"Penso que estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem."
José de Sousa Saramago foi o único escritor português a ganhar o Prémio Nobel da Literatura e a frase transcrita ilustra bem o merecimento e a qualidade do pensamento deste grande português, que faleceu a 18 de Junho de 2010, em Lanzarote. Esta frase, independentemente do sentido que o seu autor tivesse em mente, tem inúmeras aplicações, uma das quais diz respeito ao livro, que temos o ensejo de celebrar no contexto da passada Semana da Leitura e do Dia Internacional do Livro Infantil.
Pode parecer monocórdico o facto de este blog tantas vezes ter necessidade de se debruçar sobre temas relacionados com a biblioteca e o livro, mas, se virmos bem, tais temas têm, na actualidade, uma influência muito grande em todos os outros, uma vez que a palavra escrita é a base de tudo o que existe, é a certeza na presença de uma realidade, e tem sido menosprezada pelas sucessivas vagas de gerações mais novas, de há alguns anos para cá.
Diz-se que ler não está na moda, que ler é uma tarefa desinteressante, aborrecida e que há maneiras mais úteis de passar o tempo. No entanto, não se critica as Redes Sociais, nem os perigos a que a rede de informações a nível global expõe a população e assim por diante. E o pior de tudo é que aqueles que têm poder para contrariar a proliferação de tais ideias e mentalidades nada fazem para impedir o contágio desta "doença espiritual", escondendo-se, em vez disso, atrás de ocos sloganes que defendem a "evolução" por simples evolução, que consiste em corromper o que já está bem feito, o que não pode ser melhorado.
Esquecemo-nos ainda, com frequência, que antes de criticarmos temos de conhecer e de nos darmos ao trabalho de entender o verdadeiro alcance daquilo que nos propomos criticar, ou seja, esquecemos que nada se faz sem conhecimento. E os livros podem-nos proporcionar momentos espantosos de descoberta e deliciosas horas de sã divagação. Esquecemos que há um património que não é nosso para que possamos decidir sobre a sua sobrevivência e extinção; os livros são um desses monumentos, que não são nossos, não pertencem ao nosso tempo, pertencem a todos os tempos e a nossa missão é fazê-los perdurar.
Assim, ao querermos simplificar o que não tem simplificação possível porque não pode nem deve ter, ao deixarmos abundar defensores da digitalização e ao tentarmos boicotar a leitura, estamos simplesmente a cometer um crime para com as gerações vindouras, um crime que não tem perdão.
Como podemos, então, guiar-nos no meio deste turbilhão ideológico e combater um inimigo que vem ganhando terreno, a estupidez? O fio condutor é este que mencionei, defender o património que nos é "emprestado" temporariamente para que o possamos legar ao rendeiro seguinte em completa integridade.
Este princípio aparece, penso eu, como uma luz ao fundo de um túnel escuro. São os livros que nos iluminam o caminho, como um ideal em si próprios e uma filosofia de vida, dando-nos a luz necessária para atravessar o túnel, um túnel onde continuamente nos perdemos porque estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem.
Este princípio aparece, penso eu, como uma luz ao fundo de um túnel escuro. São os livros que nos iluminam o caminho, como um ideal em si próprios e uma filosofia de vida, dando-nos a luz necessária para atravessar o túnel, um túnel onde continuamente nos perdemos porque estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem.
Tomás Vicente (ex-aluno)
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