28/02/14
14/02/14
11/02/14
01/02/14
Contos Contados 8: "A Morte Morreu de Medo"
A
Morte Morreu de Medo
Em
tempos, a Morte teve medo. Que coisa estranha, não é? E logo a Morte, conhecida
por estar acima desses padecimentos corriqueiros e convencida da sua imunidade
às sensações humanas! E, no entanto, ela, por ser de outra estirpe, não
conseguiu fazer como nós e transformar o medo em coragem. Ficou mesmo aflitinha,
coitada…Mas essa história nunca foi registada numa crónica, ao contrário do que
costuma acontecer com os grandes acontecimentos que vão tendo lugar ao longo do
tempo e, como aconteceu há muito, muito tempo, já só é recordada nuns versos
vagos e solitários…
Nos
tempos de antigamente
Andava a
Morte pelas aldeias
A coberto
do breu e sem candeias,
Tentando
cumprir a tarefa premente
Que era
deste levar ao Outro Mundo
Todos os
que coubessem
No seu
anafado saco sem fundo.
Certa
vez, na casa de uma feiticeira
Entrou a
Ceifeira imprudente.
A velha
que ia buscar
Sentada
estava numa cadeira,
A estudar
a sua bola de vidente,
Vendo de
outrem o destino,
Que,
fosse ou não acidental,
Certo
iria parar à sua bola de cristal.
«Tu, ò
velha feiticeira,
Já a este
Mundo não pertences.
Terás pois
de vir comigo, a bem,
E passar
mais além.»
«Terei,
bem o dizes,
De ir em
penosa viagem,
Uma
jornada sem paragem.
Mas coisa
alguma predizes
De que
não tenha eu já conhecimento.
Quanto a
mim, irei anunciar
Algo que
além está do teu pressentimento:
Revelar-te-ei
a tua sorte,
Que,
assim vi na bola intemporal,
Breve
encontrarás o teu próprio fim;
És ainda
insensível e forte,
Mas
convence-te de que abandonarás,
Um dia,
este mundo e este tempo,
Pois
também para ti um dia virá
Em que a
tua vida fenecerá.»
E, dito
isto e estando o assunto encerrado,
Levantou-se
a velha e saiu de casa,
Para
longe do calor da madeira em brasa,
Esperando
a meta derradeira.
Mas a
Morte, junto à lareira
Não teve
forças para partir;
Atónita
estava e aterrorizada
Pela
negra profecia escutada.
Nunca saberemos se foi o tema que acabou por
secar a inspiração deste poeta cujo nome ninguém vivo alguma vez ouviu ou se o
fim do poema se perdeu, com o tempo. No caso de ter sido esquecido o fim da
história, não temos culpas a atribuir - melhor fora, não podemos culpar o
Sr.Tempo! -, mas se foi o autor que se cansou do poema, fosse por ter outros
projectos ou por capricho da imaginação e da arte, teríamos motivos para o
censurar por, tão descortesmente, nos ter deixado suspensos no fio cortado da
imaginação e não nos ter contado o resto da história, não fosse dar-se o caso
de outro poeta, aproveitando a deixa, ter registado a conclusão deste espantoso
acontecimento perdido nos anos:
Longo
tempo assim ficou a Encapuzada,
Ali
permanecendo como que petrificada,
Até que
saiu a correr por montes e vales
E lá se
encontrou com a Sorte,
Que dos
caminhos do destino
Só tenta
fugir quem não tem tino.
Tomás Vicente (ex-aluno)
Subscrever:
Mensagens (Atom)