações emocionais entre o elemento humano do filme: a amizade, a honradez, a devoção abnegada e, num momento mais avançado, o romance tecem uma miríade de intrincadas linhas de força que determinam a evolução da acção, desde o princípio negro e desolador ao fim apoteótico.

A história tem início numa das antigas fortalezas onde se reuniu um grupo de sobreviventes, sob o comando do enérgico (mas cauteloso) Quinn, que tem a seu cargo uma já numeroso grupo de homens, mulheres  e crianças, a quem se devota totalmente e que considera serem a sua família.

Tudo muda quando chega ao castelo um grupo de mercenários que tem com chefe um temível homem marcado por muitas batalhas que tomou por missão destruir os dragões e procura recrutas. Não pretendo contar o filme todo, digo apenas que depois de muitos choques de vontades, muitas perdas e muitos percalços, Quinn, que não queria pôr ninguém da sua "família" em perigo, acaba por embarcar ele próprio numa aventura que alterará o curso dos acontecimentos futuros.

Aconselho vivamente o visionamento deste filme pois, afinal, "o reino" não é apenas de fogo...ou, pelo menos, não o é apenas de fogo maléfico, uma vez que fogos há muitos, alguns não são visíveis (lembremos Camões!) e, mesmo assim, queimam mais! Vede e saboreai!

Tomás Vicente (ex-aluno)

17/07/13

"Eu não estou de Acordo!" - 1

I

Mini-saia

Como eu gosto 
de te ver de mini-saia
esvoaçante;
o tracinho ao meio
é cinto que adelgaça.

Já da tu minissaia não gosto!
É muito comprida,
não esvoaça. 



II

Quero férias em Agosto

Dantes,
férias, era em Agosto.
Mês grande, 
mês de sol
e de mar posto.

Agosto tinha dias
que pareciam 
mais de 100.

Chegava Setembro
e nós dizíamos: 
- Hum, que boas estas férias,
souberam tão bem!

Agora querem agosto
a começar com um àzinho
no dia 1.

Fica agosto, 
um mês pequeno.
Tão pequenino
que se vai logo a 31.

Prof. Joaquim Marques

08/07/13

Residuais do Blogue "Palavras à Solta" - 2


I
Gratidão

Aqui estou eu,
De caneta na em riste,
A tentar com o papel
E a chama da imaginação
Desatar da gratidão o nó no cordel
Que, por teimosia da mão
Não se decide nem desata
Para esta suave e branca imensidão
Tingir de hábil tinta mulata.

Mas eis que, de algum lado, chega
Aquele sopro no qual o poeta se apoia
E  posso, enfim, o meu nó usar
Para dizer o que me vai no coração.
Assim – inspiração de um momento! –
Deixo aqui poema e sentimento
Para expressar a minha gratidão!
 Rodrigo Gonçalves (ex-aluno)

II
Lamento!

Lamento tudo e nada.
Lamento o tudo por ser tudo
E o nada por nada ser.
Lamento o meio por não existir,
Lamento a falta que me faz
Um pouco de tudo e de nada,
Mistura ideal que me está vedada.

Lamento o tempo por passar
Por mim correndo aos saltinhos,
Por se não deixar agarrar
E por isso em bocadinhos
As minhas esperanças desfazer,
O tempo tudo é!

Lamento o tudo e o nada
E a passagem do tempo
E o dia que se foi
E o dia que se está a ir
E o dia que se irá!

Lamento o tempo,
Que tudo é,
E a sua passagem
Porque me traz o nada.


III
Tempo, o Carcereiro

Coisa estranha, não será,
Que o tempo, o dolente tempo,
Faça, à passagem, prisioneiras?
Mas – assombro! – leva consigo
Todas as coisas verdadeiras,
O mundo onde vivo;
E, diante de mim,
Apaga o caminho que ainda sigo.

Ó tempo, impiedoso és,
Por não te contentares
Em levar, para teu prazer,
As coisas derradeiras,
Rios, lagos, cabeços e pomares,
Quando delas fica o mundo vazio;
Levas-nos ainda o ano velho e sábio,
Deixando para trás o novo em desafio.

E, porque isto não te chega,
Voltas e levas o formoso Estio,
Atrás do qual fica o Inverno frio;

Mas cruel é a vida e tu guloso:
Despidos de todos os adornos,
Parcos na posse de outras belezas
Nos encontras, mas ainda mais riquezas
Nos tiras, pois cativas
Levas as nossas memórias vivas.
 Gabriel Silva (ex-aluno)




01/07/13

Artigo de Santana Castilho sobre a Educação em Portugal

Uma pérola já velhota, mas uma pérola ainda assim. Ler +

A Noite - um poema de amor

A janela aberta para a lua
Recebe, indulgente, a fluida prata derretida,
Sobre os pinheiros docemente vertida,
Detentora de uma cintilante beleza só sua,
Tímida magia, verde e prateada, pura.
Infiltra-se no quarto cansado,
Anunciando o regresso desejado
Daquela que da lua segura
O braço firme e sedoso do encanto,
Tão tocante na sua doçura de mel
Que até Natura tomada é de alegre pranto.
Logo, para meu maravilhado espanto,
Entra a nocturna brisa suave,
Que dança no quarto como no céu ave;
No ar navegam folhas forasteiras
Que, revolteando na minha clareira,
Desenham no ar um sublime rosto belo
Ornado pelo longo e luzidio cabelo;
Afasta-se, depois, essa fulgurante cortina,
Ondulante como a erva alta ao vento,
E revelada é a esguia forma corporal,
No meu dormente mundo sem igual,
De uma bela dríade, de contentamento
Rindo formosamente ao luar,
Para dela loucamente se enamorar
O meu coração, em alegre esquecimento.

A miragem aproximou-se, meiga, assim,
Murmurando encantamentos sem fim;
Doce me estendeu a mão de seda,
Cuidando, talvez, que não mais queda
A deixasse permanecer, longe do coração.
Definitivamente rendido a ela fiquei então,
Como se houvéssemos travado fera luta
E na derrota total se alegrasse o vencido,
Pois ela entoou um cântico maravilhoso
Cujos acordes encantados no ouvido saudoso
Permanecerão até á hora, derradeira, da morte,
Que ao longe vislumbro nesta voz de vidente,
Como brilhantes águas resplandecente;
Mas me não apoquente esse fim ou sorte
A quem tal ouviu, pois mais forte
Que os destinos do mundo fremente
Se julga quem agraciado é com o dom
De ouvir da sua cristalina voz o som.
Ai de mim, que, cego às maravilhas de Flora
Inflamadas no canto da minha ave canora,
Magnífica e cegamente subjugado
De quem cuida do florestal gado.

Findo o excelso canto florestal
Daquela bela voz pura, virginal,
A dríade dançante inclinou os cabelos
Lisos, macios, perfumados e belos,
Onde cheirei o odor da minha vida
E da longeva felicidade prometida.
Então ela, que tinha o meu destino feito,
Estirou-se a meu lado no leito
E eu, fraco e sujeito a fadigas e medos,
Eu, o mais ínfimo dos homens mortais,
Deixei-nos ficar sublimemente quedos,
Os destinos para sempre entrelaçados,
E firmemente no âmago da noite abraçados,
Até o sol cruel tristemente me despertar
E o meu sonho apaixonado acabar.

Sem palavras proferidas conversei
Com a Donzela da Noite nesse curto momento,
Tão pequeno para tão pleno sentimento.
Dela chamamentos sem fim ouvi;
Dela a voz dos regatos, emocionado, escutei,
Da erva verde nos prados os estremecimentos senti;
Dela os mil nomes dos ventos conheci
E respirei das árvores os batimentos vitais,
Cálidos e carinhosos sussurros vegetais;
Sempre desde então o reencontro desejei.
Por uma efémera e doce noite paixão
Ardente senti, pela dríade, minha amante
E agora, para toda a minha vida,
Amo a transcendente Natura vibrante.

Tomás Vicente (ex-aluno)













Residuais do Blogue "Palavras à Solta" - 1

Passaremos agora a publicar alguns dos poemas que apareceram no blogue criado por um ex-aluno desta escola. O "Palavras à Solta na Net" esteve em funcionamento entre Setembro de 2011 e Fevereiro passado, tendo, no entanto, estado estagnado desde Outubro de 2012. 

A Canção de Morrigan

Cruel batalha se trava,
Num qualquer dia esquecido,
Entre os contrafortes duma distante montanha.

Eis, então, que um homem golpeado
Sem esperança de salvação
Ouve uma bela canção -
- Se canção chamar se pode
A lamento que de belo e medonho,
Traz terror e a desesperança distribui.

Era bela como a água
De um rio ondulante
Que na foz o mar encontra,
Depois de cantando descer das montanhas;
Era lenta como dum herói a marcha fúnebre.
Suave como canção de embalar
Tão chorosa e desesperante
Que ouvidos não há no mundo
Que tal som possam escutar.
Era belamente horrível,
Era a canção da Deusa-Corvo temível,
Era a canção de Morrigan,
Que isto reza:

» Vem, meu guerreiro, vem,
Vem até mim, que estou tão próxima;
Vem, que quebrada está a maldição da vida,
Vem, que no mundo dos vivos nada te retém,
Vem e traz outros também.

Desiste de lutar, que sou das guerras o único senhor
E contra mim não podes vencer,
Nunca me conseguirás combater.
Vem a mim, e pela tua vida não dês penhor.

Até mim, sem mando meu, não podes vir
E também de mim não podes fugir;
Vem guerreiro amaldiçoado,
Que a tua maldição quebrarei
Assim como a tua vida verguei;
Vem, deixa-me nos braços te levar.
  
Eu sou da Chacina o instrumento,
Da Morte sou o cérebro,
Vem, deixa-me lavar o teu corpo,
Pois sou eu do Vau a Lavadeira.
Como tu já lavei muitos outros,
Nas frias águas de gélido rio,

Sou o Corvo da Batalha,
Que tece os caminhos da sua presa
E decide a sua sorte.
Vem, meu guerreiro,
Que já decidi a tua morte. «

Pois que estas e outras coisas
Continuava ouvindo o homem moribundo,
Remeteu os olhos ao céu e lá,
Na alva brancura das alturas,
Viu de enorme porte um corvo altivo.

Soube, enfim, que era chegada a sua hora,
Rendeu-se e nos braços da Morte foi levado,
Pois a Mulher-Corvo das Batalhas
A sua vida tinha feito em migalhas.

E quando o solo tocou, sem vida,
Continuava a sua alma perdida
No outro mundo, ouvindo o horrível lamento
Com que Morrigan chama
Os guerreiros para a eterna cama...
Tomás Vicente (ex-aluno)



Maravilhas da Natureza - 1