Curtas-metragens e outras coisas correlatas…
A
primeira coisa que tenho para dizer é uma confissão muito custosa de
pronunciar. Mas cá vai. No passado dia 28 de Janeiro, Dia da Escola, fui
convidado pela professora Helena Lopes para ir assistir à rodagem de um
conjunto de curtas-metragens baseadas no conto “Uma Esplanada à Beira-Mar”, de
Vergílio Ferreira, produto do trabalho de alunos de Artes realizado no ano
lectivo passado. Para minha eterna vergonha – e debatendo-me com a iminência de
ter de escrever uma notícia sobre as mesmas para o próximo número da Opsis -, fui convencido de que ia
apanhar (para usar a palavra corrente) “uma seca” de noventa minutos na
qualidade de espectador de um trabalho desengonçado de principiantes. A
concorrer para a minha presente auto-recriminação, além do facto inegável de o
trabalho rodado ser de muito boa qualidade atendendo o amadorismo que
necessariamente o caracterizou por serem os seus autores estudantes, a
constatação de que eu próprio já em muitas coisas fui principiante e sempre
toda a gente teve para comigo uma enorme delicadeza e paciência, de modo que
tal opinião pré-concebida fosse, à
partida, injusta da minha parte.
Na
verdade, as curtas-metragens afiguraram-se-me francamente boas. Não quero com
isto dizer que alguns dos actores não tenham soado, de quando em vez, a falsete
(erro, aliás, em que os actores portugueses em geral têm alguma tendência para
incorrer), não quero dizer que este ou aquele pormenor técnico - de que nem posso ter consciência total, porque
conhecimentos especializados de crítico cinematográfico é coisa que não tenho –
tenham estado ao nível de um Spielberg e outros da mesma craveira, mas isso
pouco importa, isso são tudo detalhes que vêm com o tempo, com a prática, com o
gradual processo evolutivo de tentativa-e-erro. O que me impressionou foi a
profundidade da análise de situações comuns na nossa sociedade, a inovação no
olhar sobre o enredo dos filmes, o particular prisma de observação e retratação
do real.
Dou,
por isso, os meus sinceros parabéns a todos os intervenientes do projecto, em
especial aos meus colegas/ex-colegas alunos que se esforçaram para levarem a
bom termo um tal projecto, às professoras sem cuja dedicação tal não seria
possível…enfim, o meu elogio às qualidades humanas pelas quais esta minha
antiga escola sempre prima, com uma excelência que, já não sendo inédita, é
sempre gratificante contemplar. Por fim, uma menção que não posso deixar de
fazer à função da nossa escola como veículo para despertar talentos,
potencialidades intrínsecas à diversidade humana que a constitui e lhe confere
a riqueza que inegavelmente possui. Lembrando que uma escola – qualquer escola
digna desse nome escrito em maiúsculas e
a nossa em especial – é um espaço onde crianças se tornam homens e mulheres,
onde se modelam os futuros cidadãos do nosso país, duma Europa de futuro
incógnito, de um mundo que se nos abre quando somos jovens e temos sonhos, não
é demais realçar o papel que cabe à criatividade individual e grupal e a
importância de que o despertar da mesma. Neste âmbito, exorto vivamente todos
os membros da nossa comunidade escolar a alimentarem os bons valores que sempre
aqui se têm passado porque, parecendo que não, estamos todos, no aqui e no
agora, a construir um futuro que nos transcende, responsabilidade essa que não
nos deixa margens para errarmos.
4 de Fevereiro de 2014
Tomás Vicente Ferreira
(Escrito de acordo com
a antiga ortografia)
[artigo escrito para o número 12 da revista Opsis]