Série I (Março, 2010)
Olhos Verdes
Duros olhos verdes,
Glaciais vos tornais
Quando zangados estais,
Impiedoso é vosso olhar,
Difícil de suportar.
Vosso brilho frio
A minha fogueira arrefece,
Como um mar insensível
Que ninguém pode tocar.
Ó duros olhos verdes,
Não me olheis assim
Que não suporto o vosso olhar,
O vosso brilho de enfeitiçar
Que é como um mar
Que ninguém pode domar.
Olho Glacial ou Poema dos Olhos Azuis
Ó profundos olhos azuis,
Profundos como o mar,
Não são vocês eterna escuridão,
Antes são como a noite sem luz,
Uma porta fechada
Que abrir não se pode,
São como um livro aberto
Mas que ser lido não pode,
Pois escrito está em antiga língua
Que há muito desapareceu,
Um enigma que não se pode decifrar.
Ó profundos olhos azuis,
Azuis como o negrume do mar
Em dia de tempestade,
Quanta sabedoria de vós emana,
Ó olhos distantes e frios,
Olhos do velho glaciar,
Portadores da sabedoria do mundo,
Da noite e do dia,
Das trevas e da luz,
Do Sol e das Estrelas,
Das muitas luas que passaram,
Da escura noite sem luar.
Mas eis que na escuridão
Uma luz ao longe se acende,
Pois não são vocês só razão,
Ó olhos da noite brilhante,
Olhos da coruja andante,
Pois quanta paixão de vós transborda,
Ó olhos do gelo e do fogo,
Para inflamar este mundo errante
Com um lume azul que não se apague.
Segundo Poema dos Olhos Azuis
Ó meigos olhos azuis,
Da cor do céu de Verão,
Quanta luz espraiais
Por tudo o que com o olhar abarcais,
Quanta alegria irradiais
Quando para mim olhais,
Como o azul do infinito
Que me olha, penetrante!
Ó luz azul, branca, clara
Desejo que nunca te apagues!
Ilumina-me sempre
E para mim nunca a noite nascerá!
Do vosso olhar nada posso ocultar,
Pois sou como um livro aberto
À espera de ser lido,
Um livro cujas histórias
À vossa frente desfilam livremente.
Ó gentis olhos,
Mais claros que as alturas,
Olhos que o meu olhar sabem ler,
Sincera é a vossa chama,
A luz da amizade,
Que é como um porto seguro
Para navio tresmalhado.
Ó olhos azuis,
Da cor do céu e das nuvens
Brilhai, brilhai para mim!
Ó meigos olhos claros
Tendes o dom do brilho perene.
Ó olhos amigos
Vosso brilho não esquecerei!
Segundo Poema dos Olhos Verdes
No outro dia,
Já lá vai quase um mesito,
De surpresa fui apanhado
Por um olhar verde-claro.
Ou seria ele castanho esverdeado?
Não sei dizer,
Só sei que gostei do que vi –
- E mais ainda do que senti,
Pois esse olhar logo reconheci,
Ainda que durante longo tempo
Tenha sido para mim
Um distante eco amigo.
Meu coração
Do sítio quis sair
E logo dentro de mim
Bem alto e aos pulos se pôs a rir.
Ó verde olhar
- Ou seria castanho esverdeado? –
Para ti segredos não tenho,
Por isso te digo:
Pouca gente me olhou
Com olhar tão amigo!
Poema dos Olhos Cinzentos
Sois de vários tipos e feitios,
Ó sábios olhos cinzentos,
Sábios como o tempo,
Sábios como o mocho da floresta.
Já vos vi frios,
Gelados para o Mundo,
Bem fundo tentando esconder
O segredo do vosso fogo.
Pergunto-vos eu:
Como fostes em jovens,
Num tempo há muito ido,
Num tempo em que o lume não se esconde?
Isto é o que penso:
Ardíeis, como todos,
Com o calor do coração.
Poema dos Olhos Castanhos
Ó olhos,
Como eu vos vi!,
Castanhos de várias cores,
Grande é o vosso número,
Sois como um império imenso
Em inúmeras províncias dividido.
Castanhos cor de mel,
Doces são as impressões,
Doces como o mel,
Em mim causadas por tão bondoso olhar.
Castanhos pardos,
Para vós não quero olhar,
Nem ver a escuridão
Aonde levais a vida a rumar!
Castanhos-escuros,
Castanhos cor da madeira,
Força é vosso olhar
Para quem força não tem.
Castanhos cor de avelã,
Para vós não posso olhar
Sem começar a chorar!
Poema dos Olhos Castanhos Quase Pretos
Ó olhos do enigma e do sonho,
Escuros são os olhos de tal cor,
Da cor da noite,
Mas de uma noite sem luz,
Sem luar da lua prateada
Que banha em águas belas e calmas
Quem passa os dias a navegar
Nesse mar infinito a que chamo imaginação
Num barco audaz que ao leme leva o sonho.
Ó olhos da estrelada noite sem lua,
Olhai para mim,
Que não sois da cor de negrume.
Sois da cor do céu adormecido,
Da cor da constelação
Por leve manta tapada.
Da cor da floresta ensonada.
Distantes andais muitas vezes,
Fugindo do mundo real,
E sei eu lá em que terras caminhais,
Em que mares por lá navegais.
Não sei que sonho vos inunda
E que nunca vos afunda!
Ó olhos negros,
Dessa cor misteriosa,
Da cor da floresta que já dorme,
Olhai para mim,
Deixai-me ver que sonho sonhais!
Último Poema Sobre a Cor dos Olhos
Falei pois aqui
Das cores dos olhos que há no mundo,
Contei tudo igual ao que vi.
Vi outras cores:
Amarelo, vermelho e outras que tais.
Ma essas cores são as cores do veneno e do ódio
Por isso essas aqui não achais.
Pois não farei eu poema sobre o Mal,
O Mal como o Homem o fez,
Esse óbvio mal
Que os olhos transforma em metal
E em malévola fogueira os aquece
E torna em vermelho brutal.
Sobre tal cor não escreverei eu!
Série II (Março, 2011)
I.
Leio
páginas e páginas,
Histórias
inteiras;
Algumas
são ricas e emocionantes,
Outras
nada têm que interesse
Desperte
em olhar penetrante;
Outras
têm nelas a essência de tudo,
Parecem
o espelho do mundo;
Umas
expressão amor, outras amizade;
Outras
a sinceridade, compaixão;
Há
ainda as bondosas, benevolentes
Em
calmo e reconfortante reconhecimento;
Algumas
passam-nos a raio X,
Perscrutam
o fundo do nosso coração,
Expondo
o nosso íntimo,
Que
à sua inspecção oferecemos;
Outras
ódio e antipatia,
Outras
a simpatia cálida e cautelosa
Do
primeiro encontro,
Do
primeiro vislumbre de outra alma.
Eu
leio muitas páginas,
Fogosas
páginas de vida,
Eternas
páginas de história,
Que
vêem o mundo
De
um ângulo de todos diferente,
Com
os olhos de um interior vidente;
Eu
leio, leio…tenho o prazer de reler;
Eu
leio muito, mas não são livros:
Leio
antes olhos.
II
Ontem
li uma história suave,
De
serenos sobressaltos alegres,
De
melodias calmas e reconfortantes,
De
aromas doces e sonhadores,
Encerrada
nuns olhos
Que
tinham a cor da avelã…
Ou
seria e cor o castanho limpo?
Não
sei, nunca saberei,
Pois,
para mim, tinham a cor da honestidade.
Avisaram-se
cautelosamente,
Mostrando,
no entanto, a alegria
Infantil
e sã da ingénua
Pureza
de espírito.
Eram
cuidadosos e atentos,
Receando
expor o interior da alma,
Mas
tentando a todo o custo eliminar
A
hostilidade da estranheza,
O
frio do primeiro avistamento,
Frieza
essa de que não tinham nem o rescaldo,
Por
havia algo por detrás que luzia
Com
um brilho revelador
Da
verdadeira natureza de uma alma bondosa.
Fingimentos
para quê?
Não
me adianta esconder
Que
fiquei admirado por descobrir
Tal
reduto da genuína gentileza,
Onde,
tentando parecer forte
Contra
os perigos do mundo,
A
doce e gentil alma se refugia,
Sem
conseguir, no entanto
Esconder
o coração
Que
pulsa por debaixo,
Nos
confins do olhar que a espelha.
Enleado
fiquei naquele poço de esquecimento,
Que
era a confiança segura na constância
E
qualidades de quem
O
olhar me deu para ler.
E
fui tudo ontem,
Mas
parece ter sido há cem anos.
E
não terá sido mesmo assim?
Não
será este um dos instantes
Que,
a despeito dos anos
Ficam
vidrados no tempo?
T.F.