Transcrevemos abaixo partes do texto que a
professora Clotilde preparou como orientação para o encontro com os seus antigos alunos do 8º2ª
e do 7º3ª!!!!!
"Inicio
este momento agradecendo a todos os meus alunos por estarem hoje aqui, quero
agradecer aos professores que prescindiram de dar as suas aulas para virem
acompanhar os meninos e as meninas, quero agradecer ao professor Nelson que, em
prejuízo do seu tempo de lazer e de descanso, decidiu também estar aqui.
Quero
agradecer sinceramente à professora Filipa, responsável por este espaço onde
nos encontramos hoje, por ter concordado e condescendido com o que o aluno
Tomás Vicente lhe propôs, e que está a ser concretizado aqui e agora.
Este lugar,
esta Biblioteca Escolar, aliás como qualquer outra Biblioteca, é um espaço de
cultura, de reflexão, de trabalho, mas a verdade é que deve ser entendido
também como um espaço de prazer, de deleite, de alegria e cabe a cada um de nós
saber tirar o maior e o melhor partido.
Imaginem,
meus queridos alunos, a vossa satisfação quando, após investigação morosa e
exaustiva (feita aqui neste lugar) para a concretização de um trabalho de grupo
(ou não), o professor, que vos incumbiu dessa tarefa, vos informa que obtiveram
nesse trabalho a avaliação de Bom, de Muito Bom ou, melhor ainda, de Excelente!
Não sentirão, por ventura, alegria por terem dedicado, neste lugar, insisto,
algum tempo que vos conduziu a tal sucesso? Claro que sim e por isso é que eu
disse que uma Biblioteca é também um espaço de prazer, de alegria.
E
continuando com os meus agradecimentos, quero ainda dar uma palavrinha de
reconhecimento às senhoras funcionárias da reprografia que tiveram um trabalho
enorme com todas as impressões que tiveram que fazer, mercê de todos os
trabalhos de escrita que os meus alunos produziram. (...)
Quero partilhar
este momento com todos os meus colegas professores desta escola que, de um modo
ou de outro, me ajudaram a concretizar alguns dos trabalhos hoje aqui expostos.
Gostava de
salientar o nome da professora Maria da Luz Moreira que no ano letivo de 2008/2009
lecionou nesta escola a disciplina de História (...)
Nesse ano
organizei o jornal de escola O Telhas, mas apenas no 3º. Período.
Vários fatores impediram que se tivesse trabalhado nos outros dois períodos
escolares. À semelhança de todos os outros trabalhos, esse jornal também está
aí em exposição. (...) teve como base de registo técnico um
programa cujo nome é Pagemaker e de que, sinceramente,
eu não percebia nada, patavina, aprendi depois um pouco, no entanto,
força das circunstâncias, penso que já me esqueci de como funciona. Foi a
Profª. Maria da Luz Moreira que preparou todo o esquema para que o jornal fosse
um sucesso, em termos de estética. (...)
Agora, para
terminar os agradecimentos, vou recorrer a um provérbio popular, e vocês sabem,
porque vos disse inúmeras vezes nas aulas, como eu gosto de usar os provérbios
para mostrar a voz da sensibilidade, mas também a voz da razão. Como «os
últimos são os primeiros», eu quero agradecer muito particularmente ao meu
querido aluno Tomás Vicente por ter feito com que este encontro fosse uma
realidade. Sei que organizou tudo isto de forma espontânea e muito carinhosa,
com prejuízo para o seu trabalho, com algum dano para o estudo das matérias
difíceis do 12º. Ano. No entanto, isso deixa-me muito, muito feliz. Mas
acreditem que quando ele me comunicou da sua vontade, eu dei-lhe conta da minha
preocupação, pois não queria de modo nenhum que ele saísse lesado com tanto
trabalho. Muito obrigada Tomás! O Tomás achou que, na área da escrita,
trabalhei muito com os alunos, que publicámos «umas coisas» em número muito
razoável, coisas essas que deviam ser relembradas à comunidade escolar. Mais
uma vez, muito obrigada Tomás. Ter-te como aluno foi um privilégio. Ter-te como
amigo é fabulástico!
(...) Acho
que vocês ficaram a pensar na palavra fabulástico, não foi?
FABULÁSTICO!
Não, não é propriamente um neologismo, porque de vez em quando ouve-se este
«palavrão». Como sabem, ele resulta da junção dos vocábulos: «fabuloso» e
«fantástico». Não fui verificar se este vocábulo já está inserido no
último Dicionário da Academia das Ciências, o que sei é que o PC sublinha-o a
vermelho…logo, ainda não é reconhecido como existindo oficialmente, mas
descansem que, ao passo a que as coisas andam, ele sê-lo-á, mais dia, menos dia.
Para os meus
meninos do 8º. Ano. Lembram-se de vos ter falado num escritor Moçambicano, Mia
Couto, que é célebre por ter criado muitos neologismos, nomeadamente numa
coletânea de contos com o título Histórias abensonhadas?
Hoje, aqui e
agora, é mesmo o momento de comemorar vitórias, recordando todas as
emoções que já vivemos, não acham?
Mas quem é
que vocês acham que é/foi a personagem principal para que possamos estar, hoje,
aqui reunidos a comemorar o resultado de todas essas produções escritas?
Exatamente, a personagem principal é/foi o coletivo designado por turma, e que
corresponde ao conjunto de alunos que, às vezes contrariados, é verdade,
produziu esses textos, e muitos são verdadeiras peças de arte. Até vos digo mais,
num ano em que lecionei numa escola aqui perto de nós, a Porto Editora, a meu
pedido, publicou na Net o «livrinho» que organizei nesse ano com os
alunos: O Diário de José Maria Camolas Bru de Tamontes. Foi
FABULÁSTICO!
(...) Então
digam-me lá, para cumprirem e ultrapassarem alguns desafios, neste caso
desafios da escrita, ou seja, produzir um texto a partir de uma informação, de
uma frase, de um desenho, como é que vocês poderão ter menos dificuldades, o
que é que vos pode ajudar a ultrapassar as dificuldades?
EXATAMENTE!
LENDO! Se vocês tiverem o hábito de ler, vão conseguir armazenar informação,
ter ideias, arranjar truques de escrita, por exemplo, recuar e avançar na
história sem prejuízo para o trabalho que estão a desenvolver. Antes pelo contrário,
vão enriquecer e muito, o vosso trabalho. É algo que se cultiva (...) O
nosso gosto pela leitura vai crescendo «au fur et à mesure»
da nossa vontade e interesse por essa mesma leitura. (...)
Há dias
estava a ver um programa de televisão, era um programa musical. O grupo
era Os Deolinda e o apresentador comunicou que eles iam cantar
o tema cujo título era Concordância. (...) A letra desta canção
trata de questões de gramática: análise sintática, classes de palavras… É uma
letra que revela, naturalmente,
conhecimento de algumas áreas da gramática da língua portuguesa mas revela
também muita imaginação.
Pesquisei na
NET e eis a letra que encontrei, está projetada
(....)*
Reparem na
graça e no consequente interesse desta canção. Não acham que a letra (...)
proporciona uma boa maneira de se aprender, por exemplo, as classes de palavras
e perceber a sintaxe (...)?
(...) Há uma área da cultura designada por
Cultura Clássica que refere, entre muitas outras coisas, claro, uns filósofos
que respondem pelo nome de Sofistas. Eles achavam que sabiam tudo, Mas havia
numa outra corrente (...) um senhor de nome Sócrates (...) dizia
«Só sei que nada sei»
Nos nossos dias, passados mais de dois
milénios, acho que não precisamos de ser tão modestos e (...) podemos admitir
que "sabemos alguma coisa". Afinal, não é muito difícil saber um
pouco e isso consegue-se através de quê, meninos? Claro, através da
leitura. Naturalmente, é necessário, e normal, que tenhamos dúvidas.
(...) E é a dúvida, não a certeza, que faz o conhecimento
progredir. O que é que nós fazemos quando temos dúvidas? Isso mesmo,
queremos esclarecê-las, não porque saibamos pouco, mas porque não temos a certeza
se o que sabemos corresponde à realidade.
Há uma frase célebre de Fernando Pessoa
que é retirada do poema INFANTE (primeiro verso, primeira
estrofe) que diz o seguinte:
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
O que é
que vocês acham que FERNANDO PESSOA quer dizer com isto? Ele
refere Deus, refere o homem, e refere a obra. Aqui verificamos que
Fernando Pessoa não se refere a nenhum homem em particular, mas sim à
HUMANIDADE! O poeta acha que desde que nós queiramos, conseguimos
tudo, tal como refere o provérbio: QUERER É PODER! Nada é impossível!
(...)
Apesar de
vocês perceberem que é necessário ler, ler, ler, alguns ainda dirão que ler é
uma grande seca! Não é? Olhem, tenho aqui um livro (...) Como um
romance. Lembram-se, eu ensinei-vos como devem tentar perceber o
conteúdo de um livro: através do título, das cores, dos desenhos da capa e
contracapa (...) Reparem no que diz a cinta que envolve este
livro: «Se quer que o seu filho leia, não deixe de ler este livro»
Na verdade,
a capa deste livro e as cores que a envolvem não favorecem muitas hipóteses de
descodificação para o conteúdo do mesmo, por isso eu vou ler-vos algumas
passagens, página 11: « O verbo ler não suporta o imperativo. É uma aversão que
compartilha com outros: o verbo «amar»… o verbo «sonhar»…
É evidente
que se pode sempre tentar. Vejamos: “Ama-me!”, “Sonha!”, “Lê!”, “Lê, já te
disse!”.
“–Vai para o
teu quarto e lê!”
-Resultado?
-Nada.»
E na página
13: «Esta aversão à leitura é ainda mais inconcebível, se pertencemos a uma
geração, a uma época, a um meio, a uma família em que a tendência era
exatamente para nos impedir que lêssemos.
-Pára de
ler, vais estragar os olhos! – Vai lá para fora brincar, está um dia
lindo. /-Apaga a luz ! Já é tarde!»
(...) Como o
tempo já vai longo, e antes de terminar, quero dizer-vos que tenho aqui uma
surpresazinha. Cada um de vocês, cada aluno do 7º. e do 8º. Ano, vai tirar um
papelinho destes sacos. Haverá apenas um papelinho premiado: será um livro, mas
…para os vossos pais. É um livro muito interessante. Vão ver.
E termino
com uma frase de outro filosofo de nome Descartes, que dizia «penso, logo
existo». Este filosofo aconselhava duvidar ao menos uma vez na vida, para
nos desfazermos dos preconceitos que atrapalham o saber. Cada vez se estuda
mais e cada vez mais temos mais dúvidas e isso acontece porque somos humanos e
porque somos muito exigentes connosco próprios.
Assim,
parece óbvio que o caminho que devemos seguir é: o caminho da razão, da lógica.
É a razão que levanta as dúvidas que depois vão ser esclarecidas através da
leitura, através da experiência (tal como dizia Luís de Camões: relativamente à
sua sapiência: «saber de experiência feito»), permitindo aumentar o nosso
conhecimento."
Professora
Clotilde Mota
*Nota: Não
reproduzimos aqui o poema transcrito pela professora Clotilde porque o mesmo é
muito grande e já se encontra publicado no blogue (data: 7 de Maio de 2013, com
o título "Concordância"
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